A rede de comunicações que liga todas as autoridades de segurança e de emergência, o SIRESP, “faliu” durante “algumas horas” durante a tarde de sábado, já o incêndio de Pedrógão Grande lavrava no concelho e os bombeiros estavam no terreno. E sem dúvida que este cenário “teve implicações” na resposta de combate ao incêndio, aponta o presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares.
Já não é a primeira vez que este sistema de comunicações, implantado há 13 anos e que custou mais de 485 milhões de euros, falha em cenários de incêndio. E esta é uma das explicações exigidas às autoridades pelo primeiro-ministro.
Em entrevista ao i, o representante dos bombeiros explica ainda que o fogo está “longe de ser controlado” e que estamos num “cenário de guerra sem espingardas e sem canhões”.
Quando prevê que o incêndio seja controlado?
Isso, era preciso que tivesse aptidões de bruxo, e não tenho. Mas atendendo ao panorama atual e falando conscientemente, não posso dar uma garantia sobre quando o incêndio deverá estar extinto. Isto obedece a um conjunto de situações, de contingências e de problemas que são muito subjetivos.
Mas está longe de ser controlado?
Neste momento está longe de ser controlado. Por isso há que aguardar com muita serenidade e acreditar que as forças que estão no terreno são muito organizadas. Há um grande reforço de meios com uma grande rotatividade.
Os bombeiros que estão no terreno conhecem a região? De onde são os bombeiros?
Estão no terreno bombeiros de todo o país. E com certeza que terão sempre o acompanhamento de guias locais, bombeiros, que efetivamente têm esse conhecimento e têm as instruções necessárias para que as pessoas estejam identificadas com o terreno.
As pessoas queixam-se de alguma desorganização. Há jornalistas que chegam mais rapidamente aos locais que os bombeiros…
Isso é fácil. Porque os jornalistas andam a fazer o seu trabalho, mas vão a qualquer lado sem qualquer preocupação. E os bombeiros não são assim. Os bombeiros estão nos pontos onde têm de estar e onde está devidamente definido para garantirem mais rapidamente a situação de extinguir o incêndio. Por isso, é facílimo um jornalista andar a correr de um lado para o outro. Estão a trabalhar, sem dúvida, mas não vamos comparar.
Mas reconhece alguma desorganização?
Não. Não há nenhuma desorganização no terreno. As coisas estão dentro do que está esquematizado e do que está definido, dentro do que são as respostas às necessidades. Não corresponde à verdade quando dizem que há falta de organização. Os desconhecedores destas práticas é que podem pensar dessa maneira.
O SIRESP (Rede Nacional de Emergência e Segurança) está a funcionar?
O SIRESP já está a funcionar. Mas teve uma falha, como todos os equipamentos. Teve um período em que falhou.
Durante que período?
Durante algumas horas da tarde de sábado. Durante esse período, o SIRESP faliu. Não sei precisar quantas horas, mas depois voltou. Isso consta na cita de tempo (relatório de fogo).
E isso teve implicações na resposta de combate ao incêndio?
É óbvio que teve implicações. Mas, nessa altura, os bombeiros já estavam a combater o fogo.
E como iam sendo feitas as comunicações nesse período?
Através de rádios internas dos bombeiros. Mas o grande inimigo foi o vento. Isso foi o que mais dificultou.
Os bombeiros que estão no terreno conhecem a região? De onde são os bombeiros?
Estão no terreno bombeiros de todo o país. E com certeza que terão sempre o acompanhamento de guias locais, bombeiros, que efetivamente têm esse conhecimento e têm as instruções necessárias para que as pessoas estejam identificadas com o terrenos.
Em média, há quantas horas estão a trabalhar os bombeiros?
Depende. Os bombeiros vão sendo substituídos para que possam descansar, mas isso está dependente das necessidades de cada momento e dos problemas que possam surgir.
Mas tem alguma ideia do número de horas?
Podem estar oito horas, podem estar 11 horas. Há casos de bombeiros que estão no terreno 24 horas se for necessário. Há situações a que obrigam a isso, por extrema urgência. Se houver povoações em risco, os bombeiros não podem abandonar o local. Se o fogo não tem horários de trabalho, os bombeiros também não têm horário de trabalho.
Quantos bombeiros estão no terreno?
Próximo de dois mil em atuação. E multiplicando por três, com a rotatividade, há seis mil bombeiros em movimento.
Vai ser necessário um reforço?
O reforço é sempre feito consoante as necessidades. Se houver necessidades haverá reforço, senão haverá dispensa.
Tendo em conta a sua experiência, o cenário ainda vai piorar?
Se não houver vento e se a temperatura arrefecer um pouco, estou convencido que, tendo em conta também a área ardida, as franjas que possam ser mais preocupantes possam ser controladas. Isto é uma guerra. É uma guerra sem espingardas e sem canhões. As espingardas são as mangueiras dos bombeiros e os guerreiros são o fogo que está a arder. Conforme as munições que tiver o inimigo, que é o fogo e é terrível, tem mais armas que nós. Mas nós temos a sabedoria de criar estratégias para que o possamos derrotar. Não podemos prever quantas horas leva a que seja derrotado. Espero que seja rápido.
No futuro, que medidas devem ser tomadas para evitar que situações como esta se repitam?
Temos de parar para saber que floresta queremos. Se queremos ter esta floresta, vamos continuar a passar toda a vida por isto.
Quais são as principais queixas dos bombeiros?
Os bombeiros, quando estão no terreno, a única coisa de que se queixam é do fogo. Claro que, na altura própria, apresentarão as suas queixas, mas este não é o momento para isso. Este é o momento de dar mãos e de puxar para o mesmo lado.
Como vê a onda de solidariedade?
Este é o momento em que a solidariedade se aplica na mais alta expressão. Temos um povo solidário como não há no mundo.