Interromper discurso deu direito a algemas e agressões, acusa ambientalista

Interromper discurso deu direito a algemas e agressões, acusa ambientalista


O ativista Francisco Pedro, que interrompeu o discurso de António Costa, garante ter sido “algemado e agredido de forma gratuita e violenta”.


Invadir o jantar dos socialistas foi o último de dez atos de um teatro ambientalista. Na segunda-feira à noite, 12 pessoas participaram numa ação de protesto durante o discurso de António Costa no 46.º aniversário do PS . Um deles, Francisco Pedro, desviou o microfone do primeiro-ministro e tentou falar para a plateia em protesto contra a extensão do aeroporto da Portela e contra a construção do novo aeroporto do Montijo. 

Ao i, Francisco Pedro, de 32 anos, contou que foi a “criatividade” dos membros que permitiu aproveitar as falhas de segurança do evento. Questionado sobre se tinham entrado como socialistas, Francisco, não adiantou muito e disse apenas: “É isso, foi com essas coisas, com muita organização e com muito respeito por todas as pessoas que estavam presentes”. 

O membro do movimento que interrompeu o discurso de António Costa não teve tempo para ler o papel que levava – cujo título era “Mais aviões? Só a brincar!” -, tendo sido retirado de imediato levado. 

Nas imagens divulgadas, é possível ver Francisco a ser levado por dois seguranças que estavam ao lado do primeiro-ministro, mas não se vê mais nada. “Eu, pessoalmente, fui agarrado pelo pescoço e fui levado para um sitio longe de câmaras e de olhares. Fui algemado e agredido de forma gratuita e violenta, pelos seguranças do primeiro ministro”, contou Francisco Pedro. Os elementos que levaram Francisco Pedro são do Corpo de Segurança Pessoal da PSP e, de acordo com o PS, o partido não tinha no local quaisquer seguranças privados. O Partido Socialista também desconhece as agressões. 

Francisco Pedro e outros dois elementos do grupo foram ainda identificados pela PSP por invadirem o evento. 

Já no exterior do espaço onde onde decorreu o comício do PS, os ativistas foram abordados por um velho militante que chegou a ameaçar: “Às meninas não faço nada, mas tu levas”. 

Francisco faz parte da rede Stay Grounded (Aterra) – um dos grupos da Extinction Rebelion (Rebelião de Extinção em português) – que luta pela diminuição do tráfego aéreo e contra a construção de novos aeroportos. Para o ativista, “estes são riscos que corremos e é uma violência absolutamente irrelevante perante a agressão que está a existir a este planeta”. 

O grito dos ativistas O Extinction Rebelion é o movimento que qualquer um pode criar e este contou com dez ações diferentes ao longo da última semana – a “Semana da Rebelião”. “O que aconteceu em Lisboa é absolutamente inédito. Sem nenhum apelo a ações de massa, conseguimos meter o dedo na ferida”, disse Francisco Pedro. 

O último ato, como chamam os às ações, teve lugar precisamente onde estava António Costa, já que o objetivo, diz o ativista, era “que o primeiro-ministro dissesse a verdade sobre o acordo que assinou com a multinacional Vinci, que implica aumentar a Portela e construir um novo aeroporto no Montijo, em plena reserva natural”. 

O protagonista da noite de segunda feira, que parou a festa socialista, sublinhou que este “é um movimento absolutamente diverso, com pessoas de todo o lado”. “Na ação somos 12 pessoas e não há ninguém que tenha ligação ao Bloco de Esquerda, de todo”.

Impactos políticos Os movimentos ambientalistas, ainda que de pequenas dimensões, estão agora a ganhar voz. Mas será que conseguem gritar ao ponto de interferir na vida política? Ao i, António Costa Pinto, politólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, desvalorizou o impacto nas eleições: “Este tipo de pequenas manifestações – na maior parte dos casos sem uma identificação clara no leque esquerda-direita – são o tipo de manifestações que têm muitas vezes algum impacto mediático, mas que não têm qualquer influência nas atitudes eleitorais dos portugueses”. A razão também é simples, já que em matérias ambientalistas, há, “infelizmente, pouca sensibilidade por parte dos portugueses”, explicou Costa Pinto, acrescentando que é um assunto que sensibiliza apenas “pequenos segmentos das elites”.