CTT: o dinheiro é do povo, não é de Moscovo


O negócio mudou, porque o mundo mudou. A culpa não foi da gestão dos CTT, do governo, dos sindicatos, ou dos trabalhadores


Sejamos claros: a privatização dos CTT foi um excelente negócio para o Estado português. Alienámos um ativo a excelente preço (como o atual preço das ações o comprova), saímos de um mercado em perigosa mutação (o caro leitor ainda envia muitas cartas?) e pagámos zero pelo serviço público de envio e de distribuição de correio postal (que ainda é necessário para o país funcionar). Nós, povo português, saímos a ganhar em toda a linha com este negócio. O nosso dinheiro foi respeitado e o serviço público continua a ser cumprindo. Assim fossem todos os negócios do Estado.

Acontece que a própria natureza do negócio dos CTT está a mudar. Como é óbvio, os particulares e as empresas enviam cada vez menos correspondência física. O próprio Estado, como referiu Francisco Lacerda em entrevista ao ECO24, envia cada vez menos cartas.

No entanto, o brutal aumento do comércio on-line leva a que recebamos cada vez mais encomendas. É precisamente neste mercado que os CTT estão a crescer e onde enfrentam os maiores desafios, dada a enorme concorrência de gigantes internacionais como a Seur, a Chronopost e a DHL, entre outras.

O negócio mudou, porque o mundo mudou. A culpa não foi da gestão dos CTT, do governo, dos sindicatos, ou dos trabalhadores. O mundo está sempre a mudar e sempre que o mundo muda há negócios que deixam de fazer sentido e outros que ganham viabilidade. O trabalhador de hoje, quer queira quer não, tem que viver ciente disto e trabalhar diariamente as suas competências de forma a estar apto para trabalhar em novas realidades. Se não o fizer, estará inevitavelmente a colocar o seu futuro profissional em risco.

As mudanças anunciadas pela administração dos CTT são duras. São 800 pessoas que terão que sair, mudar de carreiras, ou entrar mais cedo na reforma. No entanto, este despedimento justificará a absurda intenção de Bloco de Esquerda e PCP, de colocarem novamente os correios na “esfera do Estado”?

Caro leitor, será que o meu e o seu dinheiro deve servir para o Estado, por muito nobre que seja a intenção de assegurar postos de trabalho, regredir neste negócio e suportar uma empresa que ao que parece continua, sem ónus para os contribuintes, a fazer serviço público?

Vivemos num mundo de transformação digital. Para o BE e para o PCP isso até pode parecer evitável, mas obviamente que não é. Há muitas carreiras, em muitos setores de atividade, que terão que ser readaptadas a uma nova realidade. Temos que aprender a viver com isso e temos também que perceber que não é injetando dinheiro dos contribuintes nestas empresas que conseguiremos criar uma sociedade economicamente mais próspera.

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