Portugueses. “Vi várias pessoas feridas e cheias de sangue, aos gritos”

Portugueses. “Vi várias pessoas feridas e cheias de sangue, aos gritos”


Os portugueses que trabalham na Arena, onde ocorreu o atentado, estranham a falta de medidas de segurança no espetáculo


Já tinha terminado o concerto da norte-americana Ariana Grande quando, no interior da Manchester Arena, uma sala de espetáculos com capacidade para 21 mil pessoas que estava completamente esgotada, houve uma explosão que vitimou 22 pessoas e deixou outras 59 feridas.

O i falou com várias pessoas que estiveram no interior da Manchester Arena e que assistiram à explosão no final do concerto da artista.

Vinicius Augusto, luso-brasileiro, trabalha há três anos na Manchester Arena e assistiu a tudo. Conta que viveu momentos de horror, por ele, mas também por ver tantos menores assustados e feridos.

“As explosões aconteceram alguns minutos antes de as pessoas começarem a sair, o concerto já tinha acabado.”

“O som da explosão parecia realmente ter sido de um equipamento de som mas, como surgiu no meio das bancadas, apercebemo-nos logo de que não era problema de nenhum equipamento. Logo depois vi várias pessoas feridas e cheias de sangue, aos gritos e a atropelarem toda a gente para saírem da Arena o mais rápido que conseguissem.”

Visivelmente emocionado, o luso-brasileiro conta que há uma imagem que não vai esquecer nunca. “Uma mãe com o pescoço todo ensanguentado, com dificuldades em respirar, com a filha ao colo… Essa senhora foi das primeiras pessoas a receberem tratamento nas ambulâncias, que eu tenha visto.”

Em jeito de reflexão espiritual, Vinicius Augusto acredita que todos os que lá estiveram “nasceram de novo e voltaram para suas casas refletindo sobre o que tinha acontecido… Não podemos ter medo… Mas temos”.

Trabalhadores não foram revistados

O trabalhador na Manchester Arena denuncia um facto que o intrigou bastante. “O controlo da segurança da Arena, ontem, estava muito fraco. Geralmente, a equipa de segurança passa um detetor de metais em todos os trabalhadores que entram. Além de que sempre assinamos uma lista de presença. Ontem nada disso aconteceu.”

“Ouvimos as explosões, começámos a correr… Estou em choque.”

Beth Louise, de 23 anos, portuguesa e viver em Manchester desde os 20, tinha ido ao concerto de Ariana Grande com duas amigas e, no final do concerto, ouviram o que parecia ser duas explosões. Contam que viveram momentos de horror. “Ouvimos as explosões, começámos a correr… Estou em choque.”

“Pensámos que seriam balões a rebentar ou efeitos sonoros, mas depois começámos a ver as pessoas a atropelarem-se todas umas às outras para fugir e começámos a fazer o mesmo, em pânico e com medo. Muitos gritos, muitas crianças ensanguentadas.”

Beth, estudante de Medicina, diz ainda que a saída do recinto foi caótica porque “estávamos todos a tentar sair pelo mesmo sítio, muitos gritos e muita confusão. Quando finalmente saímos para a rua foi um alívio, viemos a correr para casa”.

Abrigo para crianças perdidas dos pais Beto Valle, natural de Lisboa e a viver em Manchester há quatro anos, é funcionário no hotel que se situa em frente à Manchester Arena, o Crowne Plaza. Foi este hotel que acolheu desde os primeiros minutos as crianças que da Arena saíam a correr, assustadas, e algumas ensanguentadas.

O encaminhamento das crianças para este hotel era feito por parte da polícia. “Começou tudo a sair da Manchester Arena aos gritos e entretanto a polícia foi encaminhando todas as crianças que se encontravam no local da explosão para o hotel onde trabalho, por ser o sítio mais perto e seguro, para procederem à contagem das crianças.” O hotel disponibilizou toda a parte do hall de entrada para que as crianças fossem acolhidas e posteriormente encontradas pelos respetivos pais.

Beto conta que neste hall foram disponibilizadas várias mesas “com alguma comida, com chá, águas, sumos para dar às crianças, mas também aos enfermeiros e à polícia”.

Esta prática veio hoje a verificar-se em praticamente todos os cafés junto à Manchester Arena. Segundo afirma o português, ontem, no exterior de todos os cafés, havia uma mesa com águas, bolos, bolachas e chá para a polícia que ainda estivesse nas ruas naquele momento. Mas a onda de solidariedade “que importa frisar” não se ficou por aí. “Os táxis foram completamente gratuitos, os taxistas levavam pessoas para locais seguros. Está tudo muito bem organizado por parte da polícia, apesar de ter sido um ataque terrorista.”

Quando foi feita esta entrevista, Beto dizia-me: “Está neste momento a passar por mim um homem com imensas garrafas de água.”

Segundo Beto, as crianças que chegavam ao hotel onde trabalha “estavam muito nervosas, a chorar, aos gritos, muitas ensanguentadas, mas nenhuma ferida. As crianças que estavam feridas foram de imediato levadas para o hospital mais próximo. Nós não recebemos feridos, só recebemos as crianças que estavam sozinhas e que estavam assustadas.”

Ninguém entrava no hotel sem autorização. “Só quem entrava no hotel, naquele momento, era o staff, a polícia, enfermeiros e quem a polícia trazia para nós abrigarmos. Não sabíamos quem poderia querer entrar lá dentro. O hotel ficou sob escolta policial até esta manhã por razões de segurança”, adianta ainda o trabalhador português em Manchester. Beto Valle diz ainda que as pessoas estão tristes, as ruas desertas, os comboios parados, e os autocarros só funcionam fora do centro da cidade, mas que se sente seguro.

A prioridade para os serviços de informação e autoridades é, por enquanto, estabelecer se o atacante de segunda-feira atuou sozinho ou se faz parte de uma rede mais vasta que pode estar a planear novos ataques em solo britânico. “Todos os atos de terrorismo são ataques cobardes contra pessoas inocentes, mas este ataque destaca-se pela sua chocante e revoltante cobardia”, lançou Theresa May, no momento em que se confirmava mais uma morte, a de uma rapariga de 16 anos.