Por João Sena
Os principais pilotos e os carros mais sofisticados do Mundial estão presentes na 56.ª edição do Rali de Portugal. Estão garantidos três dias de luta intensa nas estradas de terra do centro e norte do país, onde vão estar milhares de adeptos, a maioria vai de véspera para garantir um lugar privilegiado para ver a banda passar… a alta velocidade. O rali continua a ser o maior evento desportivo que se realiza em Portugal. É uma festa popular que tem um papel fundamental na divulgação do país, e para o qual foram mobilizados cerca de 3 000 militares da Guarda Nacional Republicana, 550 marshals (comissários de segurança), diferentes meios da Proteção Civil e PSP e três helicópteros, entre muitos outros meios.
A Toyota, atual campeã do Mundo, aposta na rapidez de Kalle Rovanpera e Elfyn Evans para manter a senda vitoriosa do Yaris Rally 1 – ganhou três dos quatro ralis disputados este ano – ficando Takamoto Katusta com a obrigação de pontuar, a Hyundai alinha com Thierry Neuville, Esapekka Lappi e Dani Sordo ao volante dos i20 Rally 1, são três ‘setas’ apontadas à vitória, tal como os dois Ford Puma Rally 1 de Ott Tänak e Pierre-Louis Loubet.
Na primeira etapa os pilotos vão desbravar as florestais mais exigentes de um Portugal profundo que são a Lousã, Góis e a mítica Arganil, terminando o dia na Figueira da Foz. A etapa de sábado leva os concorrentes para o norte, com passagem por Vieira do Minho, Amarante, Felgueiras e Lousada, e será um dia de grande dureza para carros e pilotos. Por fim, o domingo é dia de romaria às classificativas de Paredes, Cabeceiras de Basto e Fafe, que tem os saltos mais famosos do mundo.
Os melhores pilotos portugueses marcam presença na prova mais importante do ano. José Pedro Fontes, ex-campeão nacional de ralis e atual team manager da Sports & You, uma estrutura profissional que trabalha na área do Motorsport, vai tripular o Citroën C3 Rally 2, com as últimas especificações da Citroën Racing, e tem Inês Ponte como navegadora.
Rali duro e técnico
Profundo conhecer do Rali de Portugal, José Pedro Fontes falou-nos da edição de 2023 daquele que, em sua opinião, é «o melhor rali do mundo, já que tem excelentes classificativas e uma organização exemplar». Relativamente ao traçado, afirmou: «O primeiro dia é o mais complicado. Os troços são rápidos, duros e com muita pedra. Esta etapa pode causar problemas mecânicos ou furos e provocar diferenças muito grandes. Penso que ganhará o rali quem tiver menos problemas na primeira etapa», começou por nos dizer o piloto da Sports & You. Como há apenas uma assistência condicionada a meio do dia, os pilotos têm de fazer uma gestão cuidadosa do material e do desgaste do carro. Qualquer exagero ou erro pode comprometer a prova. «No segundo dia temos troços longos e muito técnicos e, no último dia de rali, encontramos classificativas rápidas e bastante espetaculares em termos de condução. Estas etapas são menos duras e a diferença far-se-á pelo andamento dos pilotos», afirmou.
Apenas a primeira etapa conta para o campeonato nacional de ralis, por isso o piloto vai adotar estratégias diferentes ao longo da prova. «A primeira etapa para os pilotos portugueses vai ser bastante dura porque arrancamos depois dos pilotos oficiais e encontramos o piso muito degradado e não estamos habituados a isso. Nas provas nacionais somos os primeiros a passar e as estradas estão em bom estado», disse o piloto, que vai ter uma abordagem mais cautelosa. «A principal prioridade é terminar a etapa e conseguir o maior número de pontos possíveis para o campeonato», depois o mind set muda para as etapas seguintes: «Não vamos estar a lutar pelos primeiros lugares da geral, mas queremos fazer uma boa figura perante os pilotos estrangeiros. Vou gerir o andamento de modo a minimizar os problemas no primeiro dia e conseguir a melhor pontuação para o campeonato, nos outros dias vou andar de forma mais despreocupada e correr mais riscos para tentar um ser o melhor piloto português» garantiu.
