Miguel, Vítor e Paulo. Eles vão despir para correr por uma causa


Ninguém está imune à dor de perder um amigo, não há forma de o suavizar, e Paulo Mendes emociona-se ao lembrá-lo. Ao longo de dois anos, acompanhou a doença do amigo Paulo Duarte, seu colega de gabinete na administração do Banco Carregosa, instituição de crédito sediada no Porto. “Éramos amigos desde miúdos. Fui aprender a…


Ninguém está imune à dor de perder um amigo, não há forma de o suavizar, e Paulo Mendes emociona-se ao lembrá-lo. Ao longo de dois anos, acompanhou a doença do amigo Paulo Duarte, seu colega de gabinete na administração do Banco Carregosa, instituição de crédito sediada no Porto. “Éramos amigos desde miúdos. Fui aprender a casar no casamento dele e depois ele veio ao meu. Fui aos baptizados dos filhos dele e ele aos dos meus.” No ano passado, quando Paulo começava a processar a partida do amigo e de outros dois colegas em poucos meses, o escritório foi de novo a baixo. Dalila, responsável pela comunicação, fora diagnosticada com cancro da mama e ia ser operada. “Quando soube da Dalila pensei que tinha de fazer alguma coisa e surgiu a hipótese de uma angariação de fundos”, conta Paulo Mendes, de 49 anos. Depressa cruzou as ideias. Amante de desporto, há cinco anos que faz parte de um grupo de corredores dinamizado no Porto pelo médico Paulo Brandão, o coacher de serviço. Lançou o desafio e mobilizaram uma equipa que no dia 22 de Março fará a maratona de Roma com uma causa. Como outros eventos desportivos, a organização da maior maratona italiana incentiva a participação de corredores que pretendam angariar fundos para organizações sem fins lucrativos através de preços especiais e divulgação das causas. No caso da equipa portuguesa, a escolha foi natural: por intermédio de Dalila, conheceram um centro de apoio de doentes de cancro da mama que funciona na Baixa do Porto, o Mama Help. A organização sem fins lucrativos fundada pela médica Maria João Cardoso – da equipa clínica da Fundação Champalimaud e do Hospital da Trindade – abriu em 2011 e quer expandir-se para Lisboa, pelo que a ajuda é mais que bem-vinda.

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“Em dois anos tivemos 12 casos de cancro no banco, uma instituição com 70 pessoas. É muito duro, por isso foi fácil mobilizar muitas pessoas”, diz Paulo Mendes. Tiveram apoio do banco desde a primeira hora, mas também de outros amigos, e assim se explica que sejam sete a correr em Roma. Além do administrador, a equipa inclui o director financeiro do Banco Carregosa, Miguel Salazar, o amigo e administrador da Transdev Vítor Cardoso, os médicos Paulo Brandão e Joaquim Paquete, o estudante e namorado da filha do coacher, Francisco Silva, e Romas Viesulas, captador de investimentos. Abriram uma conta solidária (NIB no Facebook do Banco Carregosa) e tudo o que angariarem será doado ao Mama Help.
Apesar de ser a primeira vez que correm por uma causa, há alguns anos que os economistas que lideram a equipa ganharam o gosto a despir fato e a tirar a gravata para correr pelas ruas do Porto. Nos últimos meses só tiveram de tornar os treinos um pouco mais intensos, ainda que não tanto como mandam as cartilhas dos maratonistas, admitem, já que o trabalho só lhes deixa tempo para duas corridas semanais, sempre à sexta ao fim do dia e ao domingo de manhã. Apesar de relativamente novatos, para Paulo e Vítor já não será a primeira maratona. Com tempos acima de cinco horas nas primeiras tentativas, em Milão e Praga, gostavam de bater os recordes pessoais em Roma. Mas se isso é a ambição de qualquer corredor, o convívio e o prazer de cruzar a meta, desta vez com um fôlego especial, são prémio que baste para quem corre na desportiva, geralmente celebrado com uns “brufens para as dores”, brinca Vítor Cardoso. Os treinos são em si mesmos bons investimentos, garantem, já que lhes permitem estar em forma mas também descomprimir do stresse do trabalho na área financeira. Mas Paulo Mendes acredita que este gesto simbólico do Banco Carregosa e amigos também pode ser o contributo para uma era de melhores notícias na banca, pelo menos de que há razão para confiar numa ética diferente. “Ninguém anda no mundo sozinho. Todos precisamos uns dos outros”, resume. Já têm uma lista de 170 maratonas para correr no futuro, quem sabe por outras causas. Com a motivação em alta, falta nome para o grupo. Têm pensado em “quilómetro zero”, uma graça com o marco junto ao Castelo do Queijo em que iniciam os treinos na pista da marginal do Porto.

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É na realidade o quilómetro 1, mas como fica perto da casa do coacher têm desconto.

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Apesar do hábito, ultimamente têm variado o percurso. Um treino curto que experimentaram nos últimos tempos liga a sede do banco às instalações do Mama Help, 3 quilómetros de boa vontade. Uma vitória já há: Dalila fez esta semana o último tratamento de radioterapia. E não poupa elogios aos corredores. “Uma vez ia para Lisboa e o Paulo Mendes olhou para os pneus do meu carro e não me deixou sair. Foi-me mudar os pneus! Não há mais nenhum administrador de um banco que faça isto por um funcionário.”