O advogado e vereador do PSD em Loures André Ventura vai renunciar ao mandato na câmara no dia 20 deste mês e, logo a seguir, avança para a criação de um novo partido político. Ao que o i apurou, a intenção é que a nova força política esteja no terreno antes do final do ano. E até já tem nome: será “Chega”, a mesma designação que André Ventura deu ao movimento de recolha de assinaturas para a convocação de um congresso extraordinário no PSD, para destituir o atual líder, Rui Rio.
Fontes próximas de André Ventura asseguram que o vereador social-democrata deverá anunciar ainda hoje o novo partido, bem como as suas linhas orientadoras. O Chega, segundo as mesmas fontes, vai concentrar–se em cinco eixos fundamentais. Desde logo, promete defender “um autêntico liberalismo económico e político”. No capítulo da justiça, apresentar-se-á como defensor do “regresso da prisão perpétua para homicidas e violadores” e da “castração química para pedófilos”.
Entre as linhas principais estará ainda “a proibição constitucional da eutanásia” e “a proibição do casamento homossexual”. Outra das ideias de André Ventura passará pela “redução drástica” dos mandatos políticos e a sua limitação, incluindo no que diz respeito a cargos de vereação. O partido vai propor ainda a redução do número de deputados na Assembleia da República dos atuais 230 para apenas 100. De acordo com as mesmas fontes, o Chega quer ainda levar a cabo uma “completa redefinição do sistema fiscal português”, de maneira a que “todos contribuam”.
A recolha de assinaturas arrancará ainda este mês, de maneira a que o partido possa concorrer aos atos eleitorais marcados para 2019 – as eleições europeias estão agendadas para 26 de maio. Quanto às legislativas, que decorrerão no outono, as mesmas fontes explicaram ao i que o objetivo do Chega será “evitar uma nova maioria de esquerda”, demarcando-se “por completo do discurso de Rui Rio, que tentará aliar-se ao PS”.
“Traído e apunhalado”
O primeiro sinal de que as relações de André Ventura com a atual direção do PSD não iam bem foi dado pelo próprio no Facebook. Há cerca de um mês, o advogado escreveu um post em que contava que tinha ouvido dizer que Rui Rio teria dito que preferia que abandonasse o PSD. Depois disso tentou ser recebido pelo presidente do partido, sem sucesso, para “esclarecer” o boato. Como nunca foi recebido, lançou entretanto um movimento – o Chega –, com um manifesto que convidava Rui Rio a mudar de estilo ou a submeter–se a eleições internas até dezembro. O objetivo era reunir o apoio das distritais. Com o manifesto subscrito, e se o líder do PSD não aceitasse as recomendações do documento, o movimento recolheria as assinaturas necessárias (2500) para a convocação de um congresso extraordinário para a sua destituição.
Só que André Ventura não conseguiu o apoio que esperava. No caso das distritais, a de Lisboa foi a primeira a demarcar-se da proposta. As fontes próximas do vereador com que o i ontem falou – André Ventura não respondeu às várias tentativas de contacto – dizem que a recolha de assinaturas continuará até esta sexta-feira e acrescentam que Ventura se sente “traído e apunhalado”. “Houve quem o tenha apoiado no início e depois, publicamente, se tenha demarcado, num momento em que o PSDse está a desagregar”, apontam.