Eficácia e desperdício


 Para apreciar um goleador como Jonas é preciso atentar no exemplo de Ruiz


Quando o Benfica contratou Jonas, há três anos e meio, achei que ia ser um flop. Vinha do Valência, onde não era titular, e já tinha 30 anos. Há muito tempo que não jogava com regularidade e chegou a custo zero. Que esperar de um futebolista com este currículo?

Ainda por cima, ia ser inevitavelmente comparado com um artilheiro chamado Óscar Cardozo, que tinha feito grandes temporadas na Luz.

Jesus não pôs Jonas logo a jogar – e isso reforçou a convicção de que fora uma aposta falhada. Mas logo que entrou começou a marcar, e nunca mais parou. Rapidamente conquistou um lugar na equipa principal e, logo a seguir, ganhou o estatuto de intocável. Tinha renascido para o futebol. O mérito atribuiu-se a Jorge Jesus, que o encaixou num sistema com dois avançados, onde ele tinha mais espaço para jogar. Num sistema 4x3x3, entalado entre os defesas centrais adversários, Jonas não faria nada – era o que se dizia.

Jesus saiu e entrou Rui Vitória, mas Jonas continuou a marcar. Até que se lesionou com gravidade. Esteve uns meses fora. Com 32 anos, deveria ser o fim da carreira. Mas voltou, reconquistou o lugar na equipa e parecia ainda melhor.

Vitória mudou o sistema, passou do 4x4x2 para o 4x3x3 – e Jonas, como se previa, saiu da equipa e sentou-se no banco de suplentes. Desta vez é que era o fim. Mas passadas umas semanas, Jonas voltou, agora como avançado único, e continuou a marcar. A ideia de que só poderia jogar num sistema com dois avançados revelou-se um mito. Hoje, com 33 anos, Jonas é o goleador mais perigoso do campeonato, tem quase tantos golos apontados como o resto da equipa do Benfica e é o melhor marcador da Europa. Olhando para ele, marcar golos parece fácil.

E só percebemos a dificuldade quando vemos o que fazem outros. Bryan Ruiz chegou ao Sporting com um rótulo de qualidade, que confirmou, mas logo se viu que a sua relação com a baliza era difícil. No primeiro ano em Portugal falhou dois golos em Guimarães e um golo em Alvalade contra o Benfica – que, a serem marcados, teriam dado ao Sporting o título de campeão.

E o azar continua até hoje. Remata ao poste, remata ao lado, remata contra o guarda-redes, só não atina com a baliza. Na quinta-feira, na República Checa, por duas vezes apareceu sozinho e das duas falhou: numa atirou escandalosamente para fora, noutra proporcionou uma grande defesa ao guarda-redes adversário. Faz tudo… menos marcar.

Diz-se que para saber apreciar um bom queijo é preciso comer também maus queijos. Para apreciar um goleador como Jonas é preciso atentar no exemplo de Ruiz. Para um, marcar golos parece facílimo; para o outro, parece a coisa mais complicada do mundo.


Eficácia e desperdício


 Para apreciar um goleador como Jonas é preciso atentar no exemplo de Ruiz


Quando o Benfica contratou Jonas, há três anos e meio, achei que ia ser um flop. Vinha do Valência, onde não era titular, e já tinha 30 anos. Há muito tempo que não jogava com regularidade e chegou a custo zero. Que esperar de um futebolista com este currículo?

Ainda por cima, ia ser inevitavelmente comparado com um artilheiro chamado Óscar Cardozo, que tinha feito grandes temporadas na Luz.

Jesus não pôs Jonas logo a jogar – e isso reforçou a convicção de que fora uma aposta falhada. Mas logo que entrou começou a marcar, e nunca mais parou. Rapidamente conquistou um lugar na equipa principal e, logo a seguir, ganhou o estatuto de intocável. Tinha renascido para o futebol. O mérito atribuiu-se a Jorge Jesus, que o encaixou num sistema com dois avançados, onde ele tinha mais espaço para jogar. Num sistema 4x3x3, entalado entre os defesas centrais adversários, Jonas não faria nada – era o que se dizia.

Jesus saiu e entrou Rui Vitória, mas Jonas continuou a marcar. Até que se lesionou com gravidade. Esteve uns meses fora. Com 32 anos, deveria ser o fim da carreira. Mas voltou, reconquistou o lugar na equipa e parecia ainda melhor.

Vitória mudou o sistema, passou do 4x4x2 para o 4x3x3 – e Jonas, como se previa, saiu da equipa e sentou-se no banco de suplentes. Desta vez é que era o fim. Mas passadas umas semanas, Jonas voltou, agora como avançado único, e continuou a marcar. A ideia de que só poderia jogar num sistema com dois avançados revelou-se um mito. Hoje, com 33 anos, Jonas é o goleador mais perigoso do campeonato, tem quase tantos golos apontados como o resto da equipa do Benfica e é o melhor marcador da Europa. Olhando para ele, marcar golos parece fácil.

E só percebemos a dificuldade quando vemos o que fazem outros. Bryan Ruiz chegou ao Sporting com um rótulo de qualidade, que confirmou, mas logo se viu que a sua relação com a baliza era difícil. No primeiro ano em Portugal falhou dois golos em Guimarães e um golo em Alvalade contra o Benfica – que, a serem marcados, teriam dado ao Sporting o título de campeão.

E o azar continua até hoje. Remata ao poste, remata ao lado, remata contra o guarda-redes, só não atina com a baliza. Na quinta-feira, na República Checa, por duas vezes apareceu sozinho e das duas falhou: numa atirou escandalosamente para fora, noutra proporcionou uma grande defesa ao guarda-redes adversário. Faz tudo… menos marcar.

Diz-se que para saber apreciar um bom queijo é preciso comer também maus queijos. Para apreciar um goleador como Jonas é preciso atentar no exemplo de Ruiz. Para um, marcar golos parece facílimo; para o outro, parece a coisa mais complicada do mundo.