“Trump must go.” Quase todos contra uma Casa (cada vez mais) Branca

“Trump must go.” Quase todos contra uma Casa (cada vez mais) Branca


George Bush e George W. Bush emitiram um comunicado conjunto a condenar a “intolerância racial”. O ex-líder do Ku Klux Klan elogiou o que quase todos condenaram


Já nem na Fox News, o canal de notícias mais à direita da televisão norte-americana, se consegue acreditar no que todos os dias vai dizendo Donald Trump. A última conferência de imprensa do líder da Casa Branca deixou estupefacta Kat Timpf, comentadora política do canal: “Ainda estou naquela fase em que me pergunto se isto é mesmo a vida real. Tenho demasiada maquilhagem nos olhos para começar a chorar já aqui.”

Foram 23 minutos em que o chefe de Estado deu o dito por não dito e voltou a condenar os dois lados nos confrontos de Charlottesville, dizendo que erros foram cometidos de parte a parte e que de um lado estava um grupo “agressivo” e do outro estava “um muito violento”.

“O ódio sempre existiu nos Estados Unidos. Sim, todos nós sabemos disso, mas Donald Trump acabou de fazer com que volte a ser moda novamente”, escreveu o basquetebolista LeBron James na sua conta de Twitter.

Os dois ex-presidentes Bush, George H. W. e George W., emitiram um comunicado conjunto em que, não referindo o nome de Trump, sublinham que “a América deve sempre rejeitar a intolerância religiosa, o antissemitismo e o ódio sob todas as formas”.

Jeb Bush, o outro político da família, antigo governador da Florida e candidato derrotado por Trump na corrida à nomeação presidencial dos republicanos, já afirmara, através da sua conta de Twitter, que “este é um tempo de clareza moral e não de ambivalência”, pedindo ao presidente que “una o país” e não ande preocupado “a atribuir culpas”.

David Rothkopf assina hoje uma coluna de opinião no “Washington Post” que é tudo menos dúbia perante a situação: “O presidente Trump tem de ir embora” (President Trump must go). E nele escreve logo a abrir: “Donald Trump deu na terça-feira à noite o desempenho público mais repugnante na história da presidência americana.” Falando “do coração” para “defender os supremacistas brancos e, por conseguinte, os seus credos de ódio”, Trump revelou que “ele próprio é um extremista”.

“Ninguém que vem de um passado como o meu, que inclui multidões semelhantes a juntar-se e, em última análise, a colaborar no assassínio de dezenas de membros da minha família na Europa de Hitler, consegue olhar a atuação de Trump sem um certo grau de medo”, escreve ainda Rothkopf.

Trump reagiu indiretamente à coluna de opinião voltando a atacar a Amazon, que pertence a Jeff Bezos, proprietário do “Washington Post”, levando a que as ações da empresa chegassem a desvalorizar seis mil milhões de dólares.

Apesar das mazelas empresariais que os ataques no Twitter causam às ações das empresas cotadas, vários empresários manifestaram-se contra a posição dúbia do chefe de Estado em relação aos acontecimentos de Charlottesville. Até o diretor executivo da Walmart se mostrou desgostado com o facto de Trump não ser um fator de união no país: “Sentimos que perdeu uma oportunidade importante para ajudar o país a unir-se, rejeitando inequivocamente as ações terríveis dos supremacistas brancos”, disse Douglas McMillon numa carta aos seus funcionários na segunda-feira.

Aquilo que vários republicanos se apressaram a condenar, e que Trump demorou 48 horas a fazer e menos de 24 horas a desfazer, foi apelidado pelo senador Cory Gardner como “terrorismo doméstico” e pelo líder da maioria na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, como “fanatismo vil”.

Charles Krauthammer, comentador da Fox News, apelidou aquilo que Trump fez de “uma desgraça moral”, depois de Trump ter afirmado que “não estava a pôr ninguém num plano moral” e que havia “pessoas muito boas em ambos os lados”.

Ao que John McCain, némesis republicana do presidente, respondeu na sua conta de Twitter “que não existe equivalência moral entre racistas & americanos que se levantam para desafiar o ódio & a intolerância”. Mitt Romney, candidato presidencial republicano de 2012, bateu na mesma tecla: “Não, não é o mesmo. Um lado é racista, intolerante, nazi. O outro opõe–se ao racismo e à intolerância. Universos morais diferentes.”

Só o jovem congressista Lee Zeldin procurou salvar um pouco a face de um presidente que preferiu dar a conferência de imprensa entre os dourados da Trump Tower ao invés da Casa Branca: “Os dois lados não são iguais. São diferentes. Acrescentaria, porém, que não está certo sugerir que o presidente Trump esteja errado por reconhecer o facto de terem aparecido criminosos dos dois lados com o propósito da violência. Essa observação específica é correta.”

Um dos poucos que felicitaram Trump pela mensagem foi David Duke, o antigo grande feiticeiro (líder) do Ku Klux Klan, que também esteve na manifestação dos supremacistas brancos na Virgínia: “Obrigado, Presidente Trump, pela sua honestidade & coragem para dizer a verdade sobre #Charlottesville & condenar os terroristas esquerdistas.”