Comandos. “Não esquecemos e não queremos que nos roubem a história”

Comandos. “Não esquecemos e não queremos que nos roubem a história”


Associação sai em defesa do coronel exonerado e da memória de antigo militar do 25 de Novembro. Pipa Amorim já não é comandante do Regimento de Comandos


A Associação de Comandos saiu em defesa do coronel Pipa Amorim, que ontem cumpriu o último dia de serviço como comandante do Regimento de Comandos, depois da exoneração. A evocação da memória de Victor Ribeiro, fundador da Associação de Comandos e um dos elementos que ajudou Jaime Neves a liderar os comandos no 25 de Novembro foi um dos motivos que levou ao afastamento de Pipa Amorim pelo chefe do Estado-Maior do Exército. Mas a associação aplaude a memória: “Acho muito bem que tenha recordado o seu camarada. Não esquecemos aqueles que estão para trás. Não queremos que nos roubem a história”, disse ao i o presidente da instituição, Lobo do Amaral.

Oficialmente, o Exército “não comenta casos particulares” e escuda-se na lei para dizer que a exoneração – palavra que nunca usa – resulta das “rotações de comandantes”, que normalmente cumprem dois anos no posto. Pipa Amorim não tinha completado ano e meio no cargo.

Mais, o coronel pediu para passar à reserva, condição que só se aplica a quem já tem pelo menos 55 anos de idade. Os comandos serão liderados a partir de hoje pelo coronel de infantaria Eduardo Pombo.

Uma das razões que terá irritado Rovisco Duarte – e contribuído para a saída de Pipa Amorim – traduziu-se na evocação de uma figura num período histórico do país muito conturbado e que culminou com o fim do período revolucionário em curso (PREC), o 25 de Novembro. “ Se vivemos hoje na sociedade que vivemos, boa ou má, ela deve-se ao 25 de Novembro. O 25 de Novembro é que repôs a democracia e os valores da democracia. Vivemos num regime saído do 25 de Novembro”, defende ao i José Lobo Amaral.

Victor Ribeiro morreu aos 77 anos e foi agraciado pelo Presidente da República na véspera da sua morte a 24 de março.

Pipa Amorim não o esqueceu numa cerimónia no passado dia 13 de abril. “Permitam-me homenagear e prestar o meu público reconhecimento a este grande português, um dos últimos guerreiros do império, que como militar, adicionalmente à sua promoção por distinção, foi condecorado com as medalhas de Valor Militar e da Cruz de Guerra e como civil foi agraciado, na véspera do seu falecimento, ainda consciente, no leito onde agonizava, com a Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República”, declarou na receção de estandarte nacional do contingente de militares que estiveram na República Centro-Africana”.

Volvidos mais de 40 anos sobre o 25 de Novembro de 1975, que opôs a chamada esquerda militar e os moderados do Movimento das Forças Armas (MFA), ainda existem motivos para irritação ou incómodo? No final de março, Jaime Nogueira Pinto, politólogo e empresário de direita, lembrou Victor Ribeiro, “como um herói português. Antigo comando, no Verão Quente de 1975 foi o elemento-chave na mobilização de camaradas para as companhias de convocados que seriam decisivas no 25 de Novembro”, escreveu no Observador, confessando a sua larga admiração pelo antigo comando.

Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de abril, garante que “pessoalmente não o evocaria”, mas “com certeza que há quem o queira evocar”, diz ao i, frisando que “tem dificuldades em aceitar que a evocação de Victor Ribeiro tivesse pesado” na exoneração de Pipa Amorim.

De facto, não foi o único. A forma como defendeu os comandos e a instituição numa altura em foram constituídos arguidos 19 militares (sem apoio do Exército para custas judiciais) no processo sobre a morte de dois recrutas (Dylan Silva e Hugo Abreu) também terá contribuído para a decisão final.

O almoço de solidariedade do próximo dia 8, que está a ser organizado pelo tenente-coronel Tinoco Faria, contará com a presença não só de comandos, mas também de paraquedistas. O presidente da comissão de honra da homenagem é o anterior chefe de Estado-Maior do Exército, o general paraquedista Carlos Jerónimo, num encontro que está a ser promovido como forma “de repúdio” pelo afastamento precipitado de Pipa Amorim. Segundo apurou o i, o antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, não estará presente, nem o antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, Pinto Ramalho, por se encontrar de férias. Mas a Associação de Comandos promete comparecer “em massa”. “Estamos incondicionalmente com o senhor comandante, por dever lealdade, porque somos comandos”, concluiu ao i Lobo Amaral.

Já o Exército “não comenta a realização de atividades (culturais ou outras) que não sejam da responsabilidade ou competência do ramo”.