Feira de São Mateus. As tradições da festa popular mais antiga da Península Ibérica

Feira de São Mateus. As tradições da festa popular mais antiga da Península Ibérica


Na Feira de São Mateus, as pessoas reúnem-se para aproveitar o tempo em família, ir aos concertos e ainda fazer compras


A “Guardiã das Feiras Populares” – como a organização lhe chama – é um dos eventos mais esperados pelos viseenses. A febre da Feira de São Mateus começa muito antes de a festa abrir as portas: todos os anos, a partir de janeiro, os cartazes alusivos à feira são espalhados pela cidade; as estruturas começam a ser preparadas cerca de três meses antes; e os artistas são revelados em diferentes datas, para aumentar ainda mais a curiosidade de quem já é habitué dos festejos. A edição de 2018 contou com a participação de Raquel Tavares, Mickael Carreira, Anselmo Ralph, Rui Veloso e outros artistas que aqueceram a cidade de Viriato, durante 39 noites consecutivas.

Mas para além da música, o recinto da feira é também um verdadeiro ponto de encontro para muitas famílias. A Viseu Marca e o Município de Viseu – os organizadores – afirmam que no ano passado, a festa atingiu o recorde de 1,2 milhões de visitantes e só no primeiro domingo da edição de 2018 (que começou no dia 9 de agosto e termina no dia 16 de setembro), passaram por lá cerca de 60 mil pessoas – o equivalente aos habitantes do perímetro urbano de Viseu.

Da Cava do Viriato às margens do rio Paiva, o Largo da Feira de São Mateus recebe a festa há 626 anos – é considerada a mais antiga da Península Ibérica. São cerca de 300 expositores de restauração, animação, comércio e entretenimento que dão vida às pequenas ruas que se constroem ao longo do recinto. O grande palco, que fica em cima das águas do Espelho D’Água, já recebeu dezenas de artistas e todos os anos encerra as festividades com um espetáculo ligado às tradições da cidade.

Durante mais de um mês, o típico aroma a algodão doce ou pipocas, invade a cidade de Viseu. A festa também possuí outras opções, como gelados e crepes ou umas mais requintadas, como sementes de girassol torradas e cocktails especiais. Mas é a diversificação do cartaz, o principal contributo para o aumento no número de visitas.

O comércio varia desde o artesanato à venda de carros; a animação conta com inúmeras atrações que agradam os mais novos e os graúdos; a restauração também apresenta várias opções de fast-food e restaurantes que já fazem parte da história da feira; e as visitas guiadas na cidade de Viseu, esgotaram nos últimos anos. É ainda possível adquirir uma grandiosa piscina de jardim ou fazer outras compras para a casa como lençóis, mobília, objetos de decoração, panelas e até tapetes. Como também há animais que esperam um novo dono e roupa e calçado para todas as idades.

A Feira de São Mateus está aberta de segunda a sexta-feira, do meio dia às 2h da manhã e aos domingo das 11h da manhã às 2h da manhã. A entrada é gratuita na maioria dos dias, mas conta também com dias pagos, consoante o artista que vai atuar.

 

Um dia na Feira

Apesar de a festa ter dias de acesso livre e outros pagos, em qualquer um deles o cenário é semelhante porque “quem lá vai, acaba por sempre querer ir uma segunda ou uma terceira vez”, afirma Marta Filipa Costa, habitante de Viseu.

A zona onde por norma se concentram mais pessoas é junto às diversões ou no Picadeiro – a principal artéria da feira -, que atravessa todo o largo desde a porta de Viriato até ao palco principal. Marta Costa conta que em ambas as zonas é também onde mais barulho se ouve: no dos carrosséis “os mais pequenos imploram até os pais lhe comprarem uma viagem” ou nas diversões mais perigosas “os jovens e os adultos esperam ansiosamente, entre risos e conversas altas por conta da música das colunas gigantes”. Mas em nenhum dos casos, se veem “pessoas chateadas”, aliás, a visitante habitual confessa que “as pessoas parecem gostar da confusão, por estarem alegres no meio do barulho”.

A diversão mais conhecida – ou pelo menos aquela que tem sempre mais pessoas na fila – é a roda gigante. Desde a abertura, até ao fecho, há sempre pessoas a quererem subir até ao topo e ver todo o espaço da feira, explica Marta Filipa Costa.

Já no que diz respeito aos jogos, o da lata surpresa é, sem dúvida, o mais concorrido – nesta montra sai sempre prémio. Cada participante paga dez euros para adquirir senhas com animais e letras, que correspondem a um prémio final. No entanto, também se habilitam a ganhar uma lata surpresa, com direito a escolher qualquer um dos prémios do camião, que vão desde ursos de peluches gigantes a uma mota. 

A Casa da Enguia é outro clássico da feira. Situado junto à Porta de São Mateus e ao lado do Funicular de Viseu, a casa vende a espécie de peixe em formato de conserva e a qualquer hora que se visita, há sempre pessoas interessadas.

A edição deste ano contou com a presença do Presidente da República, que, para além das habituais selfies, também esteve junto dos visitantes a festejar numa das feiras mais antigas do mundo. 

 

A feira vista como um negócio

Após mais de seis séculos de história, a feira continua a atrair milhares de pessoas todos os anos e a contribuir para a economia da cidade. Segundo os dados do Município de Viseu, os hotéis registam uma taxa de ocupação a rondar os 75%. O estudo da organização revela ainda que os turistas que mais visitam São Mateus são do oriundos do Brasil, de Espanha, de França, da Alemanha, do Reino Unido e da Holanda.

O investimento na feira chega aos 1,7 milhões de euros e o presidente da Câmara Municipal de Viseu, Almeida Henriques, considera que “é um evento sustentável e que ainda dá lucro”.

No meio da pequena cidade que se começa a construir antes do verão chegar, surgem ainda ofertas inesperadas: uma farmácia só para a feira e um multibanco portátil, disponível apenas naqueles dias.