A gaguez de Joacine e a igualdade que defende


 O Parlamento é o local de excelência da oratória, embora por vezes muito fraca, e um gago dificilmente consegue passar a sua mensagem. Irá a Assembleia da República assistir sistematicamente a um “filme” confrangedor? 


O presidente da Assembleia da República já admitiu que o Parlamento terá de ter tolerância com o tempo de Joacine Katar Moreira, atendendo à sua gaguez. A medida, como é óbvio, é louvável, mas não resolve nenhum problema. A deputada, como se tem visto, enerva-se mais do que o habitual e não consegue, de maneira alguma, passar a sua mensagem. Tanto assim é que o Livre, o partido que representa, se sentiu na necessidade de enviar para as redações a intervenção de Joacine. O Parlamento é o local de excelência da oratória, embora por vezes muito fraca, e um gago dificilmente consegue passar a sua mensagem. Irá a Assembleia da República assistir sistematicamente a um “filme” confrangedor? Não sei se legalmente será possível pôr outra pessoa do partido a ler os discursos da deputada, mas fazia todo o sentido pois, dessa forma, todos perceberão a mensagem. Mensagem essa, diga-se, que deixa muito a desejar no que à democracia diz respeito. Numa entrevista ao Público, a deputada defende que sem “igualdade não há liberdade”. Não sei se foi buscar essa máxima à revolução socialista, mas calculo que sim. Uma sociedade sem classes, em que os dirigentes do povo ditariam a sua vontade. Olhando para a História, que o Livre tanto quer reescrever, bem podem começar pelo comunismo, um dos sistemas que mais defendeu a igualdade e que acabou na matança de milhões de pessoas, como muito bem reconheceu o Parlamento Europeu, que o equiparou ao nazismo e ao fascismo. Joacine pode defender o que muito bem entende porque vivemos em democracia, mas o seu discurso revela bem a sociedade que defende.

P. S. Num notável artigo no Público, António Barreto escreveu: “Aqueles que, hoje, em Portugal e no mundo, lutam para culpar os homens, os brancos, os adultos, os ocidentais, os cristãos, os ricos, os heterossexuais, os democratas, os capitalistas e os militares estão evidentemente a tentar criar uma ortodoxia, uma cultura dominante e, sobretudo, a construir um ‘credo’ que permite condenar e proibir, assim como limitar a liberdade de expressão”. Não posso estar mais de acordo.