Afeganistão. Taliban pressionam americanos em carta aberta

Afeganistão. Taliban pressionam americanos em carta aberta


Jogada inesperada do grupo radical tenta chamar a atenção para o dinheiro americano investido na guerra. 


Os Taliban afegãos executaram esta quarta-feira uma inesperada manobra diplomática ao publicarem uma carta aberta dirigida aos EUA, na qual pedem negociações diretas e asseguram que só dessa forma a onda de violência no país parará e que os contribuintes americanos deixarão de pagar por uma guerra inútil.

“Caso a política do uso da força prossiga nos próximos cem anos, o resultado será o mesmo, assim como têm observado nos últimos seis meses, desde que começou a nova estratégia de Trump”, argumenta o grupo, que vem ganhando força nos últimos anos.

O presidente norte-americano prometeu no ano passado uma nova estratégia para lidar com o conflito afegão. Donald Trump aumentou o número de tropas americanas no país em três mil militares, destinados especialmente a combater os ataques dos Taliban, que vêm recuperando terreno nas zonas rurais.

A tática de Trump não é muito diferente de reforços militares passados, salvo pelo facto de esta vez não haver data-limite para o regresso dos 14 mil soldados que os EUA têm hoje no Afeganistão.

Os reforços americanos parecem não ter melhorado a situação. Os Taliban controlam hoje mais território do que no ano passado e executam alguns dos mais sangrentos atentados terroristas no mundo. Só em janeiro, em dois ataques em Cabul, os Taliban mataram 150 civis, causando simultaneamente o caos na capital, o descrédito do governo afegão e reforçando a sensação, nos Estados Unidos e no Afeganistão, de que a presença americana provoca mais violência que o contrário.

Na carta desta quarta-feira, o grupo islamista cita vários números de agências americanas e internacionais, incluindo a ONU, descrevendo o aumento da violência, a expansão do seu território, o crescimento na produção de heroína e também as “dezenas de milhares de milhões de dólares” que Washington entrega a “ladrões e assassinos”.

A chantagem, em princípio, não alterará a postura dos EUA, que rejeita negociar diretamente com os Taliban. Em todo o caso, o grupo pressiona uma ferida aberta na política interna americana. Na segunda-feira, por exemplo, os Taliban convidaram o senador conservador e libertário Rand Paul, um grande crítico da ocupação americana do Afeganistão, para discutir o assunto nos seus gabinetes do Qatar.