As vantagens do mau tempo


Portugal parece um país que não está preparado para qualquer tipo de intempérie. Se não chove é a seca, se chove é o dilúvio. Mas o mais curioso nesta fatalidade lusa é que, ouvindo as populações, estas, na maior parte dos casos, acabam por desdramatizar os problemas. 


Numa altura em que o país, ou parte dele, continua em seca extrema, seria de “louvar” o aparecimento de chuva, mesmo que em quantidades fortes. Mas o enfoque dado é precisamente o contrário: as estradas estão cortadas e um percurso que se faria numa hora demora sete; algumas cidades estão bloqueadas e as crianças não podem ir à escola; ou a queda de árvores amachucou meia dúzia de carros. Que se saiba, até à hora que escrevo, só houve uma morte provocada pelo mau tempo e refere-se a um profissional que tinha por missão rebocar navios de grande porte.

Ao ouvir uma senhora comentar na televisão, com toda a naturalidade, que a neve e a chuva são uma mais- -valia, pois matam os bichos que prejudicam a agricultura, percebemos que a notícia muitas vezes não está na “tragédia”, mas sim no que de bom ela traz. É óbvio que o furacão ou furacões que assolaram o Algarve não são normais, mas essa é outra história. Agora, nevar na serra da Estrela ou em Bragança é um fenómeno anormal? Anormal é a serra da Estrela ficar interdita ao comum dos mortais mal caem os primeiros nevões.

Que sentido faz a nossa principal estância de inverno não ter capacidades para manter as estradas transitáveis? O turismo perde; pessoas que fizeram centenas de quilómetros para chegar ao cume da serra são obrigadas a voltar para trás, e por aí fora. Resumindo: é preciso combater esta lengalenga da desgraça lusitana. A chuva faz falta, bem como o sol é uma mais-valia para os veraneantes.

Agora que as estações estão todas trocadas e que as alterações climáticas são uma realidade, isso também é indesmentível. Mas não precisamos de entrar em pânico por causa de condições adversas.