A televisão, o jornalismo e a vida real


Os jornais televisivos das estações comerciais dedicam cada vez mais espaço a faits divers e cada vez menos ao enquadramento noticioso de que a atualidade carece


“Na urgência não se pode pensar”
                                           
Platão

A disputa televisiva do entretenimento do horário da manhã entre a SIC e a TVI, com vantagem, até ao momento, da primeira, é um bom motivo de reflexão.

Dirão alguns que se trata de um tema fútil, pouco dado a reflexões, mas, com todo o respeito, discordo.

Na verdade, embora o tema não seja novo, esta disputa televisiva de um espaço de entretenimento está a contaminar toda a programação daqueles canais comerciais generalistas, incluindo, o que é grave, a informação.

Os protagonistas dos dois programas foram convidados para os principais jornais das suas estações, jornais esses que há muito quebraram um acordo entre as três estações generalistas – RTP, SIC e TVI – de não dedicarem espaço de informação à promoção de programas de entretenimento das respetivas estações.

Os jornais televisivos das estações comerciais dedicam cada vez mais espaço a faits divers e cada vez menos ao enquadramento noticioso de que a atualidade carece.

 Na verdade, a maioria dos espetadores, quando se senta para ver um jornal televisivo das 20h00, já conhece boa parte das notícias que lhe são ali apresentadas. Se esses jornais não lhe oferecem mais nada, isto é, enquadramento, análise, comentário, tornam-se quase desnecessários.

A perigosa crescente contaminação do jornalismo pelo entretenimento não vai dar, seguramente, bom resultado.

O cidadão comum já tem muita dificuldade em distinguir jornalistas de perguntadores curiosos, alguns até bem preparados, uma vez que muitos responsáveis políticos e de outras áreas da sociedade não resistem à tentação de serem vistos e, por isso, aceitam qualquer convite para uma entrevista, seja em que espaço for.

Já agora, um comentário sobre as intervenções do Presidente da República nos tais programas de entretenimento. A qualquer Presidente da República, talvez à exceção de Mário Soares, não lhe passaria pela cabeça intervir, por sua iniciativa, num desses programas.

Só que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fugiu completamente ao estilo presidencial tradicional. Terá aqui, talvez, exagerado.

Há mesmo quem o apelide de populista. 

A ser verdade, apesar de tudo, teríamos de concordar que há um populismo saudável e mobilizador.

 

Jornalista
 


A televisão, o jornalismo e a vida real


Os jornais televisivos das estações comerciais dedicam cada vez mais espaço a faits divers e cada vez menos ao enquadramento noticioso de que a atualidade carece


“Na urgência não se pode pensar”
                                           
Platão

A disputa televisiva do entretenimento do horário da manhã entre a SIC e a TVI, com vantagem, até ao momento, da primeira, é um bom motivo de reflexão.

Dirão alguns que se trata de um tema fútil, pouco dado a reflexões, mas, com todo o respeito, discordo.

Na verdade, embora o tema não seja novo, esta disputa televisiva de um espaço de entretenimento está a contaminar toda a programação daqueles canais comerciais generalistas, incluindo, o que é grave, a informação.

Os protagonistas dos dois programas foram convidados para os principais jornais das suas estações, jornais esses que há muito quebraram um acordo entre as três estações generalistas – RTP, SIC e TVI – de não dedicarem espaço de informação à promoção de programas de entretenimento das respetivas estações.

Os jornais televisivos das estações comerciais dedicam cada vez mais espaço a faits divers e cada vez menos ao enquadramento noticioso de que a atualidade carece.

 Na verdade, a maioria dos espetadores, quando se senta para ver um jornal televisivo das 20h00, já conhece boa parte das notícias que lhe são ali apresentadas. Se esses jornais não lhe oferecem mais nada, isto é, enquadramento, análise, comentário, tornam-se quase desnecessários.

A perigosa crescente contaminação do jornalismo pelo entretenimento não vai dar, seguramente, bom resultado.

O cidadão comum já tem muita dificuldade em distinguir jornalistas de perguntadores curiosos, alguns até bem preparados, uma vez que muitos responsáveis políticos e de outras áreas da sociedade não resistem à tentação de serem vistos e, por isso, aceitam qualquer convite para uma entrevista, seja em que espaço for.

Já agora, um comentário sobre as intervenções do Presidente da República nos tais programas de entretenimento. A qualquer Presidente da República, talvez à exceção de Mário Soares, não lhe passaria pela cabeça intervir, por sua iniciativa, num desses programas.

Só que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fugiu completamente ao estilo presidencial tradicional. Terá aqui, talvez, exagerado.

Há mesmo quem o apelide de populista. 

A ser verdade, apesar de tudo, teríamos de concordar que há um populismo saudável e mobilizador.

 

Jornalista