O regresso de um comando NATO a Oeiras?


Os repetidos anúncios da morte da NATO têm-se revelado exagerados face à realidade. Já o regresso de um comando NATO a Portugal poderá ser mérito da assertividade de Putin.


O activismo militar da Rússia preocupa normalmente os países da Europa central e de leste, para quem a proximidade geográfica e a memória histórica se conjugam para identificar a Federação Russa como o principal inimigo e a NATO como única garantia de sobrevivência.

Para Portugal, o “perigo” russo surgia mediado pela participação na NATO e pelo cumprimento dos deveres de legítima defesa colectiva plasmados no artigo 5.o do Tratado de Washington. Na discussão em torno da identificação das ameaças à segurança da NATO, alinhamos com os países meridionais (Espanha, França, Itália, Croácia, Grécia, Turquia, esta com flutuações ditadas pelos sobressaltos da deriva autoritária da actual liderança), que identificam como ameaça principal a instabilidade nas fronteiras sul e sueste, com os perigos das migrações descontroladas, dos fundamentalismos islâmicos, dos falhanços das ditaduras árabes e das respectivas Primaveras e da desagregação de vários Estados (Síria, Líbano, Líbia, Iémen).

Mas a renovada presença russa em diversas geografias inclui também um reforço da presença no Atlântico Norte, através de trânsitos frequentes e cada vez mais agressivos de submarinos. Em exercícios recentes, a NATO descobriu-se incapaz de assegurar o reabastecimento por via marítima do teatro europeu em caso de conflito. Soldados, armas, equipamentos, munições, sobresselentes, combustíveis, alimentos e medicamentos só são transportáveis em grandes quantidades por via marítima. E o Atlântico Norte tem um enorme buraco entre o Canadá, a Islândia e o Reino Unido que, em caso de conflito, deixaria os comboios aliados à mercê dos submarinos russos.

 O “peace dividend” do fim da Guerra Fria reduziu dramaticamente a dimensão das forças armadas dos países da Europa ocidental e quase fez desaparecer capacidades navais e aéreas de luta anti-submarina. Em Portugal houve o bom senso, mesmo em permanente dificuldade orçamental, de manter o respeito pela lógica do triângulo estratégico nacional (Continente-Açores-Madeira) e quer a Armada (fragatas, submarinos) quer a Força Aérea (P3, C-295) mantiveram capacidades operacionais que agora se revelam fundamentais.

A reunião dos ministros de Defesa da NATO que ontem terminou em Bruxelas deliberou inverter a lógica da redução de comandos NATO e do respectivo pessoal. Serão criados dois novos comandos: um comando logístico para assegurar a circulação de forças por via terrestre na Europa, testando rotas, estradas, pontes e caminhos-de-ferro; e um novo comando naval para garantir que as rotas do Atlântico Norte continuam praticáveis pelos comboios de navios da NATO mesmo em situações de tensão ou de conflito. Pelos corredores do QG da NATO conhece-se a apetência da Alemanha para acolher o novo comando terrestre e considera-se que o novo comando naval deverá ser dado a um aliado com experiência e presença na fachada atlântica.

A decisão sobre a localização dos comandos será tomada na próxima reunião dos ministros da Defesa da NATO, em fevereiro de 2018, e será ser operacionalizada na cimeira da aliança, em julho. Tempo suficiente para que Portugal monte uma campanha política e diplomática para garantir o regresso de um comando NATO a Oeiras, onde esteve até 2012. Os edifícios, equipamentos e experiência permanecem e as forças nacionais souberam resistir aos cantos de sereia da especialização e mantiveram as capacidades necessárias para a defesa do espaço atlântico.

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990


O regresso de um comando NATO a Oeiras?


Os repetidos anúncios da morte da NATO têm-se revelado exagerados face à realidade. Já o regresso de um comando NATO a Portugal poderá ser mérito da assertividade de Putin.


O activismo militar da Rússia preocupa normalmente os países da Europa central e de leste, para quem a proximidade geográfica e a memória histórica se conjugam para identificar a Federação Russa como o principal inimigo e a NATO como única garantia de sobrevivência.

Para Portugal, o “perigo” russo surgia mediado pela participação na NATO e pelo cumprimento dos deveres de legítima defesa colectiva plasmados no artigo 5.o do Tratado de Washington. Na discussão em torno da identificação das ameaças à segurança da NATO, alinhamos com os países meridionais (Espanha, França, Itália, Croácia, Grécia, Turquia, esta com flutuações ditadas pelos sobressaltos da deriva autoritária da actual liderança), que identificam como ameaça principal a instabilidade nas fronteiras sul e sueste, com os perigos das migrações descontroladas, dos fundamentalismos islâmicos, dos falhanços das ditaduras árabes e das respectivas Primaveras e da desagregação de vários Estados (Síria, Líbano, Líbia, Iémen).

Mas a renovada presença russa em diversas geografias inclui também um reforço da presença no Atlântico Norte, através de trânsitos frequentes e cada vez mais agressivos de submarinos. Em exercícios recentes, a NATO descobriu-se incapaz de assegurar o reabastecimento por via marítima do teatro europeu em caso de conflito. Soldados, armas, equipamentos, munições, sobresselentes, combustíveis, alimentos e medicamentos só são transportáveis em grandes quantidades por via marítima. E o Atlântico Norte tem um enorme buraco entre o Canadá, a Islândia e o Reino Unido que, em caso de conflito, deixaria os comboios aliados à mercê dos submarinos russos.

 O “peace dividend” do fim da Guerra Fria reduziu dramaticamente a dimensão das forças armadas dos países da Europa ocidental e quase fez desaparecer capacidades navais e aéreas de luta anti-submarina. Em Portugal houve o bom senso, mesmo em permanente dificuldade orçamental, de manter o respeito pela lógica do triângulo estratégico nacional (Continente-Açores-Madeira) e quer a Armada (fragatas, submarinos) quer a Força Aérea (P3, C-295) mantiveram capacidades operacionais que agora se revelam fundamentais.

A reunião dos ministros de Defesa da NATO que ontem terminou em Bruxelas deliberou inverter a lógica da redução de comandos NATO e do respectivo pessoal. Serão criados dois novos comandos: um comando logístico para assegurar a circulação de forças por via terrestre na Europa, testando rotas, estradas, pontes e caminhos-de-ferro; e um novo comando naval para garantir que as rotas do Atlântico Norte continuam praticáveis pelos comboios de navios da NATO mesmo em situações de tensão ou de conflito. Pelos corredores do QG da NATO conhece-se a apetência da Alemanha para acolher o novo comando terrestre e considera-se que o novo comando naval deverá ser dado a um aliado com experiência e presença na fachada atlântica.

A decisão sobre a localização dos comandos será tomada na próxima reunião dos ministros da Defesa da NATO, em fevereiro de 2018, e será ser operacionalizada na cimeira da aliança, em julho. Tempo suficiente para que Portugal monte uma campanha política e diplomática para garantir o regresso de um comando NATO a Oeiras, onde esteve até 2012. Os edifícios, equipamentos e experiência permanecem e as forças nacionais souberam resistir aos cantos de sereia da especialização e mantiveram as capacidades necessárias para a defesa do espaço atlântico.

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990