Pacquiao. Pugilista, político e polémico

Pacquiao. Pugilista, político e polémico


Aos 43 anos voltou aos ringues, mas foi derrotado pelo cubano Ugas. Mas a par das vitórias desportistas, Pac-Man como também é conhecido, ganha na política.


Aos 43 anos, Manny Pacquiao voltou aos ringues depois de um longo período de ausência. O cubano Yordenis Ugas levou a melhor e o desfecho não foi certamente aquele que o campeão do mundo em oito categorias diferentes e depois de ter conquistado ao todo 11 títulos mundiais esperava. Será este o seu último combate? O pugilista não se quis comprometer. “Não sei. Deixem-me descansar primeiro”, disse, no final do combate em Las Vegas. 

Apesar da derrota, a carreira de Pac-Man – como também é conhecido – é feita de conquistas e de algumas derrotas. Em 2015 foi um dos protagonistas da chamada Luta do Século: ou simplesmente Mayweather x Pacquiao. O primeiro saiu vitorioso. 

Mas aos 40 anos sagrou-se campeão do mundo de peso médio da WBA (Associação Mundial de Boxe) por decisão dividida dos jurados, vencendo assim o norte-americano Keith Thurman, dez anos mais novo.

Mas o filipino é mais do que um pugilista. Em 2007, candidatou-se pela primeira vez à Câmara dos Representantes das Filipinas. Perdeu, numa derrota eleitoral que foi explicada com o facto de a população “não o querer perder enquanto ícone desportivo”, mas não desistiu.

Em 2010 voltou a tentar e conseguiu e seis anos depois anunciou que iria abandonar a sua carreira, após um combate com Timothy Bradley para se dedicar a uma carreira política. Candidatou-se ao Senado e durante a campanha fez duras críticas à homossexualidade ao afirmar que eram “piores que animais”. 

Numa entrevista ao canal filipino TV5, Pacquiao não se poupou nas palavras. “É senso comum. Você já viu animais acasalar com animais do mesmo sexo? Os animais são melhores, porque eles são diferentes entre homens e mulheres”.
Declarações que fizeram correr muita tinta e que levaram o pugilista a justificar essas declarações com a Bíblia. “Não estou a condenar ninguém, estou apenas a dizer a verdade que está na Bíblia”, acrescentando que preferia “obedecer aos comandos de Deus do que obedecer os desejos da carne”.

Acabou por ser “obrigado” a pedir desculpa depois da forte polémica. “Sinto muito por magoar as pessoas comparando-as com animais. Por favor, desculpem os que se sentiram ofendidos. Eu continuo a ser contra o casamento homossexual por causa do que a Bíblia diz, mas não estou a condenar os LGBT. Eu amo a todos com o amor de Deus. Deus os abençoe, rezo por vocês”. Pacquiao tornou-se evangélico em 2010, alegando ter sido escolhido para espalhar a mensagem de Cristo.

Acabou por conquistar 16 milhões de votos, tendo sido o sétimo candidato mais votado ao garantir uma das 12 vagas do senado do país. O Presidente eleito, na altura, Rodrigo Duterte chegou a afirmar que iria pedir ao Congresso para reintroduzir a pena de morte no país, que tinha sido revogada em 2006, recebendo o apoio de Pacquiao ao afirmar que estava a favor da medida em casos de crimes graves ou relacionados com as drogas. “Aos olhos de Deus, não é ilegal – afirmou. A medida acabou por não receber luz verde por parte do Senado. 

A par das batalhas políticas, o pugilista também arregaçou as mangas para combater a pandemia. Pacquiao – além de doar máscaras e pagar testes – surgiu várias vezes em público para alertar para a necessidade do combate à doença, garantindo que “não tem medo de morrer” a ajudar os filipinos. “Se és um líder, tens de liderar e mostrar às pessoas que estás ao lado delas. Não te podes esconder só porque tens medo. Cresci pobre e por isso sei o que as pessoas estão a sentir”, afirmou, ao Manila Bulletin.

Pacquiao é o quarto dos seis filhos de Rosalio e Dionisia, que viviam em situação de pobreza. Um cenário que se agravou quando o pai saiu de casa depois de uma separação. O pugilista tinha cerca de dez anos. 

Pelas mãos do tio com pouco mais de 12 anos entrou no mundo do boxe: além de assistir aos combates televisivos de Mike Tyson, o tio ofereceu-lhe umas luvas e tinha treinos contínuos. Na autobiografia Pacman: A Minha História de Esperança, Resiliência e Determinação de Nunca Dizer Nunca, publicada em 2010 admitiu que um combate “mudou a sua vida para sempre”: a derrota de Mike Tyson frente a James Douglas, em 1990. Soube, sem dúvidas, que iria lutar. Percebi nesse dia que os mais fracos podem, e muitas vezes conseguem, ganhar”, revelou. 

Tornou-se profissional em 1995, quando tinha 16 anos e, a partir daí, foi somando vitórias, tornando-se num dos atletas mais bem pagos do mundo.