Corridas de galgos. Parlamento discute se é desporto ou crime

Corridas de galgos. Parlamento discute se é desporto ou crime


PAN diz receber muitas queixas das corridas de cães, acusando os donos de os levar ao extremo e de os abandonar. O BE também apresentou um projeto de lei que vai ser hoje discutido. Associação Galgueira e Lebreira do Norte garante que tudo não passa de mentiras.


As corridas de cães são desporto ou exploração? Para o Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), as competições com galgos são uma exploração que põe em causa a integridade física dos cães. E o partido acusa os donos de abandonarem recorrentemente os animais após servirem para este tipo de desporto. Já a Associação Galgueira e Lebreira do Norte acusa o PAN de estar a mentir e de proferir acusações “sem pés nem cabeça”, e dá garantias de que o galgo é um dos animais mais respeitados pelos proprietários. Hoje vão ser discutidos na Assembleia da República os projetos de lei apresentados pelo PAN e pelo Bloco de Esquerda (BE) que pedem o fim das corridas de galgos e de qualquer outra raça de cães em Portugal.

No projeto de lei apresentado pelo PAN é prevista pena de prisão para quem promover, organizar ou participar em eventos deste tipo. Ao contrário do PAN, o documento do BE não apresenta punições algumas para quem o fizer.

O líder do PAN e deputado André Silva apresentou o documento à Assembleia da República em janeiro deste ano. O documento elenca um conjunto de motivos que levam o partido a querer o fim destas corridas, que considera serem prejudiciais para a dignidade dos animais não humanos “designadamente do seu direito à vida e à integridade física, psicológica e mental”. No projeto de lei, o partido recorda que, apesar do novo estatuto de proteção penal para os animais de companhia, aprovado em agosto de 2014, ainda se verificam casos ou atividades, como as corridas de galgos, que geram a exploração dos animais, sujeitando-os a treinos rígidos e, muitas das vezes, culminando no abandono. É igualmente referido que esta prática não está “fortemente implementada em Portugal nem tão-pouco é uma atividade tradicional”, razão pelo qual o nosso país devia seguir a tendência mundial de proibição deste tipo de atividades.

O PAN acusa os participantes destes eventos de submeterem os animais a treinos exagerados desde muito cedo e de recorrer a choques elétricos durante as corridas para que os animais não fiquem para trás, melhorando as suas performances.

Choques elétricos e doping? “Não sei onde foram inventar isso” António Pereira, da Associação Galgueira e Lebreira do Norte, em declarações ao i, diz tratar-se de uma acusação sem fundamento e afirma que tudo não passa de invenções do partido. “Não sei onde é que foram inventar isso”, acrescenta. O membro da associação pede inclusive que o PAN mostre provas de que os galgos são realmente estimulados através de choques elétricos e diz que esta acusação em particular deixa a associação “chocada”. O PAN também refere que os criadores de galgos recorrem muitas vezes ao doping para que os seus animais obtenham melhores resultados.

“Para melhorar a performance dos cães são-lhes administradas substâncias como efedrina, arsénico, estricnina e, às vezes, cocaína”, escreve o líder do PAN, André Silva. Questionado sobre esta acusação, António Pereira rejeita que esta prática seja utilizada e desafia: “O PAN que prove isso!”

No projeto de lei do PAN (mais ousado que o do BE) são feitas referências a um alegado mercado de apostas que é gerado em torno destes eventos. O partido afirma que, a par das corridas de cavalos, “as corridas de galgos geralmente permitem que o público aposte no resultado”. António Pereira, porém, garantiu ao i não existir qualquer tipo de mercado de apostas em torno das corridas: “Não há apostas nenhumas, não há apostas nos cavalos quanto mais nos galgos”. António Pereira admitiu que existe uma rivalidade saudável entre os participantes, mas que “nunca ninguém viu apostas, nunca ninguém viu dinheiro” durante os eventos de corridas de galgos.

O PAN sublinha ainda que, em muitos países, este desporto usa animais vivos, como lebres ou coelhos, para que os cães corram atrás deles. O membro da associação galgueira garante que em Portugal não são utilizados animais vivos para estimular os galgos e que a estimulação passa por “um plástico de arrasto” puxado por uma corda até à meta da corrida.

A associação de defesa dos animais Animal defende a proposta de lei apresentada pelo PAN. Em declarações ao i, fonte oficial da associação considera muito positivo que esta medida tenha chegado “à casa da democracia”.

A Animal, reforça a mesma fonte, é “contra qualquer tipo de exploração de animais” e assume que se opõe à utilização de galgos para corridas. A associação revela ainda ter já recebido muitas queixas ao longo dos anos, deixando assim claro que estes casos “não são uma surpresa”. Segundo a associação, as denúncias de abandono também são frequentes e dão conta de que “quando os animais já não são necessários, são abandonados”.