Passes mais baratos não resolvem nada


Inaugurações sucessivas, anúncios de aumentos salariais no setor público e até uma participação no mais popular programa de televisão do momento – com tantas ações de campanha nestas últimas semanas, é caso para suspeitarmos que o primeiro-ministro anda a governar nas horas vagas. As eleições aproximam-se a passos rápidos e é preciso angariar votos a…


Inaugurações sucessivas, anúncios de aumentos salariais no setor público e até uma participação no mais popular programa de televisão do momento – com tantas ações de campanha nestas últimas semanas, é caso para suspeitarmos que o primeiro-ministro anda a governar nas horas vagas. As eleições aproximam-se a passos rápidos e é preciso angariar votos a todo o custo.

A última destas ações teve lugar ontem mesmo numa apresentação que nada ficou a dever às palestras da Web Summit. O primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Lisboa e o ministro do Ambiente assinaram um contrato que prevê tarifários mais amigos dos utilizadores nos transportes públicos. Este governo conhece bem os princípios da propaganda e sabe que não basta fazer: é preciso anunciá-lo bem alto, com pompa, para que todos ouçam, até os mais duros de ouvido.

Quanto à medida, parece demasiado simplista. O problema dos transportes não se restringe, como é óbvio para todos os seus utilizadores, ao preço dos passes. Insegurança, sobrelotação, falta de pontualidade, falta de conforto e greves afastam de certeza muito mais pessoas dos transportes públicos do que o preço dos títulos.

Quem viva na periferia pode facilmente ter de apanhar três meios de transporte para chegar ao local de trabalho, num total de duas ou mais horas. Quem viaja à hora de ponta, depois de ter esperado meia hora por um autocarro, pode ter de esperar mais ainda pelo seguinte, dado o anterior estar repleto. Quem usa os transportes durante a noite pode ver-se envolvido numa situação em que vê a sua segurança ameaçada.

Passes mais baratos para todos? É bonito e quem fica a pagar menos agradece. Mas a medida não resolve nada. Os governantes não podem limitar-se a despejar mais dinheiro aqui, aumentar o imposto ali, baixar o preço acolá. É preciso ter ideias. Mas infelizmente essas são cada vez mais raras. 
 


Passes mais baratos não resolvem nada


Inaugurações sucessivas, anúncios de aumentos salariais no setor público e até uma participação no mais popular programa de televisão do momento – com tantas ações de campanha nestas últimas semanas, é caso para suspeitarmos que o primeiro-ministro anda a governar nas horas vagas. As eleições aproximam-se a passos rápidos e é preciso angariar votos a…


Inaugurações sucessivas, anúncios de aumentos salariais no setor público e até uma participação no mais popular programa de televisão do momento – com tantas ações de campanha nestas últimas semanas, é caso para suspeitarmos que o primeiro-ministro anda a governar nas horas vagas. As eleições aproximam-se a passos rápidos e é preciso angariar votos a todo o custo.

A última destas ações teve lugar ontem mesmo numa apresentação que nada ficou a dever às palestras da Web Summit. O primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Lisboa e o ministro do Ambiente assinaram um contrato que prevê tarifários mais amigos dos utilizadores nos transportes públicos. Este governo conhece bem os princípios da propaganda e sabe que não basta fazer: é preciso anunciá-lo bem alto, com pompa, para que todos ouçam, até os mais duros de ouvido.

Quanto à medida, parece demasiado simplista. O problema dos transportes não se restringe, como é óbvio para todos os seus utilizadores, ao preço dos passes. Insegurança, sobrelotação, falta de pontualidade, falta de conforto e greves afastam de certeza muito mais pessoas dos transportes públicos do que o preço dos títulos.

Quem viva na periferia pode facilmente ter de apanhar três meios de transporte para chegar ao local de trabalho, num total de duas ou mais horas. Quem viaja à hora de ponta, depois de ter esperado meia hora por um autocarro, pode ter de esperar mais ainda pelo seguinte, dado o anterior estar repleto. Quem usa os transportes durante a noite pode ver-se envolvido numa situação em que vê a sua segurança ameaçada.

Passes mais baratos para todos? É bonito e quem fica a pagar menos agradece. Mas a medida não resolve nada. Os governantes não podem limitar-se a despejar mais dinheiro aqui, aumentar o imposto ali, baixar o preço acolá. É preciso ter ideias. Mas infelizmente essas são cada vez mais raras.