Cepeda. Novo Lítio impedida de fazer pedido de exploração

Cepeda. Novo Lítio impedida de fazer pedido de exploração


Só a Luso Recursos, que fez o pedido de prospeção, pode passar à fase seguinte. Divergência leva a litígio judicial. Projeto ainda por oficializar


A australiana Novo Lítio está impedida de fazer a exploração de lítio em Cepeda (outro nome para Sepeda, uma das freguesias de Montalegre). Uma vez que foi a Luso Recursos a fazer o pedido de prospeção, cabe agora a esta empresa dizer se quer passar à fase seguinte, a da exploração do mineral, muito usado na produção de baterias.

Em Montalegre, a Novo Lítio, que antes se chamava Dakota Minerals, opera em parceria com a portuguesa Luso Recursos, através de um acordo para a detenção dos direitos de mineração.

A empresa australiana entende que o contrato que fez com a Luso Recursos obriga esta última a ceder o direito de prospeção. E a Luso Recursos considera que não.

Esta divergência criou um litígio judicial entre as duas empresas que levou a Novo Lítio a suspender, com dois prolongamentos, a negociação das ações na bolsa da Austrália.

A ASX (bolsa australiana) considera que as suspensões voluntárias de negociação não são incomuns, mas devem ser usadas em último recurso.

“A suspensão da cotação da empresa faz-me um bocado de alerta”, diz ao i um responsável do PSD de Montalegre. Esta suspensão “indicia que a empresa poderá à partida não ter determinada liquidez e que com esses vários anúncios de prospeções de sucesso em vários pontos que eles “se autofinaciaram” através do aumento da cotação das novas ações”, conjetura Marco Sousa.

No seu mais recente relatório financeiro anual, a empresa australiana refere que em 2016 conseguiu obter “capital raising” de 15,9 milhões de dólares australianos (perto de 12 milhões de euros), o que coloca os ativos líquidos em quase 20 milhões de dólares e o dinheiro no banco acima dos 14 milhões de dólares australianos.

Financiamento em aberto

De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves, a Novo Lítio prevê um investimento de cerca de 370 milhões de euros no concelho, valor mais de dez vezes superior à sua situação financeira atual.

A Novo Lítio diz que o programa de financiamento ainda está em aberto e admite o recurso a fundos comunitários para o investimento ou a entrada de parceiros portugueses no projeto.

De acordo com Orlando Alves, numa primeira fase está previsto um investimento de 70 milhões de euros, direcionados para o fabrico de placas de armazenamento de energia. Depois, já numa fase posterior, está previsto um investimento de mais 300 milhões de euros, na produção de baterias para a indústria automóvel, com a perspetiva de criação de mais de 200 postos de trabalho.

“Uma coisa era ter existido um ofício dentro do município a apontar determinado apoio para a empresa que está interessada, a forma como o município poderia apoiar esse investimento. Oficialmente não há nada”, diz Marco Sousa, para quem “é um risco grande anunciar 200 postos de trabalho sem qualquer sustentação”.

Sobre a divergência entre a Novo Lítio e a Luso Recursos, o autarca de Montalegre diz ter obtido “a garantia de que um entendimento estará próximo” entre as duas partes, admitindo que estes assuntos são “normalmente muito morosos e conflituantes”. Orlando Alves revela, no entanto, que “gostaria que não fossem castradores do interesse que a região põe em todo o processo”.

Para já e até ao até ao final do ano – prazo limite – a Luso Recursos vai avançar com o pedido de exploração, para o qual já está a elaborar o dossiê completo.