PSD: ou ganha Santana Lopes ou ganha António Costa


Entregar o PSD a Rui Rio e a José Pacheco Pereira poderá significar o colapso do partido a médio trecho. E dar mais um presente a António Costa… que não merece!


1. A poucos dias da realização do ato eleitoral, cumpre apreciar o que tem sido a campanha dos dois candidatos e projetar qual será a melhor solução para o futuro (imediato e a médio prazo) do partido. Em primeiro lugar, não deixa de ser sintomático das dificuldades de afirmação do PSD no atual momento histórico o escasso relevo que a cobertura das eleições diretas tem merecido nos principais órgãos de comunicação social, sobretudo comparando com eleições internas partidárias precedentes.

2. Basta pensar, por exemplo, que a apresentação das candidaturas mereceu, num jornal diário com tradição histórica, uma simples referência de fim de página. Há aqui responsabilidades próprias dos candidatos (que nunca lograram mobilizar a atenção dos militantes, muito menos dos portugueses) e opções incompreensíveis de uma parte substancial da comunicação social portuguesa (afinal de contas, a ajuda à geringonça manifesta-se de forma direta e indireta, por ação e por omissão). Vivemos num sistema em que o parlamento e o governo são o eixo principal da atividade governativa, em que só os partidos políticos poderão estar representados no parlamento, sendo, por conseguinte, elevados a um estatuto de sujeitos primaciais da democracia – no entanto, o principal partido da oposição (e o maior partido português) merece menos atenção mediática do que o destino da hérnia que foi retirada ao Presidente da República.

3. Em segundo lugar, a campanha de ambos os candidatos foi paupérrima, distinguindo-se pela vacuidade de ideias e pela ausência de um projeto consistente para o futuro de Portugal. O que também não surpreende: os candidatos, pelo seu percurso individual e já longo na política portuguesa, tiveram receio de falar, de forma arrojada e assertiva, para os portugueses, optando antes por cumprir os mínimos na conquista de votos entre os militantes do partido. Primeiro, trata-se de conquistar a vitória no partido; depois, e só depois, pensar-se-á (a sério) no futuro do país. Foi uma estratégia “poucochinha” que salvaguardou e poupou… o “senhor poucochinho” que lidera o governo de Portugal.

4. Dito isto e ponderado, qual o candidato mais adequado para liderar o PSD no atual ciclo político (que termina com as eleições legislativas, teoricamente em 2019)? Julgamos que é Pedro Santana Lopes. Isto essencialmente pelas seguintes razões:

4.1 Em termos de perfil, o atual ciclo político reclama mais um perfil como o de Santana Lopes e é adverso às características de personalidade de Rui Rio. De facto, o PSD encerra, com Pedro Passos Coelho, um período muito complexo para Portugal (e, logo, para o PSD), marcado pelo período de ajustamento financeiro. A realidade impôs que Pedro Passos Coelho, na sua governação, se desviasse do seu pensamento político-ideológico: o seu liberalismo de princípio que havia apresentado aos militantes do PSD em 2010 deu lugar ao financeirismo com preocupações sociais (note-se que o Estado social foi salvaguardado, sobretudo para os setores da população mais vulneráveis), de caráter burocrático e técnico. Foi o pragmatismo de Passos Coelho (com alguns erros e falhas) que permitiu os tempos mais “descomprimidos” de que tanto se fala hoje. Ora, os militantes do PSD, encerrando o ciclo da atual liderança, poderão ser tentados a iniciar uma nova fase com um perfil de líder diferente. Menos racional e mais emotivo. Menos explicativo e mais combativo. Menos rigoroso e mais persuasivo. Menos coerente e mais flexível. Ou seja, um perfil como o de Pedro Santana Lopes. Rui Rio tem um perfil de técnico superior das finanças, que é incompatível com as exigências muito próprias de um partido na oposição (e que lidera a oposição). Este é o tempo de puxar pela história do partido, pela sua capacidade de resiliência, pela emoção, pelo sentimento e pela assertividade na desconstrução da fraude que foi imposta aos portugueses para salvar o projeto de poder pessoal de António Costa.