O piloto do Citroen C3 Rally 2 tem uma preferência pela classificativa de Fafe, com o famoso salto onde os pilotos voam mais de 40 metros!. «As características, a rapidez e o ambiente são únicos, por isso a zona de Fafe é considerada a catedral dos ralis», afirmou o experiente piloto. Mas não é o único a gostar deste troço, Sebastien Loeb (nove vezes campeão do mundo!) considerou-a a melhor classificativa do mundial.
O campeonato continua a ter apenas três marcas (Toyota, Hyundai e Ford), que alinham com os carros híbridos da categoria Rally 1. Na opinião do piloto, há outros caminhos a seguir para ter mais equipas oficiais: «O campeonato do mundo deve ter carros espetaculares para atrair público e líderes em tecnologia para respeitar o ambiente. O desafio está em criar um grande espetáculo reduzindo os custos para atrair novas marcas para os ralis. Na minha opinião, deve-se manter os carros de Rally 2 para os campeonatos nacionais e uma nova categoria mais económica para o Mundial».
A dureza do rali exige uma preparação cuidada dos pilotos. Entre treinos e prova, vai ser uma semana passada na estrada, de manhã à noite, como nos disse o ex-campeão nacional de ralis: «Esta é a altura do ano em que os pilotos devem estar melhor fisicamente. Nas semanas anteriores sou mais rigoroso no plano de preparação física. Os treinos são cansativos e quando chegamos ao rali já fizemos mais quilómetros e passámos mais horas ao volante do que numa prova do campeonato nacional. Quem tiver melhor fisicamente e a cabeça mais ‘fria’ vai decidir melhor», disse. Não é só a parte física que conta, a componente psicológica é muito importante num piloto. As últimas semanas foram extremamente difíceis para José Pedro Fontes devido à morte do seu amigo Craig Breen e a participação no Rali de Portugal é uma forma de o homenagear. O piloto irlandês estava a disputar o campeonato nacional de ralis integrado na estrutura da Sports & You (venceu o seu último rali em Portugal) e o acidente fatal abalou profundamente a equipa. «O Craig era um grande amigo de há longa data. A razão de fazer ralis com a nossa equipa deveu-se ao convite que recebeu da Hyundai e a amizade que tinha por nós. Há dez anos que queríamos fazer um programa juntos», referiu Fontes, que sublinhou: «Ajudou-me imenso, foi uma pessoa muito importante para a empresa, que ele carinhosamente chamava de ‘my family Sports & You’». O piloto contou como foi gerir a perda de um amigo e de um colega de profissão. «Foram sentimentos muito fortes, mas só tínhamos uma coisa a fazer que era continuar com o nosso projeto, tentar fazer as coisas bem feitas e ajudar os jovens pilotos. Era isso que o Craig queria que fizéssemos. Ele estará sempre connosco e nas nossas vitórias», concluiu.
De Portugal para o mundo
Sediada no norte do país, a Sports & You passou de uma equipa de corridas que venceu tudo o que havia para ganhar em Portugal (ralis, velocidade e todo-o-terreno) para uma empresa de Motorsport com dimensão internacional. «Em Portugal, somos responsáveis pela participação oficial da Citroën e Hyundai no nacional de ralis. Além das corridas, temos outras áreas transversais ao desporto automóvel. Somos o distribuidor ibérico da Stellantis Motorsport, temos a montagem dos Peugeot 208 Rally 4 que são distribuídos pela Peugeot Sport para todo mundo e organizamos cinco troféus de ralis», contou José Pedro Fontes, responsável da empresa, que referiu outra inovadora área de atividade. «Organizamos também campeonatos de Sim Racing em conjunto com a federação portuguesa. Esta é uma área bastante importante, pois há muita gente a ganhar o gosto pelas corridas através dos simuladores». A internacionalização da Sports & You permite-lhe atuar em vários cenários «temos o apoio oficial da Citroën para disputar o mundial de ralis na categoria WRC 2, representamos a marca francesa e a Hyundai no campeonato espanhol de ralis e somos campeões da Indonésia de ralis», disse José Pedro Fontes.