Coimbra, Vacas e Gretas


Sejamos honestos: todos falamos de ambiente e criticamos o outro, mas nenhum de nós abdica facilmente disto ou daquilo mesmo que sendo pior para o ambiente seja, no entanto, melhor para o nosso quotidiano.


Portugueses, o fim está próximo. Chegou a nossa hora, não escaparemos. Nada será como antes. Por isso, enaltecendo os mártires da nossa História, buscando a força de conquistas passadas e marchando contra o fim da nossa era, unamos forças na derradeira batalha dos nossos tempos, contra o maior e mais mortífero de todos os inimigos: a vaca!

Ridículo o que escrevi? É. Mas está ao nível deste histerismo em torno das questões ambientais, do palco que se dá a uma catraia de 16 anos que nada sabendo da vida quer ensinar a outros como governar e de uma instituição que sendo uma academia do saber, toma uma decisão em tudo oca de conhecimento científico. Primeira consideração para não haver Trumpismos: as alterações climáticas são reais e devem ser combatidas. No entanto, isto do ambientalismo, tal como está a ser conduzido, não é mais que uma moda que não nos leva a lado nenhum, politicamente apenas servindo para distrair as populações da discussão de outros problemas, entretendo-as com o fantasma do apocalipse e da extinção imediata. Para piorar, ainda me aparece agora uma catraia de 16 anos, catapultada a estrela mundial da matéria, com uma postura em minha opinião ridícula e inadmissível, achando que descobriu a pólvora e que vai ensinar a quem tem o triplo da sua idade o que é a vida. Sustento com declarações suas para ninguém dizer que estou a embirrar com a miúda. Disse a mesma e, cito: “Como é que se atreveram? Vocês roubaram-me os sonhos e a infância com as vossas palavras vazias”; “Vocês deixaram-nos cair. Mas os jovens começam a compreender a vossa traição”; e “Se vocês decidiram deixar-nos cair, eu digo-vos: nós nunca vos iremos perdoar. E não deixaremos que vocês se vão embora assim”.

Ora que diabo, o que apetece dizer perante isto é: Oh rapariga, vai-te lá acabar de criar e depois logo falamos. Os jovens podem manifestar-se activamente pelas suas causas. Podem e, sobretudo, devem fazê-lo. É um imperativo de vida. Mas tendo esse direito, têm o dever de o exercer com correcção, educação, percebendo o seu lugar e não em afronta, acusação ou ameaça como aqui aconteceu. Tal só demonstra a inversão completa dos valores da sociedade. O ridículo chega ao ponto de, segundo recentes notícias, esta tal Greta e mais 15 putos entre os 8 e os 17 anos irem alegadamente processar Alemanha, França, Argentina, Brasil e Turquia pela sua suposta inação às alterações climáticas. Surreal! Se os líderes mundiais fossem assim tão maus nem permitiam sequer que a rapariga lá fosse. Se nos quisessem deixar cair, já o tinham feito. Mas nada muda de repente. Salvar o ambiente seria “fácil”. Era acabar com automóveis, aviões, fábricas, televisões, telemóveis, computadores, roupas, calçado, comida, casas, tudo. Tal não é possível. Pior, o que esta criança não percebe é que o ponto a que o mundo chegou deve-se também à tentativa dos que vieram antes de si, quererem melhorar a sua vida mas também a dela. Houve erros? Imensos. Mas mal sabe ela que um dia alguém a criticará pelos seus, que podem ser bem piores que os que ela hoje critica. Repararam que a menina discursou algumas vezes de papel na mão? Morreu uma árvore para lhe dar a folha. Repararam que a sua trança surge presa com um elástico? As fábricas de elásticos poluem. E os microfones para onde fala, não são compostos de matérias altamente poluentes? Vamos acabar com folhas, elásticos e microfones? Sejamos honestos: todos falamos de ambiente e criticamos o outro, mas se pararmos para pensar, nenhum de nós abdica facilmente disto ou daquilo mesmo que sendo pior para o ambiente, seja no entanto melhor para o nosso quotidiano. Novos e velhos! Todos! O caminho é por isso estreito e deve ser trilhado com cuidado para não cairmos nas gretas da incoerência. Finalmente, Coimbra. Em 1834 D. Maria II promulgou a lei do banimento a D. Miguel e descendentes. Em 2019 surge agora o manifesto ao banimento da carne de vaca pela Universidade de Coimbra. Quero dizer que para mim, esta instituição é a todos os níveis um santuário. Quem nunca nem por visita lá foi, deve ir. É lindo! Algo que não se explica. Sente-se! É por isso triste assistir a algo tão ridículo como a proibição do consumo de carne de vaca das suas cantinas. Primeiro porque há alunos que, infelizmente, a única vez que comeriam carne de vaca seria na cantina. Só não sabe a difícil realidade de muitos universitários quem nunca o foi. Depois, porque as academias devem ser pela pluralidade, nunca pelo contrário. E, sobretudo, porque devem assentar as suas posições nas fundadas e sólidas conclusões dos estudos que as sustentem. Não é verdade que seja a vaca o maior agente poluente do mundo. Não haveria muitas outras formas de, a querer fazê-lo, dar o exemplo?

 

Escreve à sexta-feira