A alteração do símbolo do ‘toureiro’ e do ‘touro’ nos sinais rodoviários que indicam a direção para o Campo Pequeno, na capital, está longe de ser uma decisão consensual. A modificação ordenada pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), na semana passada, está a gerar polémica, sendo que a Prótoiro considera um “ato de clara censura” por parte da autarquia, do PS e do PAN. Os deputados municipais do CDS também já pediram esclarecimentos formais à Câmara, pedindo que “o executivo informe sobre a fundamentação da medida, designadamente técnica, legal e política”, sublinhou Diogo Moura, líder da bancada municipal centrista, num comunicado enviado às redações.
Ao semanário SOL, a CML confirmou que “a sinalética está a ser atualizada” porque a “realidade mudou”, prometendo que as placas serão brevemente substituídas por uma “versão definitiva”. Os referidos símbolos encontram-se atualmente tapados por um quadrado de vinil branco. O município referiu ainda que a alteração deve-se facto de o Campo Pequeno já não ser “exclusivamente uma praça onde há touradas”, mas sim “um espaço que acolhe eventos de diferentes naturezas”.
A decisão desta alteração surgiu no seguimento de uma “reunião entre o presidente da CML, Fernando Medida, e os deputados municipais do PAN em Lisboa”, confirmou ao i a deputada do partido de André Silva, Inês de Sousa Real, acrescentando que, nessa reunião, o PAN manifestou a sua preocupação com a “imagem alusiva às corridas” nas placas.
“Não nos faz qualquer sentido que, num espaço que já não se dedica exclusivamente à realização de corridas de touros e numa cidade que assumidamente está comprometida com o bem-estar animal, estas placas de sinalização promovessem uma atividade que, para além de causar sofrimento aos animais, nunca foi consensual no país”, afirmou Inês de Sousa Real. A deputada reforçou ainda que não se trata de censura, uma vez que a “contestação social sempre existiu em torno desta atividade” – e citou os resultados da mais recente sondagem da Universidade Católica, que indica que “89% dos lisboetas nunca assistiu a uma corrida de touros desde que a Praça foi reaberta e 75% não concorda com a utilização de fundos públicos para apoio a esta atividade”. Assim, o PAN congratula-se com a ação do município, destacando o respeito demonstrado pela “identidade e vontade dos lisboetas”.
Perante estas declarações, a Prótoiro respondeu ao i que estes argumentos não são mais que tentativas de “justificar a censura que não tem justificação”. “O que o PAN diz é absolutamente inacreditável e expressa muito bem o que é uma lógica de um partido de censura: se alguém não gosta ou não concorda pode-se proibir, censurar e eliminar do espaço público”, apontou Hélder Milheiro, secretário-geral da associação.
O responsável aponta o dedo, em particular, a Fernando Medina e ao PS. “O PAN já provou que não consegue conviver com a liberdade dos outros. Mas não podemos admitir que o PS e que o presidente Fernando Medina aprovem este tipo de censuras e ataques à liberdade e diversidade de Lisboa”, asseverou.
Hélder Milheiro desvalorizou ainda os números apresentados pelo PAN, não vendo relação entre estes e a alteração do símbolo: “Quantas pessoas é que já foram ao teatro D.Maria II? Se as pessoas não forem e nele ocorrerem outras atividades deixa de ser um teatro? Também estão na calha da censura os símbolos religiosos ou futebolísticos? É que existem diversas religiões e pessoas que discordam umas das outras”.