O PAN-rico e a fábula da rã que parece o CDS de hoje


Tal como a rã da fábula de La Fontaine, certos partidos crescem até rebentarem. Entretanto, temos entre nós um TANCOSGATE explosivo. É elefante no meio da sala.


1. Na sua fábula da rã e do boi, Jean de La Fontaine conta que o batráquio achou que podia crescer até ao tamanho do imponente ruminante. Inchou, inchou e…inevitavelmente rebentou. A coisa acontece nas fábulas onde os animais assumem comportamentos humanos.

Entre nós, há quem esteja a inchar sistemática e desmedidamente. É o caso do PAN. Está um Pan-Rico, tem boa imagem de marca e o futuro promete…Claro que aqui e ali já teve umas dores de crescimento reveladoras, como a gerada por aquela dirigente que, a propósito dos alegados maus-tratos a um equídeo, desatou a dizer mal dos ciganos, a um ponto que nem a Dra. Bonifácio subscreveria do alto da sua sapiência catedrática.

O PAN está a fazer crescer o seu pecúlio. Tem boas ideias. É fofinho porque gosta de animais e tem uma poderosa agenda escondida que é tão ideológica como a do Bloco de Esquerda. Parte significativa dos eleitores alimenta alegremente o fenómeno. Curiosamente, as sondagens não indicam que seja aos bloquistas que o PAN come eleitorado. É mais, veja-se com pasmo, ao CDS de Assunção Cristas.

Os “panistas” deveriam, no entanto, abeirar-se do CDS para pedir conselho sobre o crescimento e os riscos de rebentar. É que, depois dos números fabulosos obtidos nas eleições autárquicas em Lisboa, Assunção Cristas deslumbrou-se e achou que podia inchar até ao tamanho do PS e do PSD, ao ponto de aspirar a ser primeira-ministra.

Só que nas europeias rebentou como a rã do genial La Fontaine. Desde aí o CDS anda a voar baixinho em termos de sondagens. As previsões são uma desgraça e, horror dos horrores, é o próprio PAN que ameaça dos centristas. Ainda por cima, crescem os que detestam touradas à conta dos que as defendem. Já ninguém percebe o que se passa com esta transumância eleitoral. Qualquer dia, para que a política bata certo, vai ter mesmo que se mudar o povo que só complica o sistema.

Em Portugal já houve muitas rãs e até tivemos um Tino que chegou a inchar bastante. Só que, sabichão, soube transformar a vaidade em prudência e virou um político mais ou menos normal, que ora sobe, ora desce, ora aparece, ora desaparece. Não se deslumbrou e anda ao nível das freguesias, o que só lhe ficou bem.

Há, porém, memória de outros casos que mais pareceram um fogo-fátuo. No PSD houve uns inadiáveis. No PS houve os UEDS e os ex-secretariado. Mas houve, sobretudo um monumental PRD que inchou até 18% dos eleitores, implodindo nas eleições seguintes quando os “zés” viram que vendiam gato por lebre.

La Fontaine é eterno. Podem mudar as vontades coletivas. Podem mudar as realidades circundantes. Podem mudar as doutrinas e as modas, mas, a natureza humana, essa, não muda. O PAN-Rico de hoje, pode ser uma migalha amanhã. Tal como uma promitente primeira-ministra pode desaparecer, como uma estrela cadente numa noite escura. Os vencedores de hoje são os derrotados de amanhã. Os ciclos da política mudam umas vezes de forma lenta, outras fulgurantemente. Em Portugal há uma tradição de voto que se fixa principalmente no PS e no PSD. No fundo isso traduz uma preocupação muito lusitana de não querer embarcar em aventuras políticas, preferindo o que já se conhece ou se vai conhecendo à novidade absoluta. Com a geringonça e a mudança para a esquerda do arco da governação, as coisas mudaram um pouco, mas não substancialmente. O facto é que, por mais voltas que se queira dar ao texto, só há duas hipóteses de nomes para primeiro-ministro, António Costa ou Rui Rio, um do PS e outro do PSD que continuam e continuarão por bastante tempo a ser dominantes e a serem eles que geram as alternativas a si próprios.

2. É muito grave a constituição como arguido do ex-ministro Azeredo Lopes a propósito do caso de Tancos, o qual está a evoluir para um verdadeiro tancosgate, à boa maneira dos escândalos americanos. É o chamado elefante no meio da sala. O roubo e achamento do material de Tancos começou como uma história que parecia saída de uma rábula cómica do Solnado. Caricata no seu início, tornou-se ridícula com o achamento do material roubado. Hoje, os seus contornos configuram um caso de regime que envolve generais, um ministro da Defesa Nacional e deixa campo aberto para se especular sobre a hipótese de haver mais quem soubesse de tudo o que se estava a passar. Acima do ministro da defesa há um primeiro-ministro. Ora, se António Costa tivesse sabido e a justiça o provasse, estaríamos perante um caso de gravidade inédita. Por outro lado, se António Costa não sabia, estaríamos, então, perante um chefe de governo absolutamente incompetente. Uma coisa é, entretanto, necessária ponderar: uma vez que o Presidente da República e comandante supremo das Forças Armadas nunca soube da tramoia da recuperação, tem de se colocar a questão de saber se ele manteria a confiança num primeiro-ministro que eventualmente tivesse tido conhecimento das peripécias do achamento?

Escreve à quarta-feira