Antigo capitão inglês na 2.ª Guerra, num amplo raio de acção (França, Holanda, Bélgica e Alemanha), e ex-internacional inglês, com presença nos inesquecíveis 10-0 sobre Portugal no Jamor, em Maio de 1947, o durão Jimmy Hagan é um nome incontornável no Benfica. Aterra na Luz em 1970 e, em três anos, ganha outros tantos títulos de campeão, feito inédito no futebol português.
Com sorriso fechado e ar sisudo, Hagan celebriza-se também pela expressão “no comments”, que, afinal, define todo o seu carácter frio e distante. Tem ainda o hábito de treinar nos dias dos jogos e sempre “a doer”, com subidas e descidas constantes nas bancadas do estádio, em passo de corrida.
Estamos a 25 de Setembro de 1973, dia da festa de homenagem a Eusébio na Luz com uma equipa do resto do Mundo. Após uma época em cheio, com o tri sem qualquer derrota (28V, 2E), o Benfica anima-se a conquistar o tetra. Mas antes… É terça-feira de manhã, 25 de Setembro. Dia de festa para Eusébio e o Benfica, nunca para Jimmy Hagan – há treino (!), de voltas ao campo.
Fala Toni. “O Hagan pediu-nos para saltar os painéis de publicidade. Como não queríamos saltar todos uns em cima dos outros, o Hagan chateou-se e alegou que não fizemos o exercício correctamente. Não fomos convocados. Nessa noite, o sr. presidente Borges Coutinho falou com o treinador e ele lá nos colocou na lista dos convocados para a festa de despedida do Eusébio, cujos bilhetes foram vendidos pelos próprios jogadores do Benfica na Baixa e em outros pontos de Lisboa. No jogo, só entrámos na segunda parte. No dia seguinte, o Hagan pediu a demissão e o Borges Coutinho aceitou.”
E o que diz o capitão Humberto_Coelho?_“Aquilo foi no treino da manhã do jogo. O Estádio da Luz tinha uns megafones instalados atrás das balizas e tínhamos de os contornar, mas houve um grupo de 10/11 jogadores que foi por dentro. Nisso, o Hagan era tramado. E protestava “ééééééé”. Mas eram 10 ou 11! Quando chegou a convocatória, só eu e o Toni é que estávamos fora. Ficámos espantados e vimos a primeira parte na bancada. Ao intervalo, o Hagan foi-se embora e nós os dois fomos chamados ao relvado pelo presidente Borges Coutinho. No dia seguinte, o Hagan pediu a demissão e foi substituído pelo adjunto, o Fernando Cabrita.” Certo.
Hagan só voltaria a treinar em 1976, em Alvalade. Na estreia, 3-0 ao Benfica (Manuel Fernandes, Camilo e Baltasar) mas não ganharia nada pelo Sporting – só pelo Boavista, a Taça de Portugal-79 (vs. Sporting, 1-0).