PSD. André Ventura quer recolher assinaturas para destituir Rio

PSD. André Ventura quer recolher assinaturas para destituir Rio


Ex-candidato a Loures diz que consegue mobilizar 2500 militantes no prazo de uma semana para realizar congresso extraordinário


O rumor da recolha de assinaturas para um congresso extraordinário no PSD afinal tem um rosto: André Ventura, autarca do partido em Loures, que promete recolhê-las no prazo de uma semana. O objetivo é destituir Rui Rio, se o presidente do partido não mudar de estratégia. “Estou convencido que numa semana temos as 2500 assinaturas para realizar um congresso, se necessário”, diz ao i o militante social-democrata. Para concretizar a iniciativa, Ventura está dependente de um encontro com o líder do PSD, marcado para o final da próxima semana. A meta é o mês de dezembro para os militantes tomarem posição, depois da votação do Orçamento do Estado de 2019.

“Temos a noção de que esta situação possa originar uma enorme instabilidade [no PSD], mas para uma situação extraordinária, soluções extraordinárias. Se isto continuar assim tenho a certeza de que o PS vai ter maioria absoluta”, defendeu o autarca de Loures sem especificar quem são as pessoas que estão envolvidas no processo, preparadas para avançar com a recolha de 2500 assinaturas de militantes com quotas em dia para provocar um congresso.

André Ventura pediu uma reunião a Rui Rio, depois de este ter apontado a porta de saída do PSD a quem “discorda estruturalmente” do partido . Perante o aviso, o autarca de Loures quer saber se o líder conta com ele no PSD e pediu uma reunião. Por agora só conseguiu falar com o secretário-geral do partido, José Silvano.

De facto, o ex-candidato à câmara de Loures ganhou alguns anticorpos na campanha autárquica de 2017, e segundo um antigo dirigente a promessa de iniciativa de André Ventura pode até ser “contraproducente e vitimizar Rui Rio”. Outra fonte social-democrata assume ao i que não existem distritais envolvidas no processo, a maioria estará, aliás ao lado do presidente do PSD. Por outro lado, face ao nível de incerteza e desalento interno no partido, a ideia de um congresso destitutivo pode servir para desgastar ainda mais o líder social-democrata, mesmo que a proposta não chegue a ver a luz do dia.

As assinaturas terão de ser validadas, por um lado pelo conselho de jurisdição nacional, e, por outro, pelo conselho nacional do PSD. No final, o congresso será sempre extraordinário, logo não eletivo, tendo por função uma moção de censura ou confiança a Rio.

André Ventura garante que só será protagonista da mobilização para um congresso extraordinário. “Vou liderar [um pedido] de congresso destitutivo. Depois é com os militantes. E tenho dito que o dr. Luís Montenegro é agora a única solução e não pode virar as costas ao PSD nesta altura”. Apesar do desafio ao antigo líder parlamentar, o social democrata garante que não o quer envolver na revolta contra o atual líder.

No PSD a palavra desalento descreve bem o sentimento geral de dirigentes distritais e deputados, ouvidos pelo i, uma posição que também será extensível a dirigentes nacionais. Aliás, a última Comissão Política Nacional foi o espelho da frustração interna, apesar de oficialmente a direção garantir que está coesa.

 

Rio não segue conselhos Um dos problemas apontados por fontes sociais-democratas ao líder do PSD é a falta de partilha de informações. Rio é também criticado por ignorar os conselhos que lhe são dados pelos mais próximos. “Nós queremos ajudar, mas não sabemos como”, confidenciou ao i um deputado que esperava mais da liderança de Rui Rio.

“Quem espera ter o lugar assegurado nas listas, percebe que o caminho é incerto, mas não se atravessa contra Rui Rio. Quem já sabe que deve ficar de fora, aguarda uma janela de oportunidade para perceber se pode tirar Rui Rio do caminho”. É desta forma que um antigo governante descreve ao i o momento vivido no partido dos sociais-democratas.

Acresce que o líder social democrata abriu mais uma frente de críticas ao tornar público um comunicado em que apontava o dedo a um membro da sua direção por colaborar com os jornalistas com revelações sobre o que aconteceu na reunião do partido.

“Era desnecessário” ou “isso resolve-se internamente”, confidenciaram ao i duas fontes sociais-democratas preocupadas com a imagem do partido perante a opinião pública.

Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, sintetizou no Facebook a posição de outras fontes parlamentares: “Tenho muita consideração pelo José Silvano [secretário-geral do PSD que revelou o texto conjunto] mas o comunicado que subscreveu foi uma bazookada nos pés”.

Por sua vez, o antigo líder do partido, Marques Mendes, aconselhou, na SIC, Rio a “ser menos arrogante” e mais “humilde”.