Esta menina que vos escreve festejou os seus novos 28 anos na passada terça-feira (desculpem começar este texto a falar na terceira pessoa, como faz a Maria Leal. A Marine promete voltar ao seu normal) e, como vocês sabem, foi uma emoção infinita. Nunca conseguirei explicar (nem mesmo aos meus) o que significa para mim festejar o aniversário.
Anseio todos os anos por este dia porque tenho saudades do que sinto a 13 de fevereiro: há uma inexplicável gratidão, uma emoção tão grande por estar viva, e vejo-me lúcida duma forma diferente. Percebo com maior facilidade a sorte que tenho, contemplo ainda melhor o que me rodeia, amo cada pedacinho de terra e cada onda do mar com maior entrega.
Depois de uma corrida maravilhosa, no dia antes do meu nascimento oficial, decidi dar um mergulho no nosso mar gélido. Adorei. Adorei a sensação de mergulhar e deixar que o mar levasse com ele toda a carga, todos os medos, e me fizesse nascer de novo. É tão importante para mim este simbolismo de fechar um ciclo e abrir outro, mas agora mais lúcida, mais serena, com mais mar dentro de mim. Mesmo que isso signifique enfrentar o frio do inverno. Para mim, o aniversário é sempre uma oportunidade perfeita para agradecer e para nascer de novo porque o mundo diz-nos que ainda continuamos por cá.
Finalmente, acordei na manhã seguinte com o sentimento de aniversariante a borbulhar: com a sensibilidade à flor da pele (para o bem e para o mal), só queria estar rodeada das minhas pessoas, repleta de amor. Não mudei assim tanto e ainda bem. Não estou mais contida nos festejos, na alegria e na festa, não tenho menos vontade de aparvalhar, não me rio mais baixo, não quero menos. Quero gargalhadas e bem-estar no meu dia de anos, sempre! Foi assim outra vez este ano e há de ser assim até ao dia em que não consiga soprar as velas sem tirar a dentadura antes. E quando aqui não estiver, espero que as minhas pessoas continuem a lembrar-me entre jogos e histórias constrangedoras, com boa energia e abraços largos.
Como sabia que os meus amigos não me iriam dizer que não (já me conhecem suficientemente bem para alinharem em histerismos festivos comigo), pedi que os convidados da minha pequena festa fossem mascarados de criança. O tema do festejo? “Ser criança porque os adultos são chatos!”
Os adultos falam demasiado tempo sobre trabalho e colegas de quem não gostam, os adultos conversam sobre os problemas de casa e o carro que avariou e a conta da internet que aumentou, enquanto mexem no telemóvel e não olham para as caras uns dos outros, porque os adultos desprezam os outros adultos. Nesta festa teríamos de ser crianças, brincar a jogos como o “polícia e o ladrão”, à mímica e aos teatros, e a minha família criou uma música e todos batemos palmas a cada verso, a cada brincadeira. Para ter a certeza de que ninguém escapava ao espírito, vesti uma fralda e distribuí outras tantas (as fraldas espoletaram muitas piadas más sobre o tema assaduras), e a verdade é que o riso saiu mais genuíno para todos porque ninguém se sentiu julgado. Éramos só uns putos felizes com uma carga excessiva de doces no sangue (e algum gelly vodka à mistura), livres e inteiros, sem complexos de inferioridade nem competições de ego, tão comuns no mundo dos grandes.
Fiz 28 anos com o espírito de uma criança de cinco e, garanto-vos, não me sinto imatura nem alguém que se recusa a crescer. Pelo contrário. Apago as velas a desejar que nunca deixe de crescer em essência, em amor, em humor, e não há melhor forma de fazer isso do que vestir uma fralda sem medo do ridículo. Porque felizes são aqueles que se riem da sua loucura com a noção de que o mundo perfeito não existe – e a única forma de sobreviver ao que existe é a brincar.
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