Gostamos de nos enganar


Numa entrevista a um jornal alemão, o presidente do Eurogrupo, o socialista Jeroen Dijsselbloem disse: “Tornamo-nos previsíveis quando nos comportamos de forma consequente e o pacto no seio da zona euro baseia-se na confiança.


Na crise do euro, os países do norte mostraram-se solidários para com os países em crise. Como social-democrata, considero a solidariedade da maior importância. Porém, quem a exige também tem obrigações. Eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e pedir-lhe de seguida a sua ajuda. Este princípio é válido a nível pessoal, local, nacional e até a nível europeu”.

Em Portugal foi a indignação geral porque, bem aproveitadas, as palavras de Dijsselbloem são um pretexto para o descredibilizar. Não demitir, pois a derrota do Partido do Trabalho a que pertence o afastará do futuro governo holandês e, por consequência, do Eurogrupo. Descredibilizar Dijsselbloem é, pois, ridicularizar qualquer outro que exija responsabilidade fiscal.

Portugal está no euro, mas sem assumir responsabilidades. É triste reconhecê-lo, mas é assim e a nossa classe política, desejosa para livremente comprar votos com o nosso dinheiro, não dá o exemplo. Sejamos sinceros por um momento: foi por mero egoísmo que o país falhou o desafio do euro. Quis viver melhor, mas sem o esforço que essa melhoria implicava. O falhanço foi nosso. Podemos bater à vontade em Dijsselbloem, que até estudou numa escola católica, mas o maior cego não deixa de ser aquele que não quer ver.