A visita do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês às Ilhas Salomão poderia passar despercebida. Mas este pequeno país-arquipélago, com pouco mais de 600 mil habitantes, virou um foco da disputa pelo Pacífico, deixando os Estados Unidos e os seus aliados furiosos com o acordo de segurança celebrado entre as Ilhas Salomão e a China, temendo que esta instale uma base naval no arquipélago.
“O meu Governo dá as boas-vindas a todas as visitas de alto nível dos nossos principais parceiros de desenvolvimento”, declarou o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, esta segunda-feira, saudando o anuncio da visita do ministro chinês, Wang Yi, programada para esta semana.
“Permaneceremos sempre fiéis à nossa política, amigos de todos, inimigos de ninguém”, frisou Manasseh, que nos últimos meses recebeu diversos dirigentes americanos e australianos, tentando dissuadi-lo de se aproximar de Pequim.
O anúncio de que a visita de Yi serviria para “assinar uma série de acordos bilaterais”, nas palavras do embaixador chinês em Honiara, Li Ming, certamente deixará Washington e Camberra com os nervos à flor da pele, temendo que a marinha chinesa obtenha um porto seguro a uns meros dois mil quilómetros da Austrália, que está entre os mais ferozes críticos da China no palco internacional. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, chegou a ameaçar que uma base chinesa nas Ilhas Salomão seriam uma “linha vermelha”, sem especificar como concretizaria a ameaça.
“A China deu um golpe de mestre enquanto o mundo olhava para Taiwan”, alertara Peter Hartcher, jornalista do Sydney Morning Herald, em abril, quando se soube do acordo entre Honiara e Pequim. Na imprensa australiana, chegou-se ao ponto de traçar paralelos com a construção de uma base aérea japonesa em Guadalcanal, a principal ilha do arquipélago de Salomão, durante a II Guerra Mundial. “Um ataque a Taiwan seria violento e óbvio. Assinar um acordo com as Ilhas Salomão foi obscuro e sem derramamento de sangue. A maior parte do mundo nem faz ideia que aconteceu”, continuou Hartcher.
Mesmo o resto do périplo de Yi no Pacífico certamente que não deixa contente nem os EUA nem a Austrália. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês planeia visitar as Fiji e a Papua Nova Guiné, estando por confirmar que passe por Vanuatu, Samoa, Tonga e Kiribati.
“Agora há um maior reconhecimento que a China está a aumentar o seu envolvimento no Pacífico”, comentou Anna Powles, professora de estudos da segurança na universidade de Massey, na Nova Zelândia, em declarações ao Guardian. Frisando que Washington, Camberra e Wellington “estarão a observar de perto” os encontros de Yi.