É preciso lutar contra a nova escravatura


Quem quer ir para pescador arriscar a vida se depois o ordenado é uma miséria? Quem quer ir trabalhar para a indústria do mar se os ordenados forem baixos? 


Há dias uma amiga contava-me, com um ar desolado, que na empresa onde trabalha há um conjunto de pessoas que se habituaram a andar curvadas e com o olhar vazio. São colegas que foram colocados na categoria dos “emprateleirados”, já que os seus postos de trabalho estão a ser ocupados por gente muito mais nova que ganha muito menos e aceita todas as exigências do patrão.

O caso que me contou é apenas um entre muitos outros que oiço em vários lugares. O bullying que é feito só tem um objetivo: fazer com que esses trabalhadores aceitem uma indemnização baixa e vão para casa, contribuindo para que alguns administradores possam, no final do ano, ser premiados com bónus chorudos.

Outro caso relatado que me fez imensa confusão foi a de administrativas de hospitais privados que recebem o ordenado mínimo e são obrigadas a levar com os protestos dos utentes, que não param de aumentar, rivalizando essas consultas com as do serviço público. Isto é: cada vez se paga mais no privado e os funcionários cada vez recebem menos.
O dramático nestes casos é que a tendência é sempre para piorar e já nem há a desculpa da troika. Agora, a economia floresce, os turistas deixam cá milhões, mas as empresas insistem em fazer uma renovação por baixo. É inaceitável que empresas lucrativas paguem tão mal aos seus empregados e os tratem tão mal.

Nesta edição, a ministra do Mar explica que o setor está em franca expansão e que até falta muita mão-de-obra, alertando, no entanto, que é preciso pagar mais para atrair mais pessoas. Quem quer ir para pescador arriscar a vida se depois o ordenado é uma miséria? Quem quer ir trabalhar para a indústria do mar se os ordenados forem baixos? Portugal, para ganhar o epíteto de nova Noruega ou Suécia, tem de perceber que não é com ordenados miseráveis que lá chegará. A riqueza tem de ser mais bem distribuída e os partidos mais à esquerda no parlamento terão aqui um papel determinante. Ao contrário de irem destruir empresas onde se paga bem, como é o caso da Autoeuropa, concentrem-se naquelas que fazem bullying e tratam os trabalhadores como os novos escravos do séc. xxi.


É preciso lutar contra a nova escravatura


Quem quer ir para pescador arriscar a vida se depois o ordenado é uma miséria? Quem quer ir trabalhar para a indústria do mar se os ordenados forem baixos? 


Há dias uma amiga contava-me, com um ar desolado, que na empresa onde trabalha há um conjunto de pessoas que se habituaram a andar curvadas e com o olhar vazio. São colegas que foram colocados na categoria dos “emprateleirados”, já que os seus postos de trabalho estão a ser ocupados por gente muito mais nova que ganha muito menos e aceita todas as exigências do patrão.

O caso que me contou é apenas um entre muitos outros que oiço em vários lugares. O bullying que é feito só tem um objetivo: fazer com que esses trabalhadores aceitem uma indemnização baixa e vão para casa, contribuindo para que alguns administradores possam, no final do ano, ser premiados com bónus chorudos.

Outro caso relatado que me fez imensa confusão foi a de administrativas de hospitais privados que recebem o ordenado mínimo e são obrigadas a levar com os protestos dos utentes, que não param de aumentar, rivalizando essas consultas com as do serviço público. Isto é: cada vez se paga mais no privado e os funcionários cada vez recebem menos.
O dramático nestes casos é que a tendência é sempre para piorar e já nem há a desculpa da troika. Agora, a economia floresce, os turistas deixam cá milhões, mas as empresas insistem em fazer uma renovação por baixo. É inaceitável que empresas lucrativas paguem tão mal aos seus empregados e os tratem tão mal.

Nesta edição, a ministra do Mar explica que o setor está em franca expansão e que até falta muita mão-de-obra, alertando, no entanto, que é preciso pagar mais para atrair mais pessoas. Quem quer ir para pescador arriscar a vida se depois o ordenado é uma miséria? Quem quer ir trabalhar para a indústria do mar se os ordenados forem baixos? Portugal, para ganhar o epíteto de nova Noruega ou Suécia, tem de perceber que não é com ordenados miseráveis que lá chegará. A riqueza tem de ser mais bem distribuída e os partidos mais à esquerda no parlamento terão aqui um papel determinante. Ao contrário de irem destruir empresas onde se paga bem, como é o caso da Autoeuropa, concentrem-se naquelas que fazem bullying e tratam os trabalhadores como os novos escravos do séc. xxi.