MNAA. O ‘Presépio dito dos Marqueses de Belas’ chegou a tempo do Natal

MNAA. O ‘Presépio dito dos Marqueses de Belas’ chegou a tempo do Natal


Os presépios representam uma forma íntima de devoção adotada por tantos lares portugueses. Expoente dessa prática é o ‘Presépio dito dos Marqueses de Belas’, do MNAA, que acaba de ser restaurado. Fechada há mais de uma década, também a Capela das Albertas vai ficar visitável a partir de amanhã


A quadra não podia ser mais propícia: o Museu Nacional de Arte Antiga inaugura amanhã a sala que vai acolher o maior dos presépios da coleção do museu, agora restaurado. Trata-se do “Presépio Dito dos Marqueses de Belas” que será a estrela da nova Sala do Presépio Português, mas os motivos de interesse não se esgotam nestas duas estreias: é que a nova sala dará acesso à Capela das Albertas, encerrada há 11 anos, devido ao seu estado de degradação.

A nova sala dos presépios poderá ser visitada pelo público já a partir de amanhã, embora os trabalhos na capela – a única estrutura sobrevivente do antigo convento de Santo Alberto, de monjas carmelitas descalças – ainda estejam a decorrer. “Agora ficará visível ao público, mas não ainda visitável, pois terão ainda de decorrer vários, complexos e onerosos trabalhos de conservação e restauro. Para poder devolver à fruição dos públicos esta joia do Barroco português, o MNAA vai iniciar uma nova campanha de angariação de fundos SOMOS TODOS MECENAS”, explicou fonte do museu ao i.

Apesar de se tratar de um pequeno templo conventual, a Capela das Albertas é um conjunto de extrema importância, não apenas por ter sobrevivido ao terramoto de 1755 mas também por ser um “notável expoente das chamadas ‘igrejas de ouro’, uma das mais originais realizações do Barroco português, combinando cenograficamente talha dourada, azulejo, pintura e imaginária”. A entrada para a capela composta por uma única nave faz-se pela lateral, “uma característica das igrejas de conventos femininos” e tem uma “capela-mor pouco profunda”, o que faz com que corresponda ao conceito de ‘igreja-caixa’”. E o plano ornamental do interior – que revela “sucessivas campanhas de obras” – acaba por documentar “três séculos de evolução da arte portuguesa”.

Foi também através desta campanha que abre o mecenato aos cidadãos que o MNAA conseguiu angariar os cerca de quarenta mil euros necessários ao restauro do presépio. Os trabalhos, que começaram em julho e estão agora a ser finalizados, “ficaram a cargo de uma equipa multidisciplinar de conservadores-restauradores (escultura, talha e pintura) contratados, graças à campanha de fundraising”. A equipa foi coordenada pela conservadora-restauradora do MNAA, Conceição Ribeiro.

Composto por cerca de 130 peças em diversos materiais, como vidro e metal, ainda que com predominância para o bairro cozido policromado, o presépio conta com as figuras típicas da narrativa da Natividade, mas também com algumas personagens que faziam parte da semântica da época, como os soldados com a farda francesa ou os alfaiates.

 

O mito do nome

O Presépio do final do século XVIII é da autoria de Joaquim José de Barros – o escultor conhecido por Barros Laborão -, para satisfazer uma encomenda do empresário e colecionador lisboeta José Joaquim de Castro.

O conjunto, que inclui um torrão em cortiça, acabou por ser comprado em 1937 a uma descendente do empresário, a marquesa de Pombal, pelo primeiro diretor do MNAA, José de Figueiredo. Apesar de ter sido conhecido como o Presépio dos Marqueses de Belas, a verdade é que nenhum dos documentos aponta uma ligação a esta família. Mas de onde vem, afinal, o mito? “A tradição sempre identificou as personagens do Grupo do Mouro (colocadas no primeiro plano do presépio, à direita) como sendo representações dos Marqueses de Belas, muito provavelmente porque o marquês foi mecenas de Barros Laborão, autor deste presépio. Esta identificação é inverosímil, mas o nome perdurou no tempo”, diz agora o MNAA. 

Este foi o último dos presépios do useu das Janelas Verdes a ser restaurado, o que significa que a nova Sala do Presépio Português apresentar-se-á a partir de agora na sua forma plena. “Nela é evocado o presépio como devoção íntima, através da obra do grande mestre Joaquim José de Barros Laborão (1762-1820), enquadrada pelo trabalho de outros escultores (em madeira ou barro) seus contemporâneos e em necessário diálogo com o trabalho pictórico de Pedro Alexandrino de Carvalho, colaborador de Barros Laborão em moldes não totalmente esclarecidos”, refere o museu, acrescentado que a sala será também uma espécie de antecâmara para a Capela das Albertas. “A presença de outras disciplinas artísticas, como a ourivesaria litúrgica e o mobiliário cerimonial – ou os têxteis, a que é dedicada a sala adjacente -, possibilita a compreensão integral da versatilidade do interior de ouro e azul da antiga igreja e do próprio Barroco português”.