Salvar Vitória, culpar os jogadores


Devo dizer que percebo muito bem Luís Filipe Vieira quando disse que, a meio de uma noite mal dormida, viu uma luz que lhe indicou o caminho certo: a permanência de Rui Vitória à frente da equipa principal do Benfica.


O mesmo me aconteceu várias vezes em cargos de direção: perceber que ia tomar uma decisão errada e, no último momento, dar uma cambalhota e arrepiar caminho. E, em diversões ocasiões, fi-lo contra a opinião da maioria.

É, aliás, isto que define os líderes: tomarem decisões solitárias e contra aquilo que são as ‘evidências’. Se não fosse assim, se todas as decisões fossem tomadas por consenso, para que serviria o presidente? Só para ratificar a vontade maioritária?

Claro que este tipo de actuação expõe mais os líderes. Se começarem a enganar-se muito, os seus colaboradores perderão a confiança neles. Mas também, se acertarem com frequência, ganharão uma aura que lhes permitirá arrastarem multidões. É óbvio que Vieira ganhou – e muito – quando manteve Jesus contra a opinião da família benfiquista, e depois disso foi campeão.

Luís Filipe Vieira tem, portanto, a minha solidariedade.

Penso, porém, que seguiu um caminho errado quando atirou a responsabilidade pelos maus resultados para cima dos jogadores. Ou seja, para justificar a continuidade da aposta em Rui Vitória, o presidente do Benfica sugeriu que o mal não está nele mas na falta de empenho do plantel.

Ora, um presidente atacar os jogadores é uma estratégia que normalmente acaba mal, como vimos ainda recentemente no Sporting.

E Rui Vitória reforçou esta ideia, ao dizer que é preciso “mudar muita coisa” e que os jogadores têm de dignificar a camisola que vestem. Passando de réu a algoz, Vitória fez cara de mau, tirou o cavalo da chuva e apontou o dedo aos jogadores para explicar as más exibições.

“Eu sou bom, o presidente é bom, vocês é que não se empenham“ – foi mais ou menos isto o que disse Rui Vitória na sexta-feira, comentando os acontecimentos recentes e antecipando o futuro.

Um treinador não pode ir por aqui.

Em conclusão, Vieira fez bem em manter Rui Vitória – até porque a substituição de um treinador a meio da época é sempre muitíssimo problemática: há pouco por onde escolher, a pressão do tempo obriga a decisões rápidas e as indemnizações a pagar são em geral pesadas. Aliás, era o que o Sporting deveria ter feito com Peseiro: mantê-lo até ao fim da temporada.

Mas, para justificar a continuidade do treinador, Vieira e Vitória lavaram as mãos de responsabilidades e atiraram-nas para cima dos jogadores. E isto não foi nada bonito. O treinador tem de estar sempre ao lado dos atletas – e com intervenções destas Rui Vitória arrisca-se a perder a sua confiança.

Os 4-0 de sábado deram a ilusão de que já está tudo bem. O pior de tudo seria acreditar nisso. À primeira derrota, os lenços brancos voltarão.


Salvar Vitória, culpar os jogadores


Devo dizer que percebo muito bem Luís Filipe Vieira quando disse que, a meio de uma noite mal dormida, viu uma luz que lhe indicou o caminho certo: a permanência de Rui Vitória à frente da equipa principal do Benfica.


O mesmo me aconteceu várias vezes em cargos de direção: perceber que ia tomar uma decisão errada e, no último momento, dar uma cambalhota e arrepiar caminho. E, em diversões ocasiões, fi-lo contra a opinião da maioria.

É, aliás, isto que define os líderes: tomarem decisões solitárias e contra aquilo que são as ‘evidências’. Se não fosse assim, se todas as decisões fossem tomadas por consenso, para que serviria o presidente? Só para ratificar a vontade maioritária?

Claro que este tipo de actuação expõe mais os líderes. Se começarem a enganar-se muito, os seus colaboradores perderão a confiança neles. Mas também, se acertarem com frequência, ganharão uma aura que lhes permitirá arrastarem multidões. É óbvio que Vieira ganhou – e muito – quando manteve Jesus contra a opinião da família benfiquista, e depois disso foi campeão.

Luís Filipe Vieira tem, portanto, a minha solidariedade.

Penso, porém, que seguiu um caminho errado quando atirou a responsabilidade pelos maus resultados para cima dos jogadores. Ou seja, para justificar a continuidade da aposta em Rui Vitória, o presidente do Benfica sugeriu que o mal não está nele mas na falta de empenho do plantel.

Ora, um presidente atacar os jogadores é uma estratégia que normalmente acaba mal, como vimos ainda recentemente no Sporting.

E Rui Vitória reforçou esta ideia, ao dizer que é preciso “mudar muita coisa” e que os jogadores têm de dignificar a camisola que vestem. Passando de réu a algoz, Vitória fez cara de mau, tirou o cavalo da chuva e apontou o dedo aos jogadores para explicar as más exibições.

“Eu sou bom, o presidente é bom, vocês é que não se empenham“ – foi mais ou menos isto o que disse Rui Vitória na sexta-feira, comentando os acontecimentos recentes e antecipando o futuro.

Um treinador não pode ir por aqui.

Em conclusão, Vieira fez bem em manter Rui Vitória – até porque a substituição de um treinador a meio da época é sempre muitíssimo problemática: há pouco por onde escolher, a pressão do tempo obriga a decisões rápidas e as indemnizações a pagar são em geral pesadas. Aliás, era o que o Sporting deveria ter feito com Peseiro: mantê-lo até ao fim da temporada.

Mas, para justificar a continuidade do treinador, Vieira e Vitória lavaram as mãos de responsabilidades e atiraram-nas para cima dos jogadores. E isto não foi nada bonito. O treinador tem de estar sempre ao lado dos atletas – e com intervenções destas Rui Vitória arrisca-se a perder a sua confiança.

Os 4-0 de sábado deram a ilusão de que já está tudo bem. O pior de tudo seria acreditar nisso. À primeira derrota, os lenços brancos voltarão.