31 de julho de 1955. O soldado português é tão bom como os demais

31 de julho de 1955. O soldado português é tão bom como os demais


Por todos os quartéis das cidades de Portugal Continental, das Ilhas Adjacentes e dos Territórios Ultramarinos, um grito em uníssono: “Juro, como português e como militar…” Bandeiras nacionais drapejando ao vento. Uma febre militarizada, cerimónias de fortíssima identidade patriótica. Milhares de recrutas completavam a instrução


Uma febre militarizada tomou conta do país nesse final de julho de 1955. 

Por todo o Portugal, do Minho a Timor, uno e indivisível, como mandava recitar o regime, a soldadesca jurava bandeira e dedicava à pátria o seu amor indefetível que ia do fundo da alma até à morte, se necessário fosse.

Uma solenidade de fardas.

O ministro da Defesa, Santos Costa, andava numa atafona, bordejando quartéis para oficializar cerimónias. Às 11 da manhã passou revista a uma guarda de honra do Regimento de Artilharia, constituída por uma bateria e três pelotões. Seiscentos e oitenta novos praças gritavam: “Juro!” 

O ministro não disfarçou um sorriso.

Em Lanceiros 2, antes do grito, houve enunciação dos deveres militares. E uma tremenda alocução patriótica.

O rancho foi melhorado em todas as unidades. Afinal, nada como ter a barriga confortada para suportar tanto aparato.

Quinhentos e cinquenta recrutas desfilaram com garbo e pertinácia em Caçadores 5. Continência obrigatória, claro está. Os moços, vermelhos de calor e de orgulho, mostravam as botas brilhantes de graxa e acertavam o passo de forma impecável. Nem um tropeço!

Em Metralhadoras 1, o aspirante Val de Andrade repetiu o que o seu camarada miliciano Vítor Direito fizera nos Lanceiros: discurso breve, frases curtas, adjetivos imponentes, dedicação à causa.

Dos 500 que juraram bandeira no aquartelamento das Companhias de Trem-Auto, 270 seriam destinados à condução de veículos militares. O soldado Campos, n.o 117, foi distinguido com um louvor: melhor soldado da última recruta. Encheu o peito e não foi só de vento. Depois atirou-se de cabeça para a prova de ginástica e para a gincana de motos e automóveis. Pau para toda a obra!

Ah! E à noite não faltou um espetaculozinho de variedades para limpar a cabeça dos ajuramentados.

Cascais, Queluz, Évora, Beja, Lourenço Marques, Bissau: em todas as cidades de Portugal Continental, das Ilhas Adjacentes e dos Territórios Ultramarinos, jovens erguiam os braços triunfantes, recrutas cumpridas, carreiras pela frente.

Em Coimbra, nos regimentos de Infantaria 12 e de Artilharia Ligeira 2, e nos Grupos de Companhias de Saúde, as cerimónias tinham um brilho distinto. No Quartel de Santa Clara celebrou–se uma missa, na Capela de Santa Bárbara. O capitão Tristão de Carvalhais não perdeu a oportunidade de destacar a força que uma homilia pode conceder a um soldado português, que é tão bom como os demais.

Em Mafra, na EPI, Escola Prática de Infantaria que muitos apelidavam de “Entrada Para o Inferno”, 1100 recrutas prestaram continência ao general Pinto Ribeiro, diretor da Arma de Infantaria. Seguiu-se uma missa campal. Depois distribuíram-se cem diplomas a praças da última classe que tinham tido bom aproveitamento.

Na Figueira da Foz, em Metralhadoras 2, o luzimento foi encandeante. Uma espetacular formatura do Regimento de Artilharia Pesada n.o 3 ouviu atentamente os deveres militares pronunciados pelo capitão Andrade.

Um berro uníssono fez estremecer os alicerces de todo o país: “Juro, como português e como militar, guardar e fazer guardar a Constituição e as leis da República, servir as Forças Armadas e cumprir os deveres militares. Juro defender a minha Pátria e estar sempre pronto a lutar pela sua liberdade e independência, mesmo com o sacrifício da própria vida.”

Verdes e vermelhas, as bandeiras drapejavam ao vento.