Crónica sobre fé e autos-de-fé


Nunca até hoje tinha sido tão evidente num partido da esfera democrática de uma democracia de referência, como o Partido Democrata americano, uma opção tão deliberada por eleger terrorismo e vítimas de primeira e de segunda à luz da sua agenda política.


Nesta semana que passou, a que os cristãos e os católicos pelo mundo fora chamam Semana Santa, celebra-se a ressurreição de Cristo e a Páscoa. A Páscoa é, pois, uma festa de tradição religiosa dos cristãos que terá, com as nuances que a difusão do cristianismo teve também, cerca de 2000 anos.

Para o fim desta nota importa pouco muito mais detalhe sobre esta questão, mas importará, parece-me, uma referência aos tempos que vivemos e a atenção para um fenómeno relativamente novo das clubites partidárias ou dos antagonismos da direita/esquerda.

É da esfera do diário escândalo que os partidos mais ou menos extremados politicamente tendem a preferir os seus próprios ditadores de estimação aos dos seus rivais – são públicas as apetências do PCP pelas maravilhas de liberdade individual da Coreia do Norte e de Cuba, do BE pela utopia da Venezuela bolivariana, ou, nos campos opostos, as simpatias por regimes totalitários de sinal contrário.

É, aliás, se vejo bem, um posicionamento absolutamente coincidente com a posição de cada um deles em relação aos princípios da democracia liberal, da qual nenhum deles é particularmente adepto.

Nunca até hoje, porém, tinha sido tão evidente num partido da esfera democrática de uma democracia de referência, como é o Partido Democrata americano, uma opção tão deliberada por eleger terrorismo e vítimas de primeira e de segunda à luz da sua agenda política.

Depois das referências aos actos de terror contra a comunidade muçulmana de Christchurch, na Nova Zelândia, onde a fé das vítimas vem associada, sem quaisquer metáforas ou eufemismo à sua condição de muçulmanos, para Barack Obama, Hillary Clinton e mais uns quantos destacados membros do Partido Democrata, as vítimas dos atentados no Sri Lanka mortas cobardemente em igrejas e hotéis por terroristas (aparentemente islâmicos) receberam a estranha denominação de “Easter Worshipers”, ou seja, numa tradução aproximada, adoradores da Páscoa.

Não falamos de nenhuma nova seita de adoradores, falamos de cristãos que adoram Cristo (e não a Páscoa) e que morreram enquanto celebravam, em paz, a sua fé. 

É por isso insondável, ou talvez não – a ideia de reescrever a História e a pós–verdade são a nova loucura destes dias –, a razão por que uns e outros não merecem em termos iguais o reconhecimento da sua fé por parte dos democratas! É particularmente inquietante que os partidos da antiga democracia liberal se dediquem a estes revisionismos históricos.
Nesta semana também há lugar a algumas outras notas na sequência da bem conseguida greve do sindicato inorgânico dos motoristas de transportes perigosos: o politburo das esquerdas unidas encomendou um auto-de-fé contra o vice–presidente do referido sindicato, acossando-lhe a implacável e insuspeita inquisidora de serviço, Fernanda Câncio, com o libelo acusatório.

Aparentemente (tal como parece que já aconteceu com Pedro Nuno Santos), o governante e o sindicalista são culpados de gostar e possuir, ou ter possuído, carros de luxo e grande cilindrada. Porventura, em tempos de escassez de combustível, o gosto por carros desportivos – que escapou, tal como muitas outras pequenas grandes coisas, a Fernanda Câncio – terá facilitado a longa negociação a que foram chamados e cujo sucesso se mede pelo facto de estar garantida a paz social nesta área até depois das legislativas. Do mal o menos…

Uma última nota ainda para outro escândalo dos nossos dias: o centrão do PS e do PSD, depois de umas semanas a discutir a ética na política do nepotismo e da endogamia, decidiu reforçar o sentimento comum de indignidade e de escárnio com que o homem comum já olha para a sua nobre missão, negociando o afrouxamento do quadro ético dos governantes, revogando a proibição e recebimento de prendas mais ou menos simbólicas, mas também, e sobretudo, negociando um secreto e sub-reptício indulto a todos os deputados e dirigentes que são, neste momento, arguidos pela prática de actos que eram, à data dos factos, crimes punidos por lei, e que vão deixar de sê-lo, com efeito retroactivo, por força deste acordo reprovável. Ou seja, decidiram indultar as viagens da Galp, EDP e obras quejandas, sem qualquer costumada nota do sempre vigilante PR.

Depois do benesse do IVA indiscriminado para os partidos, acrescentam-se absolvições para os prevaricadores arguidos.
É impressão minha ou estamos perante outro exemplo acabado da indignidade, e da certeza de que Costa e Rio, afinal, se merecem?

