Chegaram com pés de veludo, com um discurso “democrático”, invocando a defesa de “causas fraturantes”, tentando fazer esquecer um passado ideológico recente, totalitário, intolerante e gerador de ódio.
Depois, refastelados à mesa do poder, graças ao acordo da geringonça, começaram, pouco a pouco, a revelar a sua verdadeira face: a intolerância na defesa de uma sociedade normalizada segundo as suas regras. Uma espécie de estalinismo do séc. xxi.
Nesta sociedade, todos os empresários são “exploradores do povo” e a nacionalização é a solução para todos os males.
A solução é, portanto, o Estado. Mais Estado, mais intervenção dos governos, maior peso do setor público.
Uma sociedade talvez com o modelo “chavista”, tão celebrado no passado recente. Basta recordar as palavras da eurodeputada do BE Alda Sousa, em março de 2013, quando da morte do ditador venezuelano:
“Enquanto, na Europa, a democracia está a falhar, na Venezuela, a democracia participativa tornou-se num sinal de identidade.”
Nesta nossa sociedade desorientada, desgovernada e cansada, é natural que este canto de sereia ainda encante alguns. Na verdade, a resposta política a esta fúria normalizadora tem-se revelado ineficaz e, em muitos casos, contraproducente.
No passado recente, a tentativa liberal fracassou, muito por culpa das políticas aplicadas, na sequência de leituras apressadas e mal digeridas dos clássicos.
A generalidade da comunicação social alimenta o folclore mediático em vez de procurar pesquisar e desenvolver os temas que são realmente importantes e ouvir novas vozes e conhecer novas abordagens. O discurso circula, invariavelmente, em redor dos mesmos.
Em vez de procurar temas próprios, a comunicação social vai-se citando entre si.
Este discurso perigosamente normalizador é uma bênção para o poder instituído, uma vez que o controla, definindo quem são os maus e os bons. Os novos “engenheiros das almas” andam por aí.
A extrema-direita está a crescer na Europa? Claro que sim.
O seu crescimento constitui um perigo para a democracia? Claro que sim.
Será aplicando políticas proibicionistas que vamos combatê-la? Claro que não!
Como defender a democracia?
Com mais democracia!
É urgente, é necessário que as pessoas entendam claramente que a democracia é o único sistema que as defende na sua plenitude.
E, para isso, é essencial que nenhuma das suas regras essenciais seja abolida.
Quem defende essa abolição esconde ideais totalitários.
Quando as pessoas entenderem isto, não hesitarão em lutar pela verdadeira democracia.
Jornalista