O bodo aos ricos


Neste mundo de total irresponsabilidade e igual impunidade, esses gestores fora, saltando de instituição para instituição como se nada tivesse acontecido. 


O relatório preliminar da auditoria à Caixa Geral de Depósitos relativa aos anos 2000 a 2015, divulgado por uma comentadora na televisão, é uma espécie de cereja no topo do bolo da balbúrdia e verdadeiro ambiente de saque que se viveu na generalidade da banca portuguesa, com destaque agora para o banco do Estado.

Todos nós já andamos a pagar, há vários anos, os desmandos de muitos banqueiros que, para além de levarem as suas instituições à falência, arrastaram nessa queda milhares de cidadãos honestos que viram o fruto do seu trabalho ao longo de uma vida evaporar-se.

Em contrapartida, voltando ao banco do Estado, sabe-se agora que, independentemente dos resultados, isto é, mesmo no caso de serem negativos, os gestores recebiam elevados prémios.

Terão sido alguns desses gestores os responsáveis pela concessão de créditos de alto risco, ignorando os pareceres dos serviços competentes da instituição, responsáveis por elevadíssimos prejuízos, uma vez que, na sua esmagadora maioria, os créditos são irrecuperáveis.

Ainda segundo o relatório, só sete desses empréstimos originaram perdas de 580 milhões de euros.

Neste mundo de total irresponsabilidade e igual impunidade, esses gestores foram saltando de instituição para instituição como se nada tivesse acontecido.

Depois, quem pediu dinheiro e o “perdeu”, vive tranquilo, dorme na paz dos anjos, se a dívida for de muitos milhões. Nada acontece.

Por exemplo, uma empresa que quis criar um império de comunicação acabou falida, com uma dívida a dois bancos que ascende aos 670 milhões de euros. Um dos seus proprietários, também com dívidas a título pessoal no valor de 9,7 milhões de euros, entregou para as compensar uma mota de água. Não possuía outros bens em seu nome.

E o que aconteceu? Nada.

É bem conhecido o ditado: “Se deves 30 mil euros ao banco, o problema é teu. Se deves 30 milhões, o problema é do banco.”

Teria até graça se o problema não acabasse por ser de todos nós.

Jornalista