4.2 Santana Lopes tem revelado um maior respeito pelos militantes do PSD do que Rui Rio. E isso ficou patente na forma como Rui Rio abordou o último debate: ao contrário do que se esperaria, Rui Rio apareceu sem qualquer estratégia, sem discurso (para além de banalidades que já repetia à exaustão mesmo antes de ser candidato a líder) e apenas para marcar presença nos estúdios da RTP. Fica-se com a sensação de que Rui Rio julga que tem o direito natural a ser líder do partido, sem apresentar ideias nem conquistar a confiança dos militantes: haveria uma espécie de “vaga de fundo” que elegeria Rui Rio em qualquer circunstância. Um apoiante de Rio contou-nos há dias que o ex-presidente da Câmara do Porto já havia preparado a sua candidatura há mais de um ano. Ora, foi isto que Rui Rio andou a preparar há mais de um ano? E se Rui Rio, depois de mais de um ano de trabalho político intenso, só tem isto para nos oferecer, pergunta-se legitimamente o que será Rui Rio como líder da oposição…

4.3 Por outro lado, Rui Rio já era dado pela comunicação social como o substituto de Passos Coelho – partia, pois, em vantagem para a contenda eleitoral social-democrata. No entanto, a sua postura, sobretudo no debate, foi de número dois: em vez de atacar, Rio defendeu. Em vez de liderar o debate, Rio limitou-se a seguir a argumentação de Santana Lopes. Foi, enfim, o n.o 1 (Rio) que se preocupou com o n.o 2 (Santana) – e não o inverso, como seria expetável.

4.4 Santana Lopes percebe o mundo em que vivemos; Rui Rio não percebe a realidade política e mundial do presente. As premissas e o pensamento de Santana Lopes, para o país e para o partido, estão certas: premência de libertação da sociedade civil; menor Estado, Estado mais forte; crescimento económico assente na iniciativa privada; política externa que exponencie a nossa vocação atlântica, a nossa ligação privilegiada com os países da CPLP, embora respeitando o compromisso europeu. O desafio de Portugal é, pois, a transformação da relação entre o Estado e o cidadão. Já Rui Rio entende que a prioridade está na organização política, ou seja, na organização do próprio Estado, incluindo do próprio Ministério Público. Como diria Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes é televisão a cores; Rui Rio ainda é televisão a preto e branco.

4.5 Por último, mas muito relevante, já se percebeu que Rui Rio é o candidato preferido do PS, da comunicação social afeta ao PS – e do próprio António Costa. Daí que Rui Rio não seja capaz de afastar claramente, sem margem para dúvidas, o cenário de acordos com o PS de António Costa. E que António Costa – e a comunicação social por si controlada – tenha virado a questão da entrada da Santa Casa no Montepio contra Santana Lopes. Importa ter presente que a iniciativa partiu do governo e teve a bênção, desde a primeira hora, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Perante tal cenário, Rui Rio já veio pedir que Santana explique “tintim por tintim” o negócio: no entanto, não exige o mesmo a António Costa e ao seu governo. Isto é, Rui Rio só tem palavras fortes contra um seu companheiro de partido: já para António Costa, só reserva palavras de grande cordialidade e afabilidade.

4.6 Ora, se os militantes do PSD elegerem Rui Rio, já sabemos que o PSD vai salvar António Costa na próxima legislatura, permitindo o recentramento do PS. Será o fim do PSD: o PS converter-se-á definitivamente no “partido-charneira” do sistema, ora virando à esquerda, ora virando à direita (sempre pronto para assaltar o poder).

4.7 Em suma: no atual contexto político, Santana Lopes é claramente melhor do que Rui Rio. Entregar o PSD a Rui Rio e a José Pacheco Pereira poderá significar o colapso do partido a médio trecho. E dar mais um presente a António Costa… que não merece!

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