Este facto poderia motivar diferentes reflexões. Poder-se-ia escrever sobre quão absurdo é tomar-se como válido o recenseamento de um bairro clandestino realizado há 24 anos. Poder-se-ia escrever sobre quão violento é o ato de demolição de uma casa deixando famílias sem alternativa e quão canalha é deixar os escombros para que adultos e crianças que permaneçam no bairro sintam a sua vulnerabilidade e se degradem as condições de higiene e salubridade em que vivem.
Poder-se-ia escrever sobre a utilização dos meios de um município para espalhar meias verdades e mentiras sobre cidadãos, expondo na praça pública as suas vidas. Poder-se-ia escrever sobre as declarações do presidente do IHRU (instituto público a quem cumpre tratar das questões da habitação/realojamento) escusando-se a assumir o seu papel neste processo.
Mas este escrito não desenvolve nenhum destes temas. Estamos a poucos meses das eleições autárquicas e tudo o que se faz em qualquer município é, naturalmente, medido e ponderado pelo seu impacto eleitoral. Tal como não tenho dúvidas de que estes despejos e demolições o terão sido, também não tenho dúvidas de que Carla Tavares e o PS da Amadora estarão convencidos de que esta ação lhes trará votos – no que temo que tenham razão. Este texto é para os cidadãos eleitores.
Não nos serve de nada discursos morais inflamados anti-Trump quando num qualquer concelho deste país há alguém que ordena a demolição de casas deixando pessoas sem alternativa habitacional e esse ato lhe confere uma aura de rigor e autoridade valorizada pelos eleitores.
Quem votar em Carla Tavares não estará a votar PS. Estará a caucionar uma ação autoritária e desumana que os fiéis de Trump não enjeitariam. Espero que cada eleitor da Amadora o entenda e que possa dar uma lição de direitos humanos despejando este executivo do município.