Este Charcutaria é o irmão mais novo do pequeno restaurante do mesmo nome que há mais de 20 anos nos tenta com as melhores empadas, pastéis de massa tenra, migas de batata e outras iguarias de toque alentejano no bairro lisboeta de Campo de Ourique.
Abriu há cerca de dois meses na Rua do Alecrim com duas filosofias diferentes para almoços e jantares: os primeiros pensados para serem mais em conta, se se optar por uma ementa definida que consta de entradas e um prato à escolha de peixe ou carne (cerca de 12,5 euros sem bebidas) e os segundos até onde a bolsa o permitir, mas situando-se num patamar confortável de 40 a 45 euros, se o cliente for moderadamente lambareiro e não estiver de dieta.
Convidaram-me para um almoço e foi-me servido praticamente um menu de degustação com várias entradas e um pouquinho de um prato de carne e peixe só para compor, e gostei. Repeti duas semanas depois, incógnito, com mais duas pessoas, não só para confirmar, mas porque queria voltar a repetir as migas de batata e ovo, que achei divinais, e voltei a ficar muito bem impressionado. No jantar, para além das entradas normais (torradas finíssimas de pão alentejano com boa manteiga e empadas de galinha), pediu-se também pastéis de massa tenra e migas de ovo e batata (13,50 euros). Para prato de peixe e a dividir pelos três, escolhemos uns filetes de garoupa (22,50 euros), de aroma e sabor delicadíssimo, e para a carne, depois de uma hesitação entre a posta de carne e a empada de perdiz, optou-se pela segunda (21,50 euros).
Com um vinho muito interessante, o Crasto Superior (26 euros), uma sobremesa (igualmente a dividir) e cafés, a conta rondou os 100 euros. Resta acrescentar que o serviço é excelente, simpático e competente, e não é preciso preocuparmo-nos em arrumar o carro. Um funcionário trata disso, o que não deixa de ser uma mais-valia numa zona onde o estacionamento não é fácil. É caro, é barato? Depende do ponto de vista. Pode ser algum dinheiro, mas até nem é caro dado o prazer que a excelente comida preparada por Manuel Martins, o proprietário do(s) Charcutaria, proporciona.
Origem Em 1947, o pai de Manuel Martins abriu uma loja em Campo de Ourique e foi daí que o então miúdo se habituou aos aromas e sabores dos produtos de alta qualidade que a loja vendia. A vida e os estudos na Universidade de Évora atiraram o jovem Manuel, aos 17 anos, para o Alentejo, onde tomou o gosto pelas iguarias daquela região. Com a morte do pai regressou a Lisboa e, em 1989, transformou o espaço da antiga mercearia fina ou charcutaria em restaurante, atirando-se a tachos e panelas para nos dar uma cozinha tradicional com toque alentejano, primorosamente elaborada e com um ar de modernidade que agrada a olhos e palatos.
Dado o sucesso, e como o espaço da Rua do Alecrim era seu, resolveu expandir-se, mantendo o ADN do pequeno restaurante de Campo de Ourique (que entretanto fechou para ir reabrir brevemente num espaço maior, numa esquina do Jardim da Parada, não muito longe do antigo), no cruzamento da Rua 4 de Infantaria com a Rua de Infantaria 16.
O novo espaço No Charcutaria Lisboa, a decoração é despojada, sóbria, e na sala do fundo há um varandim (que em tempo de chuva ou frio é fechado com vidros) que deixa entrar a fantástica luz de Lisboa. É a sala para fumadores. Há mais dois espaços, um deles igualmente bastante sóbrio; entrada com um balcão onde há bancos e onde se pode lanchar, comer um petisco e beber um copo descontraidamente; e o outro, um pouco mais intimista e recatado.
Ao fundo das escadas que conduzem à cave há uma garrafeira onde os vinhos são tratados com muita dignidade. A carta não é longa, mas está bem escolhida e, além de existir aconselhamento, a temperatura de serviço é absolutamente correcta. E, o que se saúda vivamente, também há vinho a copo. Este bom serviço não é de admirar, já que é João Paulo Victorino, uma espécie de zelador da casa, que toma as rédeas da causa, e é especialista na área e formador da Wine & Spirit Education Trust.