Messi. #NotevayasLeo (ainda é cedo)

Messi. #NotevayasLeo (ainda é cedo)


Messi falhou um dos penáltis e perdeu a quarta final com a Argentina, a terceira seguida. Derrotado, anunciou que não joga mais pela seleção. Será? Há petições a correr pela net e pedidos para que reconsidere. Tem apenas 29 anos e o Mundial da Rússia é daqui a dois anos


Jorge Horacio Messi tentou várias vezes convencer a federação argentina (AFA) a ver CD’s com jogadas do filho para os convencer que havia um miúdo que luzia nas camadas jovens do Barcelona e maravilhava a Espanha ao ponto de esta o querer naturalizar para o levar para as seleções inferiores espanholas. Leo chegou com 11 anos ao Barça. Quiseram mostrar-lhe que estava longe das suas origens, disseram-lhe que tudo era diferente, o país, o estilo de jogo, longe de ser sudaca (essa expressão depreciativa utilizada em Espanha quando se referem aos naturais da América do Sul) para que não usasse a camisola albiceleste. Não fez caso aos argumentos, defendeu estoicamente a sua posição argentina – pode não cantar o hino com a ferocidade dos jogadores de râguebi de Portugal, como foi acusado de falta de vontade ou de não saber a letra do “Ouvi, mortais!”, mas é um argentino de gema, na fala nota-se o sotaque rosarino, o seu ator favorito é Ricardo Darin e a comida preferida continua a ser as milanesas de tomate e queijo da sua mãe.

É esse argentino que hoje sofre, poucos dias depois de ter feito 29 anos. Messi está devastado pelo furacão das quatro finais perdidas com a Argentina – três seguidas, depois daquela Copa América em 2007 seguiram-se as duas finais da Copa América de 2015 e 2016 e a do Mundial do Brasil em 2014. Os títulos de campeão do mundo de sub-20 em´2005 e o ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 não chegam para atenuar esta dor. A derrota no domingo frente ao Chile, a segunda seguida perdida para os chilenos nos penáltis, enfatizada por uma das grandes penalidades falhada ser sua – o primeiro remate dos argentinos foi seu e nem sequer acertou na baliza.

“Para mim a seleção nacional acabou. Fiz tudo o que podia, dói não ser campeão”, soltou no final o argentino que voltou este ano a ser eleito o melhor do mundo, soma cinco Bolas de Ouro. Parece não ser suficiente, explicou ter pensado na decisão. “Pensei muito no balneário, a seleção terminou para mim. Lutei muito, tentei, são quatro finais e não consegui ganhar. Fiz todos os possíveis. Dói-me mais do que a qualquer outro, mas é claro que isto não é para mim”. Mais do que ninguém, acrescentou, queria vencer ele um título pela Argentina. Sente-o, na maneira como fala, que é uma espécie de maldição, logo a começar pelo penálti que falhou, foi ele a errar, deixou-o muito “triste”, em lágrimas, sobretudo porque o seu penálti daria vantagem à Argentina, depois de os chilenos terem falhado primeiro.

A Argentina rematou 16 vezes, o Chile quatro, os disparados à baliza chilena, três foram de Messi: o camisola 10 assistiu para cinco outras finalizações, o dobro das que fez nos quatro jogos anteriores. Com quatro assistências para golo, foi o melhor da prova – marcou cinco golos e com isso tornou-se o melhor marcador da história da Argentina, com 55 golos, ultrapassando Batistuta. Não é suficiente.

Com esta Copa América Centenario, a Argentina somou a sétima derrota consecutiva em finais. São já 23 anos sem ganhar títulos desde o triunfo continental no Equador em 1993.

No Barça é, juntamente com Iniesta, o futebolista com mais títulos: 28. Desses, só dois não foram na equipa catalã. Pode ser que Messi mude de ideias, não é velho e daqui a dois anos, com 31, tem o Mundial na Rússia. Seria melhor para todos, até porque nem o estádio de Nova Jersey é um palco digno da despedida de um dos maiores de sempre, nem os Estados Unidos são uma pátria futebolística e nem a Copa América é digna do adeus de Messi.

Lendas sem títulos nas seleções

Di Stéfano – Argentina (1947), Colômbia (1949), Espanha (1957-61)

Jogou em três campeonatos diferentes e foi sempre campeão: Argentina, Colômbia e Espanha. E representou também cada uma das respetivas seleções desses países. Aí teve menos sorte: jogou pouco pelos dois países da América do Sul e em Espanha teve poucos resultados.

Eusébio – Portugal 1961-1973

Um dos melhores jogadores portugueses de sempre deixou a seleção sem nenhum título: o melhor que conseguiu foi o terceiro lugar no Mundial 66. Aí, foi o melhor marcador, com 9 golos. É o quarto melhor de sempre, atrás só de Just Fontaine (13), Kocsis (11) e Muller (10).

Best – Irlanda do Norte 1964-1977

Best by name, best by nature. Um slogan que nunca conseguiu levar para a fraca seleção da Irlanda do Norte. Falhou as qualificações para os Mundiais de 66, 70 e 74. Ironicamente, na primeira tentativa de apuramento sem Best, os norte-irlandeses conseguiram um lugar no Espanha 82.

Cruyff – Holanda 1966-1977

Sai como o grande perdedor da seleção que ajudou a criar sob o nome de “Laranja Mecânica”. Perdeu a final de 1974, apesar do futebol total, e no Mundial de 78 recusou-se a jogar por problemas familiares. A Holanda perderia outra final, mas agora sem ele.

Zico – Brasil 1976-1989

Jogou dez anos pelo Brasil, marcou 66 golos em 89 jogos e é o segundo melhhor marcador de sempre, só atrás de Pelé. Só que ao contrário do “Rei”, que saiu com três títulos mundiais, Zico não tem nenhum. Perdeu com o belo Brasil de 82 e o romance não deu também em 1986.

Cantona – França 1987-1995

Ficou entre duas grandes gerações da França e foi líder de uma outra sem grandes nomes para além do seu. Ficou entre o Euro 84 e o Mundial de 98: ambos ganhos pela França sem ele. Foi uma estrela sozinha, sem companhia.

Baggio – Itália 1988-2004

Outro que ficou entre várias geraões douradas. No seu reinado não ganhou nada e foi seu o beijo da morte na final do Mundial 94: nos penáltis falhou a sua vez. Foi o mais perto que esteve de uma grande conquista com a squadra azzurra.