Observar a natureza pode ser um ato que nos pacifica, espanta e transforma. Depois de atentarmos no seu comportamento, tudo muda, e se assim não for é porque não fomos inteligentes.
Desde tenra idade que nos ensinam acerca da transformação das larvas em borboletas. Recordo-me de o terem feito comigo e ainda hoje me deixo maravilhar pelo fenómeno da metamorfose.
Depois de a borboleta largar os seus ovos, é incrível que os embriões permaneçam inativos dentro destes, esperando condições favoráveis para se desenvolverem. As lagartas que deles saírem passam a focar-se em dois objetivos: sobreviver e devorar – vivem para comer, comem para viver, e para que não as comam, pouco podem fazer.
Aquelas que sobrevivem fazem o seu casulo e, dentro dele, dá-se a grande transformação.
A propósito destas, conta-se que certa vez um homem se sentou no seu jardim para observar uma borboleta que se esforçava por fazer com que o seu corpo passasse através do pequeno buraco do casulo. O homem, concluindo que não havia progresso algum, decidiu ajudar a borboleta. Foi buscar uma tesoura e alargou a passagem cortando o casulo. Depois disto, a borboleta saiu facilmente; porém, o seu corpo estava murcho e as asas estavam completamente frouxas. O homem continuou a observá-la, aguardando que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e se esticassem, para poder voar.
Não aconteceu. Na verdade, a borboleta rastejava e mantinha as asas encolhidas.
O que o homem não foi capaz de compreender foi que o buraco apertado do casulo e o esforço a que a borboleta estava obrigada eram necessários para que o fluido do corpo se espalhasse pelas asas de modo a fortalecê-las, preparando-as para voar.
Nos momentos de maior dificuldade, a humanidade deu à luz homens fortes e estes ajudaram a transformar o mundo num lugar mais fácil. Mas a história também nos revela que os momentos mais fáceis geraram homens mais fracos, acabando estes por transformar o mundo num lugar difícil.
Tudo é um ciclo, tudo se repete. É assim, sempre foi e sempre será. A incapacidade de entender a natureza e as suas circunstâncias prende-se com uma falta de conhecimento, uma ignorância que chega a ser sufocante. E se porventura a natureza nos impõe regras, talvez seja pelo desespero de chegar à ordem – ordem essa que pode transformar-se em caos.
“Voltámos ao ponto de partida”, disse o senhor primeiro ministro esta semana, ao anunciar o novo confinamento. É verdade, mas também é verdade que só um louco acreditaria que ao andar às voltas se pudesse chegar a um lugar diferente.
Enquanto estivermos fechados em casa, façamos como a lagarta que, depois de passar o seu tempo confinada, ao sair se revela uma linda borboleta. Assim se fará justiça à frase do Principezinho: “É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”.
Professor e investigador