O ataque aos organismos independentes


A reação da atual maioria ao aviso que Teodora Cardoso fez sobre o défice faz lembrar a vingança de Apolo sobre Cassandra


Já se percebeu que a geringonça dispõe de uma maioria, um governo e um presidente. Só que, pelos vistos, isso não lhe basta, pretendendo acabar também com qualquer organismo independente existente no Estado.

Já se viu isso no Banco de Portugal. Em primeiro lugar, são colocados elementos muito próximos da atual maioria no seu conselho consultivo. Depois, o governador do Banco vê rejeitada a proposta de constituição da sua equipa. Em seguida, o governo deixa que o governador seja crucificado na praça pública sem mover um dedo em sua defesa. Pelo contrário, os partidos da extrema-esquerda juntam-se à turba, exigindo a demissão imediata do governador. A independência do banco central, um dos alicerces do atual sistema financeiro europeu, está, assim, hoje em risco em Portugal.

Mas o mais grave é o que se passa com o Conselho de Finanças Públicas. Tratando-se de um organismo de vigilância orçamental, foi criado precisamente para assegurar a sustentabilidade da política orçamental e promover a sua transparência. Por isso, e no pleno exercício das suas funções, Teodora Cardoso avisou que o défice estava a ser controlado com medidas temporárias, insustentáveis no médio prazo, admitindo que, até certo ponto, tinha sido um milagre o valor obtido. A reação que surgiu na atual maioria só faz lembrar a vingança de Apolo sobre Cassandra. O Presidente Marcelo qualificou prontamente essa opinião como heresia, lembrando que, de acordo com a doutrina autorizada, milagres só em Fátima. Francisco Louçã, mostrando o acerto de ter sido convidado para o Banco de Portugal, acusou a doutrina de Teodora de ser pretensamente “científica” e o seu Conselho de ser “inútil”, já que “só faz previsões e são todas erradas”. Não querendo ficar atrás, o comunista Manuel Tiago veio dizer que “milagre é Teodora ainda ter salário e emprego”. E agora a geringonça ameaça destruir o Conselho de Finanças Públicas, sendo a única divergência entre os partidos que a compõem que o PS fala pudicamente em “rever o modelo” enquanto BE e PCP assumem frontalmente que querem “acabar com ele”.

É, de facto, muito grave aquilo a que se está presentemente a assistir em Portugal.