Advogado na norma8advogadospf@norma8.pt 
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990


Crónica sobre fé e autos-de-fé


Nunca até hoje tinha sido tão evidente num partido da esfera democrática de uma democracia de referência, como o Partido Democrata americano, uma opção tão deliberada por eleger terrorismo e vítimas de primeira e de segunda à luz da sua agenda política.


Nesta semana que passou, a que os cristãos e os católicos pelo mundo fora chamam Semana Santa, celebra-se a ressurreição de Cristo e a Páscoa. A Páscoa é, pois, uma festa de tradição religiosa dos cristãos que terá, com as nuances que a difusão do cristianismo teve também, cerca de 2000 anos.

Para o fim desta nota importa pouco muito mais detalhe sobre esta questão, mas importará, parece-me, uma referência aos tempos que vivemos e a atenção para um fenómeno relativamente novo das clubites partidárias ou dos antagonismos da direita/esquerda.

É da esfera do diário escândalo que os partidos mais ou menos extremados politicamente tendem a preferir os seus próprios ditadores de estimação aos dos seus rivais – são públicas as apetências do PCP pelas maravilhas de liberdade individual da Coreia do Norte e de Cuba, do BE pela utopia da Venezuela bolivariana, ou, nos campos opostos, as simpatias por regimes totalitários de sinal contrário.

É, aliás, se vejo bem, um posicionamento absolutamente coincidente com a posição de cada um deles em relação aos princípios da democracia liberal, da qual nenhum deles é particularmente adepto.

Nunca até hoje, porém, tinha sido tão evidente num partido da esfera democrática de uma democracia de referência, como é o Partido Democrata americano, uma opção tão deliberada por eleger terrorismo e vítimas de primeira e de segunda à luz da sua agenda política.

Depois das referências aos actos de terror contra a comunidade muçulmana de Christchurch, na Nova Zelândia, onde a fé das vítimas vem associada, sem quaisquer metáforas ou eufemismo à sua condição de muçulmanos, para Barack Obama, Hillary Clinton e mais uns quantos destacados membros do Partido Democrata, as vítimas dos atentados no Sri Lanka mortas cobardemente em igrejas e hotéis por terroristas (aparentemente islâmicos) receberam a estranha denominação de “Easter Worshipers”, ou seja, numa tradução aproximada, adoradores da Páscoa.

Não falamos de nenhuma nova seita de adoradores, falamos de cristãos que adoram Cristo (e não a Páscoa) e que morreram enquanto celebravam, em paz, a sua fé. 

É por isso insondável, ou talvez não – a ideia de reescrever a História e a pós–verdade são a nova loucura destes dias –, a razão por que uns e outros não merecem em termos iguais o reconhecimento da sua fé por parte dos democratas! É particularmente inquietante que os partidos da antiga democracia liberal se dediquem a estes revisionismos históricos.
Nesta semana também há lugar a algumas outras notas na sequência da bem conseguida greve do sindicato inorgânico dos motoristas de transportes perigosos: o politburo das esquerdas unidas encomendou um auto-de-fé contra o vice–presidente do referido sindicato, acossando-lhe a implacável e insuspeita inquisidora de serviço, Fernanda Câncio, com o libelo acusatório.

Aparentemente (tal como parece que já aconteceu com Pedro Nuno Santos), o governante e o sindicalista são culpados de gostar e possuir, ou ter possuído, carros de luxo e grande cilindrada. Porventura, em tempos de escassez de combustível, o gosto por carros desportivos – que escapou, tal como muitas outras pequenas grandes coisas, a Fernanda Câncio – terá facilitado a longa negociação a que foram chamados e cujo sucesso se mede pelo facto de estar garantida a paz social nesta área até depois das legislativas. Do mal o menos…

Uma última nota ainda para outro escândalo dos nossos dias: o centrão do PS e do PSD, depois de umas semanas a discutir a ética na política do nepotismo e da endogamia, decidiu reforçar o sentimento comum de indignidade e de escárnio com que o homem comum já olha para a sua nobre missão, negociando o afrouxamento do quadro ético dos governantes, revogando a proibição e recebimento de prendas mais ou menos simbólicas, mas também, e sobretudo, negociando um secreto e sub-reptício indulto a todos os deputados e dirigentes que são, neste momento, arguidos pela prática de actos que eram, à data dos factos, crimes punidos por lei, e que vão deixar de sê-lo, com efeito retroactivo, por força deste acordo reprovável. Ou seja, decidiram indultar as viagens da Galp, EDP e obras quejandas, sem qualquer costumada nota do sempre vigilante PR.

Depois do benesse do IVA indiscriminado para os partidos, acrescentam-se absolvições para os prevaricadores arguidos.
É impressão minha ou estamos perante outro exemplo acabado da indignidade, e da certeza de que Costa e Rio, afinal, se merecem?

Advogado na norma8advogadospf@norma8.pt 
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990