O apelo de Bruno Lage


“O futebol é apenas o futebol. Há coisas mais importantes na nossa sociedade e no nosso país pelas quais temos de lutar”


O fim de semana foi de festa encarnada mas, na alegria da “reconquista”, Bruno Lage surpreendeu e apelou à mobilização para lá das quatro linhas, num discurso que para muitos terá sido mais galvanizador que qualquer intervenção no debate das europeias. “O futebol é apenas o futebol. Há coisas mais importantes na nossa sociedade e no nosso país pelas quais temos de lutar. Se vocês se unirem, se tiverem a força e a exigência que têm no futebol na nossa economia, na nossa saúde, na nossa educação, vamos ser um país melhor”.

Os recados do FMI no final da semana passada voltaram a chamar a atenção para a necessidade de investimento: é preciso investir nas escolas, nos hospitais, “para que prestem os melhores serviços possíveis, tendo as suas instalações bem mantidas. Isso ajudaria os contribuintes a retirar valor das suas contribuições para os cofres do Estado”, disse Alfredo Cuevas, chefe da missão a Portugal, alertando para essa necessidade de reforçar a confiança de que o Estado aplica bem o esforço de todos. 

Seguramente, não é preciso o aviso externo mas, como apelou Lage, é preciso exigência. Veja-se a saúde. Não há cativações, insiste o Governo, e foram anunciados 91 milhões em investimentos ou um plano de ação para melhorar os tempos de resposta e combater as listas de espera. Mas o que pensar quando, ao mesmo tempo que se renovam compromissos de um SNS mais resiliente, há pedidos de autorização de contratação de pessoal que demoram meses a ser despachados, como é o caso da nova Unidade de Transplante de Medula do IPO de Lisboa, que está em vias de abrir com os mesmos quartos que já tinha antes de obras de um milhão de euros por não ter luz verde para contratar 20 enfermeiros e 11 assistentes operacionais (como noticiou no sábado o semanário Sol)? Ou quando a reforma dos cuidados primários ainda não é uma realidade em todo o país, 13 anos depois, com vários modelos em paralelo e “cidadãos de primeira e de segunda” na facilidade com que são atendidos nos centros de saúde, como retratou na edição de domingo o jornal Público?