Bárbara Guimarães.Crescer, viver, casar, divorciar-se ao vivo em directo e a cores


Com a década de 90 arrancam as televisões privadas em Portugal e é com elas que chega ao ecrã da TVI (na altura 4) uma novíssima pivot (de cara e nos seus 20 anos). Ao lado de Artur Albarran, Bárbara Guimarães apresentava diariamente o jornal da noite da recém-nascida estação televisiva. A própria tinha dificuldade…


Com a década de 90 arrancam as televisões privadas em Portugal e é com elas que chega ao ecrã da TVI (na altura 4) uma novíssima pivot (de cara e nos seus 20 anos). Ao lado de Artur Albarran, Bárbara Guimarães apresentava diariamente o jornal da noite da recém-nascida estação televisiva. A própria tinha dificuldade em acreditar no salto directo da formação em Jornalismo para o horário nobre da televisão.

“Tinha 20, 21 anos.” Bárbara não se cansa de o repetir quando fala, nas várias entrevistas que foi dando, sobre este período da vida, de que recorda um certo “grau de ingenuidade e de irresponsabilidade”. Foi descoberta num casting por Albarran, que lhe reconhece a “muito boa imagem, mesmo para a informação tinha uma imagem muito credível”, disse numa biografia no canal Bio em 2012.

Os dias da jovem jornalista passaram a dividir-se entre o trabalho de reportagem, a apresentação do telejornal e ainda um curso de formação de câmara, edição de imagem e realização no Cenjor. Deixou de haver tempo para as Relações Internacionais, curso que frequentava na Universidade Lusíada e que acabou por abandonar no terceiro ano. Mas a informação foi sol de pouca dura. Ao fim de três anos, Bárbara recebe a carteira profissional de jornalista e, curiosamente, no dia seguinte fecha este mesmo capítulo: sai para a SIC e para o entretenimento.

É a própria que o considera um “momento-chave” da sua carreira profissional. Em 1996 passa a ser a apresentadora do “Chuva de Estrelas”, um sucesso da SIC que já tinha lançado na ribalta nacional Catarina Furtado. A partir daí foram anos dedicados a programas de grande público (“Furor”, “Mundo Vip”, “Portugal Tem Talento”, “Família Superstar”).

As inúmeras capas na imprensa cor-de-rosa, o namoro (e depois o polémico casamento na República Dominicana) com outro apresentador de televisão, o próprio facto de ter sucedido num programa tão marcante (o “Chuva”) à “namoradinha de Portugal” faziam adivinhar um trilho que Bárbara Guimarães quis contrariar. Filha de um escultor e de uma professora da primária, já na TVI tinha proposto e apresentado um magazine cultural semanal (“Primeira Fila”) e, à medida que foi ganhando peso na SIC, tentou sempre manter em paralelo aos grandes formatos de entretenimento a que dava cara a apresentação de programas de nicho, como o “Sociedade das Belas Artes”, o “Oriente” ou o “Páginas Soltas”, todos transmitidos no mais reservado canal cabo, Sic-Notícias. Pelo meio, o “Duetos Imprevistos”, onde as histórias da música clássica eram desfiadas ao lado do maestro Vitorino d”Almeida, com Bárbara a assumir o papel de discípula cândida em matéria de grandes compositores clássicos.

Foi em trabalho que conheceu Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura entre 1995 e 2001. “Extraordinariamente profissional”, foi como a lembrou o socialista e filósofo nessa fase. Juntaram-se oficialmente em 2001, numa reunião de amigos mas sem casamento, já que nessa altura se descobriu um impedimento: Bárbara casara anos antes com Pedro Miguel Ramos, numa praia em Punta Cana. O casamento civil com Carrilho foi só em 2003, depois de concedido o divórcio por Pedro Miguel. Um ano depois tiveram o primeiro de dois filhos.

Surgiram como dupla na campanha autárquica de 2005 em que Carrilho defrontou Carmona Rodrigues. Bárbara foi uma espécie de atracção no terreno de campanha, multiplicaram- -se as imagens da vedeta da TV a distribuir sorrisos e flores ao lado do marido. Interrompeu até a carreira televisiva para se dedicar a um palco em que a estratégia passava claramente por fazer render em votos o capital de uma estrela de dimensão nacional. O momento mais alto foi o do famoso vídeo de campanha em que Bárbara surge com o filho – “diz “papá”, Dinis, “pa-pá””. Na política a parelha correu mal. Carrilho perdeu com estrondo as eleições. Mas a imagem pública do casal filósofo-político/estrela televisiva continuava imaculada. A dinâmica seguiu até 2013, quando rebentou a tempestade que escreve agora esta nova página da biografia da apresentadora. Nada comparada com o temporal que se abateu sobre Lubango, Angola, no dia do seu nascimento e que acabou por transformar uma Joana numa Bárbara. Rita Tavares