Autárquicas. PSD e CDS rompem  de vez. Há guerra em Lisboa

Autárquicas. PSD e CDS rompem de vez. Há guerra em Lisboa


Faltas de presença, Vale e Azevedo, entrevistas e negociações falhadas. O centro-direita começa a entrar em ebulição na corrida para a câmara da capital. E Medina a rir


Se havia algum tipo de período de nojo entre o PSD e o CDS antes de quebrar de vez o cordão umbilical que foi a coligação Pàf, esse período acabou. O nojo para evitar ataques foi trocado pelo nojo em não concretizá-los.

Depois de Assunção Cristas afirmar este sábado, em entrevista ao semanário SOL, que daria o mínimo de faltas possível caso fosse somente eleita vereadora à Câmara Municipal de Lisboa, o PSD tomou-o como ofensa e reagiu.

É que Teresa Leal Coelho, a candidata dos sociais-democratas à autarquia da capital, faltou a mais de um terço das reuniões de Câmara enquanto vereadora, entre 2013 e 2017 – o ano em que se repetem as eleições locais.

Na referida entrevista, Cristas afirmou também: “Se não tivéssemos feito nada durante quatro anos, certamente que seria muito difícil termos uma candidatura forte em Lisboa”. Tal foi também interpretado como uma declaração algo provocatória por parte da presidente do CDS, tendo em conta o estilo de oposição discreto que o PSD demonstrou perante o executivo camarário de Fernando Medina.

Embora os dirigentes de ambos os partidos continuem a apelar ao Acordo-Quadro para as autárquicas – que almeja ultrapassar as vitórias locais conseguidas via coligação em 2013 – como prova de cooperação, o matrimónio entre os centristas e o Partido Social Democrata já conheceu melhores dias. “E quem sorri mais com isto, com não haver coligação, com lutarem entre si em vez de lutarem com ele, é Fernando Medina”, observa ao i fonte camarária que optou por reservar-se ao anonimato.

Há cerca de uma semana, Sérgio Azevedo, que lidera a bancada do PSD na Assembleia Municipal (e também vice-presidente do grupo parlamentar), viu-se obrigado a sair em defesa de Leal Coelho, vendo dirigentes do CDS-PP a partilharem um artigo de opinião que criticava o seu passado de ligação à SAD de Vale e Azevedo no Benfica. Azevedo considerou o argumento “tão ignóbil quanto António Costa, ou mesmo Medina, são tão suspeitos quanto é José Sócrates”.

Depois de os antigos parceiros de coligação de governo não conseguirem alcançar acordo para um apoio comum à candidatura de Assunção Cristas a Lisboa – prosseguindo depois para uma troca de responsabilizações pelo sucedido – a harmonia esmoreceu e mais ainda após Cristas revelar conversações tidas em Conselho de Ministros entre 2011 e 2013. Maria Luís Albuquerque reagiu até, defendendo em público que as conversas mantidas nessas reuniões são “privadas”. O restante incómodo, todavia, foi mais silencioso.

“O inimigo é o PS” continua a bradar-se. Por enquanto.

O Soldado improvável Leal Coelho, que foi número 2 na lista que viu Fernando Seara perder para António Costa há quatro anos, mostrou dificuldades em conciliar a vida parlamentar (é deputada), a vida familiar (o marido é embaixador em Madrid) e a vida autárquica, como vereadora.

A vice-presidente da direção de Pedro Passos Coelho – e sua escolha pessoal – fazia-se substituir na maioria das vezes por Alexandra Barreiras Duarte e quando Cristas afirmou ao SOL que teria “o menor número de substituições possível”, as tropas laranjas ressentiram-se e mostraram as garras.

A defesa de Leal Coelho veio, improvavelmente, de alguém que de leal a Coelho tem muito pouco: José Eduardo Martins.

Na sua página pessoal, o ex-secretário de Estado de Durão Barroso partilhou uma imagem com as declarações de Cristas sobre “o mínimo de faltas” acompanhada por uma manchete do Diário de Notícias com menos de um ano, revelando que a líder do CDS ficou “a uma falta de perder o mandato” na Assembleia da República.

Desde o início do atribulado processo autárquico do PSD que José Eduardo Martins já teve vários papéis.

Aceitou ser coordenador do programa autárquico a convite da concelhia e à revelia de Passos Coelho. Recusou (sempre) ser candidato a presidente da Câmara. Disse em novembro que a “possibilidade de uma coligação com o CDS” não estava afastada “por ninguém”. Disse em janeiro que, afinal, apoiar Assunção Cristas não era “a melhor solução” e que “um independente com apoio do PSD é sempre ganhador”.

Em outubro criticou a estrutura local do PSD por “falta de oposição” a Medina e agora será o segundo nome no boletim de voto dos lisboetas, como cabeça de lista à Assembleia Municipal, ao lado da vereadora que menos oposição fez e que de “independente” não tem nada. “E ainda dizem que a versatilidade não é um ativo político”, sorri um deputado laranja. O convite, sabe o i, foi ideia de Passos e de Leal Coelho, que implementará o programa concebido pelo homem que manteve sempre a distância da atual direção do partido. José Eduardo, a ver pela sua defesa recente da candidata, já vestiu a farda. Irónico é o facto de ter ficado com o lugar que Mauro Xavier, que fez dele coordenador do programa, queria para si. O presidente do PSD/Lisboa, como é conhecido, rompeu definitivamente com a sede nacional. José Eduardo, pelos vistos, segue outra rota.

Preparativos

Ao que o i apurou há mais nomeações a caminho. Teresa Leal Coelho e a distrital de Lisboa, liderada por Miguel Pinto Luz, já começaram a preparar as listas a apresentar pelo Partido Social Democrata, assim como o porta-voz para a candidatura. O nome mais provável para diretor de campanha é Bruno Ventura. O antigo dirigente da JSD, hoje na Fundação Luso-Americana, tem feito a ponte entre a distrital e Teresa Leal Coelho.

 

 

 

 

 

(Esta notícia foi corrigida às 11:44h de hoje. Onde estava "André" Ventura deveria estar "Bruno" Ventura. Está assim atualizada).