O futebol europeu vai mudar

O futebol europeu vai mudar


A UEFA respondeu ao desafio da Superliga com a nova Liga dos Campeões, que vai distribuir mais dinheiro pelos participantes na próxima época. Os clubes portugueses vão apostar tudo para ganhar este jackpot.  


Durante muitos anos a UEFA, entidade que representa as federações nacionais e organiza as competições na Europa, limitou-se a fazer cumprir os calendários, até que surgiu a ameaça da Superliga europeia, uma competição que pode ser vista como concorrente direta da Liga dos Campeões tal como existe atualmente. Para aumentar as preocupações da UEFA, o Tribunal de Justiça da União Europeia deliberou a favor dos promotores da Superliga e acabou com o monopólio das entidades que gerem o futebol, acusando-as de abuso de poder dominante: “As normas da FIFA e da UEFA sobre a aprovação de competições entre clubes, como a Superliga, são contrárias à legislação da União Europeia”. Com esta sentença  abre-se, em teoria, a possibilidade de haver uma nova competição internacional de clubes, com regras diferentes e dirigida pelos clubes participantes.

Aquela decisão causou grande agitação no mundo do futebol e fez soar os alarmes no seio da UEFA, que respondeu apresentando um novo modelo competitivo da liga milionária e uma revisão em alta dos prémios, há mais de 30 anos que não havia tamanha revolução no futebol do Velho Continente. Não se sabe o que vai acontecer, mas é expectável pensar que a UEFA e a A22 Sports Management, promotor da Superliga, estejam condenadas a entender-se e a cooperar de forma a encontrar um modelo que defenda o futebol e os interesses dos clubes. Os próximos capítulos são para seguir com muita atenção.

 

Liga milionária

A Liga dos Campeões 2024/25 vai ter um novo formato, que elimina a fase de grupos, mas aumenta significativamente os prémios a pagar aos clubes. Só de direitos televisivos da Liga dos Campeões, a UEFA espera receber 4,8 mil milhões de euros, um acréscimo de 33%, o que se justifica pelo aumento do número de jogos para 189 partidas contra as 125 deste ano – 144 são na primeira fase e as restantes 45 nos jogos a eliminar. Cerca de 2,5 mil milhões serão distribuídos pelos 36 clubes que participam na prova, o que representa um aumento de 500 milhões de euros. O prémio de participação aumenta de 550,5 milhões de euros para 678,5 milhões, a valorização dos resultados (vitórias, empate e apuramento para a fase seguinte) aumenta de 600,6 milhões de euros para 927,3 milhões. O market pool e o coeficiente UEFA baixa de 900,9 milhões de euros para 863,6 milhões, o que significa que é mais premiado o desempenho desportivo do que o histórico de cada clube. Contas redondas, o(s) representante(s) de Portugal pode receber cerca de 100 milhões de euros com a participação na maior prova de clubes do mundo.

As 36 equipas (contra 32 atuais) são selecionadas tendo em conta o mérito desportivo, e vão estar divididas em quatro grupos de nove equipas. O critério de seleção continua a favorecer os campeonatos mais importantes, caso da Inglaterra, que coloca diretamente cinco representantes na fase de grupos, seguida pela Alemanha, Itália e Espanha, com quatro equipas, da França, com duas, Países Baixos com duas vagas e Portugal, Bélgica, Escócia e Áustria com uma equipa.

A primeira fase é disputada numa espécie de liga, significa isto que deixam de defrontar três adversários duas vezes (em casa e fora) e jogam contra oito adversários diferentes (quatro em casa e quatro fora), sendo que cada equipa vai defrontar duas equipas dos outros grupos, esses adversários serão conhecidos por sorteio. Haverá uma classificação do 1.º ao 36.º lugar, e as oito melhores equipas qualificam-se para os oitavos de final; as que terminarem entre o 9.º e o 24.º lugares vão disputar um playoff a eliminar para saber quem também segue para os oitavos de final da competição. As equipas que terminarem abaixo do 25.º lugar, inclusive, serão eliminadas e não passam à Liga Europa. Este novo formato dá aos clubes a oportunidade de jogarem com um leque mais vasto de adversários e aumenta a probabilidade de os adeptos verem jogar as equipas de topo. A partir dos oitavos de final, entra-se na fase de eliminatórias até à final, que será disputada em Munique, a 31 de maio de 2025.

A Liga Europa e a Liga Conferência vão ter igualmente 36 equipas e vão ser disputadas no mesmo formato da Liga dos Campeões, ou seja, acabou-se a fase de grupos e as equipas vão ter oito jogos no sistema todos contra todos. Os jogos da Liga dos Campeões e da Liga Europa serão disputados entre setembro deste ano e janeiro de 2025, enquanto os jogos da Liga Conferência serão disputados entre setembro e dezembro.

 

Superliga 

A competição apresentada pela A22 Sports Management em abril de 2021 ganhou nova vida com a deliberação do Tribunal de Justiça Europeu. A mais recente versão perdeu a exclusividade inicial e aposta na meritocracia dos clubes, indo assim ao encontro da vontade dos clubes, associações e adeptos. Contudo, isso não significa que a Superliga venha a ser uma realidade, até porque a maioria dos 12 clubes que apoiaram o projeto em 2021 renegaram-no três anos depois. A isso não será estranho o facto de a FIFA ter aliciado os clubes com o “rebuçado” chamado Campeonato do Mundo de clubes e com chorudos prémios de participação. Neste momento, só Real Madrid, Barcelona e Nápoles defendem a Superliga, e o presidente dos “merengues” é o dirigente mais ativo e interessado neste projeto.

O novo formato da Superliga compreende três divisões: Blue (32 equipas), Star (16 equipas) e Gold (16 equipas) e 64 equipas divididas em oito grupos de quatro, com subidas e descidas. Cada participante realiza 14 jogos (sete em casa e sete fora) a meio da semana, com a promessa de haver uma plataforma de streaming grátis a transmitir as partidas.

O responsável da A22 Sports Management já falou com 50 clubes e garantiu que iria distribuir na primeira temporada 3,5 mil milhões de euros por todos os participantes, e que estão garantidas as receitas para os primeiros três anos da competição. As regras financeiras são apertadas e há um controlo sobre a forma como os clubes gastam o dinheiro para garantir a sustentabilidade económica do futebol.

Neste momento, são mais as dúvidas do que as certezas quanto à concretização do projeto. Primeiro, porque as cinco principais ligas europeias (Premier League, Bundesliga, La Liga, Serie A e Ligue 1) manifestaram-se contra, no que foram acompanhadas por clubes como o Arsenal, Chelsea, Tottenham, Liverpool, Manchester City e United e Atlético de Madrid, que trocaram de lado, mas também pelo Bayern de Munique e PSG. Depois, a Associação Europeia de Clubes (ECA), que representa cerca de 500 emblemas, mostrou-se, para já, contra a criação da Superliga. Por fim, a opinião pública, leia-se adeptos, reprovou a competição por considerar que é uma liga elitista.

Em Portugal, coisa rara, os principais clubes estão em sintonia. O Benfica fez saber que “a Superliga europeia continua a não ser uma prioridade ou alternativa», o Sporting defende “a existência de ligas domésticas e um modelo de competições europeias democrático, alicerçado em critérios de transparência e meritocracia» e o FC Porto FC fez saber que “está disponível para, ao lado da UEFA, e em sintonia com a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga de Clubes, contribuir para potenciar as competições e reafirmar os valores do futebol europeu”.