Terra chama Mário Nogueira. Escuto


No mundo real, aquele que Mário Nogueira não conhece, a meritocracia, a formação e a capacidade de trabalho contam mais do que a idade


Os professores e os ensinamentos que estes transmitem aos seus alunos são o maior pilar de um país que se quer evoluído. Uma boa educação é o primeiro garante da existência de uma economia verdadeiramente meritocrática e mais permeável à mobilidade social. Sobre isto, ninguém bem-intencionado, seja à esquerda ou à direita, tem dúvidas.

Pesem embora as anteriores considerações, não sou favorável ao atual modelo e obsessão com a escola pública. Acredito que privado e público podem e devem coexistir. Acredito ainda que um Estado que suga 48% dos rendimentos a alguns dos seus cidadãos poderia ter, no mínimo, a decência de deixar que estes pais decidissem se preferem colocar os seus filhos a estudar no privado ou no público, financiando qualquer uma destas escolhas. É triste que CDS e PSD continuem a ter medo de colocar o “cheque-ensino” em cima da mesa.

Tenho vários professores na família e eu próprio, muitas vezes, quando saio do trabalho, dou aulas até às 22h. Sei o que custa dar aulas e não pactuo com o discurso ignorante do “eles não trabalham”.

Nunca dei aulas por dinheiro, faço-o por gostar de ensinar, por querer conhecer novos talentos na minha área e por achar que é minha obrigação enquanto publicitário ajudar a formar uma nova geração de profissionais. Poderia estar antes em casa, confortavelmente, a ver televisão, mas é precisamente por acreditar que o ensino é algo de nobre que opto por ir dar aulas.

No entanto, sei que a maioria das pessoas que dão aulas o fazem como única fonte de rendimento. O que faz com que obviamente, tal como em todas as profissões, se preocupem com o seu nível remuneratório. É óbvio que se queremos bons professores nas nossas escolas, devemos pagar- -lhes condignamente. Profissionais felizes, em qualquer setor de atividade, são profissionais mais motivados para o seu trabalho.

O que está mal nas reivindicações dos sindicatos não é propriamente o facto de exigirem melhores condições salariais para os professores, mas antes o facto de acharem que faz sentido existirem “progressões automáticas” na carreira. Com bem diz José Manuel Fernandes no “Observador”, cá fora, naquilo que o jornalista define como o “mundo real e não protegido dos trabalhadores do setor privado”, as coisas não funcionam assim.

Se o professor de 24 anos é melhor a dar aulas do que o professor de 60 anos e ainda consegue obter melhores resultados dos seus alunos, então este jovem professor deve ser mais bem remunerado do que o velho professor. Mais: se uma escola só tem uma vaga para estes dois professores, deve optar por ficar com o melhor e não com o que está lá há mais tempo.

No mundo real, aquele que Mário Nogueira não conhece, a meritocracia, a formação e a capacidade de trabalho contam mais do que a idade. No mundo real, nenhum empregador decide aumentar os seus funcionários simplesmente porque eles estão lá há muito tempo. No mundo real não se escolhe quem se contrata com base noutros critérios que não a competência.

Os políticos portugueses, em especial este governo, têm de decidir se preferem viver no mundo real ou no mundo imaginário de Nogueira.

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