Querem votos? Vão à Cristina!


Os políticos mostram, assim, o “outro lado”, num momento de marketing político que vale por muitas campanhas engendradas por agências de comunicação


Num livro publicado em 1977, “L’État Spectacle”, Roger-Gérard Schwartzenberg, político francês da área da esquerda radical, escreve que “hoje em dia, o espetáculo está no poder.”

“A política, outrora, era de ideias. Hoje é pessoas”, afirma.

O fenómeno não é novo, como sabemos, e tem sido analisado ao longo das últimas décadas.

É a “videopolítica” de Giovanni Sartori, a “mediapolítica” de Schwartzenberg ou a “ciberpolítica” de vários outros autores.

É, pois, nesta era da política-espetáculo que entra a participação de políticos em programas de entretenimento de grande audiência, como foi o caso recente do primeiro-ministro, António Costa, n’“O Programa da Cristina”, da SIC.

Não é, também, propriamente uma novidade. Lembremos, por exemplo, programas de Herman José, na década de 90 do século passado, onde os políticos também faziam fila para participarem, ou, já neste século, as entrevistas de Ricardo Araújo Pereira, em 2009, aos principais líderes políticos que concorriam às eleições.

Desta vez, Cristina Ferreira, um fenómeno mediático, põe os convidados a cozinhar, recebe as famílias, tudo num ambiente muito informal e descontraído.

Os políticos mostram, assim, o “outro lado”, num momento de marketing político que vale por muitas campanhas engendradas por agências de comunicação.

O ambiente é divertido, as perguntas são amigáveis, conjugando-se tudo para uma excelente promoção da imagem dos convidados.

Quem, desta forma, irá recusar futuros convites?

Na verdade, tudo isto abona a favor de Cristina Ferreira que, fruto do seu trabalho e do seu talento, se afirmou neste mundo televisivo difícil e de fama efémera, na maior parte das vezes.

Os portugueses puderam ver o primeiro-ministro, de avental (de cozinheiro!), a preparar uma cataplana, como já tinham visto a líder do CDS, Assunção Cristas, a cozinhar um arroz de atum.

O que importa saber, na verdade, lá para outubro, é que ementa nos vão oferecer na campanha eleitoral e que pratos nos vão servir depois das eleições legislativas.

Até lá, que o espetáculo continue!

 

Jornalista