Portugueses e comunistas


Os cidadãos sabem, por experiência vivida,que se pode contar com os comunistas


Em Almada, “la nave va”. Vermelha. Bandeira de ganga e traço, gente feita de ânsia que só tem o limite do sonho. Gente de aço nos pulsos. Gente de palavra em punho, que não se mascara nem pede perdão. Patriotas na terra que treme.

Se a algum dos 90 delegados presentes no primeiro congresso do Partido Comunista, realizado em Lisboa em 1923, lhes dissessem que, 93 anos depois, gerações herdeiras do evento ali realizado iriam a participar em 2016 no xx congresso do partido, seguramente sorririam complacentes.

E sorrir não seria mau. Após o fim da i Guerra Mundial, viviam-se em Portugal tempos muito duros.

De modo diverso do que ocorrera na generalidade dos países europeus, o Partido Comunista Português não se formou a partir de uma cisão no Partido Socialista, mas ergueu-se essencialmente com militantes saídos das fileiras do sindicalismo revolucionário e do anarcossindicalismo.

A 6 de março de 1921, no 1.o andar do número 225 da Rua da Madalena, na sede da Associação dos Empregados de Escritório, em Lisboa, realiza-se a assembleia que elege a direção do PCP. Estava fundado o Partido Comunista Português.

A 28 de maio de 1926, um golpe militar encabeçado pelo general Gomes da Costa impõe a ditadura. É dissolvido o parlamento e imposta a censura, são presos centenas de democratas e sindicalistas, a sede do PCP é encerrada. É o inicio de 48 anos de fascismo.

A história do PCP é uma história de dedicação de gerações e gerações de homens e mulheres de todas as condições sociais e formações que consagraram o melhor das suas vidas, das suas energias e capacidades à luta para pôr fim às desigualdades e injustiças sociais.

Por muito que custe a entender aos especialistas em cogitação ligeira e ressabiamento ancestral, ao longo de 95 anos, milhares de portugueses comunistas mostraram com o seu exemplo a força moral que ainda hoje projeta e escora a imagem e o ideal do PCP na opinião publica.

Numa autarquia ou sindicato, no local de trabalho ou em aliança política, a coragem na resistência ao fascismo transformou-se no testemunho da honestidade e competência em democracia. Com o PCP, palavra dada é compromisso de honra para cumprir, não existem surpresas ou dúvidas de percurso.

Os cidadãos sabem por experiência vivida que se pode contar com os comunistas e que, ao contrário dos grémios lobistas de barões, exploradores e especuladores, no PCP, os interesses de Portugal e dos portugueses são os que determinam a sua ação politica.

Isso foi particularmente evidente no apoio a Ramalho Eanes contra Soares Carneiro em 1980, e a Mário Soares em 1986 contra Freitas do Amaral. Se tal não tivesse acontecido, a história da nossa democracia teria sido muito diferente.

Um PCP presente, coerente, sempre na luta, a caminho de cumprir 100 anos a derrotar e a contrariar, de forma sistemática, os planos de exploradores e agiotas associados, é um fator de garantia na defesa da democracia e de esperança num futuro melhor.

Como percebo a angústia e o pesadelo insuportável que deve ser o não poder roubar sem travão, sem limite, ser dono disto tudo, sem que de imediato não lhes apareça um partido comunista português a impedir o saque.

Pois é, eu compreendo. É um aborrecimento! Aproveito as palavras de Jerónimo de Sousa no xx Congresso:

“Mas quem senão este Partido, que nunca teve uma vida fácil, que foi temperado em tantas e tantas lutas e que nunca desanimou perante recuos e derrotas, que nunca descansou face a avanços e vitórias, pode afirmar a sua confiança nos trabalhadores, no nosso povo, a sua confiança na nossa pátria soberana?

A concretização do fascinante projeto e objetivo por que lutamos, esse sonho milenar do ser humano de se libertar da exploração por outro homem, o projeto e ideal que nos trouxe a este Partido, possivelmente só será materializado para além das nossas vidas.

Mas este é o nosso tempo! Tempo de fazer, agir e lutar por esse projeto e ideal. Torná-lo mais próximo e possível.”

Nota: Este texto é dedicado às quatro seguintes categorias de personagens.

Ao que acumulou uma brilhante experiência comunista dos 12 aos 20 anos de idade e depois se mudou como especialista para o circo.

Aos que no fascismo foram presos e desabafaram aos senhores da PIDE tudo o que sabiam, inclusive delatando os seus camaradas, hoje são professores em PCP. Ao Milhazes, que era para ser missionário no Maranhão. E ao atormentado António Barreto, que quer ser missionário no Maranhão.