McMaster, o dissidente?

McMaster, o dissidente?


O novo conselheiro de Donald Trump para a Segurança Nacional não acredita que os Estados Unidos estão em guerra com o islão e quer travar a influência russa. 


O novo conselheiro americano para os assuntos de Segurança Nacional pode vir a revelar-se um importante dissidente da doutrina dominante da Casa Branca de Donald Trump, que, influenciado pelo seu círculo íntimo, defende a reaproximação diplomática à Rússia e uma abordagem militarista no combate a grupos terroristas no Médio Oriente.

Herbert McMaster, general que participou nas invasões americanas do Afeganistão e Iraque e assistiu de perto à radicalização das populações sunitas que abriu portas ao Estado Islâmico, substituirá o polémico Michael Flynn, um recordista do mandato mais curto num alto-cargo do Governo americano, afastado há duas semanas da equipa de Donald Trump, ao fim de apenas 24 dias, ao revelarem-se provas de que mentira ao vice-Presidente e público americano sobre um telefonema que teve com o embaixador russo, em que sugeriu que as sanções americanas podiam ser reduzidas em breve, mesmo que, por esses dias de dezembro, Donald Trump ainda não fosse Presidente – fazer diplomacia sem autorização é crime.

Meios conservadores e liberais aplaudiram em uníssono a nomeação de McMaster, que se aproxima mais do pensamento tradicional de política externa americana do que os influentes Steve Bannon e Stephen Miller, os dois grandes ideólogos da política nacionalista de Trump e os representantes da linha de pensamento segundo a qual os Estados Unidos estão em guerra com o islão – exatamente a perspetiva do antecessor de McMaster, que escreveu um livro sobre o assunto. O novo conselheiro para a Segurança Nacional, pelo contrário, insiste em dizer que as insurgências armadas são «80% políticas» – nas suas palavras à New Yorker – e que muitas ações militares americanas no Iraque nasceram de «um entendimento impróprio dos motores tribais, étnicos e religiosos que alimentavam o conflito», o que «exacerbou receios ou o sentido de honra das populações, de tal forma que fortaleceram as insurgências».

Neste ponto, McMaster não podia estar mais distante da doutrina dominante da Casa Branca, que acredita que grupos extremistas como o Estado Islâmico devem ser combatidos com mais violência e pouca ou nenhuma diplomacia local. Mas não é este o único tema de contenção com o círculo dos preferidos de Trump: McMaster é um acérrimo defensor da NATO e acredita também que a Rússia está a tentar denegrir a ordem internacional do Pós-Guera-Fria e que Washington não o deve permitir, tal como o secretário da Defesa, Jim Mattis, e o presidente do Comando Conjunto das Forças Armadas, em condições de se transformarem numa espécie de frente comum.

Resta saber, no entanto, se a McMaster será dada a liberdade para ser uma voz dissidente. A Casa Branca assegura que o novo conselheiro terá toda a margem de manobra para construir a sua equipa, algo que terá assustado o anterior candidato ao cargo, Robert Harward, que em privado disse estar preocupado com constrangimentos e o caos na equipa de Trump. McMaster, porém, é um general no ativo e está sob ordens do Presidente, o que significa que, mesmo querendo, não podia recusar o cargo, como explicava esta semana a correspondente da CNN para o Pentágono, Barbara Starr.