CDS. Quem trata uma líder partidária por ‘aquela senhora’ fala em igualdade de género?

CDS. Quem trata uma líder partidária por ‘aquela senhora’ fala em igualdade de género?


Nuno Melo pergunta se o primeiro-ministro que trata Cristas por ‘aquela senhora’ é o mesmo que defende a igualdade de género.


“Aquela senhora”, foi como António Costa se referiu a Assunção Cristas, criticando a presidente do CDS-PP pelo que fez – ou não fez – enquanto ministra da Agricultura no governo anterior ao de Costa.

A crítica em relação às políticas de Cristas na pasta que contém a gestão florestal e de prevenção de incêndios, não é nova. O termo – “aquela senhora” – é que aparentou maior novidade no palco político.

“Quero saber se aquela senhora que foi quatro anos ministra da agricultura e nada fez pela floresta e que hoje tanto fala, vai estar presente ou não [debate sobre florestas]”, desafiou Costa, sob forte aplauso do Partido Socialista, em Faro. Durante todo o discurso, o primeiro-ministro nunca tratou Assunção Cristas pelo seu nome, ao contrário de Pedro Passos Coelho, por exemplo, que não mereceu o cognome d’ “aquele senhor”.

Escutado pelo i, Nuno Melo, eurodeputado e vice-presidente do CDS, ironizou: “O mesmo que se refere à presidente de um partido por ‘aquela senhora’ é o mesmo que depois decide o que os meninos e as meninas podem ler em nome da igualdade de género?”.

Quem também teceu duras críticas ao primeiro-ministro foi Francisco Mendes da Silva, dirigente nacional do CDS. “Imaginem um político da direita a referir-se a uma sua opositora como ‘aquela senhora’”, escreveu no Twitter.

Também ouvido pelo i, Mendes da Silva afirmou: “Eu não gosto de falar do caráter das pessoas na política, mas há um momento em que me pergunto se não será essencial. No mesmo discurso, António Costa mente descaradamente sobre o que Passos Coelho disse sobre os bombeiros e trata a líder do CDS com um machismo e um marialvismo carregados de estereótipos que só diminuem as mulheres”, atirou.

“Isto, mais que sobre política, é sobre caráter. E este não é o caráter que queremos num primeiro-ministro para um Portugal civilizado, europeu e moderno em 2017”, rematou, em jeito de conclusão.

Cristas já veio a público considerar a referência como “linguagem menos própria”, ao que Estrela Serrano ripostou nas redes sociais: “Ela não é senhora?”.

“O CDS não muda a sua atitude, nem se deixa condicionar por tons de linguagem menos próprios do senhor primeiro-ministro”, garantiu Assunção, ontem.

Esta não foi a primeira vez que Costa teve uma abordagem mais condescendente com a presidente do CDS-PP. Em maio de 2016, convidou-a, em pleno debate parlamentar, para comer “um peixe grelhado”, em vez responder a uma pergunta da centrista. Cristas respondeu-lhe que preferia ter “as conversas em público”. Em dezembro desse ano, reagindo à prenda que Cristas lhe ofereceu – uns óculos para “ver melhor” – Costa regressou à comédia parlamentar: “Sempre achei que daria uma boa mãe Natal”.

Quem não esquece e não gosta é Francisco Rodrigues dos Santos, o presidente da Juventude Popular, a ‘jota’ dos democratas-cristãos. “Ora se engrandece em ‘convites para jantar’ em plena sessão plenária, ora usa e abusa no tom de superioridade, ora se refere à presidente do CDS com desdém, em termos como ‘aquela senhora’. Existe, recorrentemente, uma desigualdade grosseira – e daquelas que merece a pena contestar – no tratamento que António Costa reserva a Assunção Cristas, quando comparado com o que utiliza com os demais adversários do sexo masculino”, considerou Rodrigues, ao i.